Em vez de defender inocência de Lula, Singer cobra explicações do PT

"Num momento em que as explicações detalhadas, metódicas e exaustivas da defesa de Lula são uma demonstração clara de sua inocência e da injustiça de uma pena de 12 anos e um mês, a entrevista do antigo porta-voz André Singer só pode causar perplexidade", avalia o colunista do 247 Paulo Moreira Leite; "Após anos de investigação, está claro que a acusação não provou seu ponto e quem deve explicações e deve ser cobrado pelo que fez é a Lava Jato e o Judiciário"; lembrando que Singer diz que a Lava Jato "tem um lado faccioso mas também é republicana", PML conclui: "acho que entendi. É facciosa quando investiga o PT e republicana quando apura o PSDB" 

"Num momento em que as explicações detalhadas, metódicas e exaustivas da defesa de Lula são uma demonstração clara de sua inocência e da injustiça de uma pena de 12 anos e um mês, a entrevista do antigo porta-voz André Singer só pode causar perplexidade", avalia o colunista do 247 Paulo Moreira Leite; "Após anos de investigação, está claro que a acusação não provou seu ponto e quem deve explicações e deve ser cobrado pelo que fez é a Lava Jato e o Judiciário"; lembrando que Singer diz que a Lava Jato "tem um lado faccioso mas também é republicana", PML conclui: "acho que entendi. É facciosa quando investiga o PT e republicana quando apura o PSDB" 
"Num momento em que as explicações detalhadas, metódicas e exaustivas da defesa de Lula são uma demonstração clara de sua inocência e da injustiça de uma pena de 12 anos e um mês, a entrevista do antigo porta-voz André Singer só pode causar perplexidade", avalia o colunista do 247 Paulo Moreira Leite; "Após anos de investigação, está claro que a acusação não provou seu ponto e quem deve explicações e deve ser cobrado pelo que fez é a Lava Jato e o Judiciário"; lembrando que Singer diz que a Lava Jato "tem um lado faccioso mas também é republicana", PML conclui: "acho que entendi. É facciosa quando investiga o PT e republicana quando apura o PSDB"  (Foto: Paulo Moreira Leite)


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Lembrando que se trata de um  dos mais coerentes e importantes intelectuais de sua geração, com direito a coluna semanal na Folha de S. Paulo, sou obrigado a dizer que fiquei perplexo diante da entrevista de André Singer ao mesmo jornal (14/5/2018).

Quero debater a resposta de Singer à penúltima pergunta, quando o repórter Ricardo Baltazar questiona: "Não está faltando uma reflexão do PT sobre seu envolvimento com a corrupção?"

Singer, que foi porta-voz do governo Lula no primeiro mandato, é um dos formuladores do conceito "lulismo" e tem uma longa militância em movimentos de esquerda e no PT, concorda: "Essa é uma crítica que faço a todo o sistema partidário, especialmente aos três principais partidos, PT, PSDB e MDB. Nenhum deles respondeu a contento ao que foi levantado pela Lava Jato."

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Segundo Singer, a Operação "tem um lado faccioso mas é também republicana, e revelou ações que precisam ser esclarecidas". Um pouco adiante, Singer ressalva: "O PT e o PSDB fizeram alguns movimentos no sentido de reconhecer que houve problemas. Mas nenhum deles deu explicações suficientes".

Acho inacreditável. Numa homenagem a Gilmar Mendes, que acaba de dar um providencial habeas corpus ao tesoureiro tucano Paulo Preto, negado a seus eventuais equivalentes filiados ao Partido dos Trabalhadores, podemos deixar a cobrança ao PSDB de lado e priorizar a situação do PT.

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Não há dúvida de que em maio de 2018 o centro do debate sobre "corrupção" no partido concentra-se na condição de Lula, condenado a doze anos e um mês pela Lava Jato, aquela operação "que tem um lado faccioso mas também é republicana ", nas palavras de André Singer.

(Acho que entendi: é facciosa quando investiga o PT e republicana quando apura o PSDB). 

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Na urnas da campanha de 2018 vai se jogar a possibilidade de uma reconstrução da democracia após o golpe de abril de 2016. 

Houve uma época, na AP 470, e também no início da Lava Jato, na qual era necessário cobrar explicações dos petistas. Diante de uma avalanche de denúncias, e de um grande silêncio pelo lado acusado, era natural admitir que ninguém estava em entendendo nada.

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Em 2018, a vida seguiu seu curso, entre tumultos e poucos momentos de calmaria, mas chegou a uma fase conclusiva. Tanto as acusações como as respostas já constituem uma realidade concreta.  Existe a sentença de Sérgio Moro, referendada pelo TRF-4. E existem as alegações da defesa de Lula.

O que era teoria, literatura -- ou falácia, sem respeito sequer pelos princípios lógicos, na visão do professor de filosofia Euclides Mance -- deixou o plano das hipóteses e abstrações para se transformar em fatos que vão ter influencia na vida e no futuro de mais de 200 milhões de brasileiros. O debate não é mais acadêmico, tampouco pode ser colocado no plano da simples disputa ideológica.   

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Suas consequências não envolvem imagem das pessoas nem considerações sociológicas ou elaborações sobre a degeneração dos partidos políticos em nossa época. Envolvem fatos -- ou provas -- como se queira. Sua análise diz respeito a direitos previstos na Constituição, as garantias reservadas a todo brasileiro.

Para Lula, as consequências da Lava Jato implicam a possibilidade não só de ser excluído da campanha presidencial. Incluem passar anos na cadeia, quem sabe a vida toda -- considerando novos processos em investigação, pelos mesmos métodos empregados até aqui.

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É estranho falar em "explicações insuficientes".  Neste momento, as explicações que Lula tinha a oferecer se encontram em sua defesa, detalhada, metódica, exaustiva. Já a tese do Ministério Público, na denúncia. É ali, preto no branco, como se dizia no tempo dos jornais impressos.

Após anos de investigação é uma questão de honestidade concluir que a acusação não provou seu ponto. Não custa lembrar que grande parte da acusação foi transplantada de um inquérito do MP de São Paulo, cujo método, parcial, politizado artificialmente, sem respeito pelo princípio do procurador natural, foi condenado formalmente em reunião do Conselho Nacional do Ministério Público. Matéria prima da sentença da Lava Jato, todas acusações ali contidas foram foram arquivadas já na primeira instância, ainda em São Paulo. A excessão foram as denúncias contra Lula e Marisa, separadas e enviadas a Curitiba, onde tiveram o destino "faccioso mas também republicano" que era possível imaginar.

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Todos sabemos, hoje, que o triplex, que seria a "vantagem indevida" paga por uma empreiteira, nunca foi entregue a Lula.  As provas documentais sustentam que sempre pertenceu a OAS. Numa investigação que tinha como base denúncias sobre a Petrobras, o próprio  Sérgio Moro admitiu que não poderia estabelecer o nexo entre os contratos da empreiteira e o imóvel. Quanto às "reformas milionárias", canto de cisne de uma denuncia fragilizada, militantes do MTST se encarregaram de fazer um serviço que a mídia profissional jamais realizou -- produzir imagens reais do lugar, que mostraram um apartamento simples e até descuidado, sem um único sinal do luxo e extravagâncias que lhe foram atribuídos.  

A cobrança de explicações, hoje, é um anacronismo. Os fatos estão aí, em sua brutalidade, e escancaram a inocência de Lula. Um fato reconhecido, que está no centro do momento politico atual. 

Quem deve ser cobrado pelo que fez -- e deixou de fazer -- não é Lula nem o PT, mas a Lava Jato e o Judiciário.

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