Em primeiro lugar, Fora Temer
"É automático: vitória do governo golpista do Temer significa derrota da esquerda e da democracia", diz Emir Sader, ao comentar a eleição de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara dos Deputados; "A maioria parlamentar do golpismo tem sido o fator decisivo que tem feito avançar o golpe, mesmo sem argumento algum e agora também sem mobilizações populares a seu favor", diz ainda o colunista; "Se se for usar esse argumento – de que não se deve aliar com ninguém do PMDB –, não haveria nenhuma possibilidade de ampliar os votos no Senado e a decisão final ja estaria dada. Nem se levaria em conta que um dos maiores batalhadores contra o golpe, o senador Roberto Requião, é do PMDB, demonstrando que a linha demarcatória não é ser do PMDB ou não, mas ser a favor ou contra o golpe"
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As eleições para a presidência da Câmara provocaram certa confusão na esquerda, sobre quais os objetivos fundamentais neste momento de resistência ao golpe. Tanto assim que, tristemente, a esquerda se dividiu, lançou dois candidatos sem chances de chegar ao segundo turno, nem de unir a esquerda – do PC do B e do Psol –, enquanto outros setores, corretamente, concentravam seus votos em um candidato do PMDB que votou contra o impeachment. A divisão impediu que qualquer deles chegasse ao segundo turno, protagonizado por dois candidatos pro Temer, que saiu fortalecido. Foi uma derrota da esquerda, nas vésperas da decisão que vai dar um desfecho na prolongada e profunda crise brasileira.
É automático: vitória do governo golpista do Temer significa derrota da esquerda e da democracia. Mas setores da esquerda não compreenderam isso e se equivocaram, provocando a divisão da esquerda e facilitando a vitoria do governo e do golpe. Porque errou no primeiro turno, não se unindo em torno ao candidato anti-golpe que tinha mais possibilidades de chegar ao segundo turno, a esquerda preparou para si mesma a cilada de ter que escolher o “menos pior” entre os candidatos pro golpe, escolha impossível.
O objetivo fundamental hoje é enfraquecer, derrotar e derrubar o governo golpista do Temer. As atitudes puristas de que nao se poderia aliar a alguém do PMDB porque esse é o partido do golpe, não levam em conta que a fraqueza dentro do Parlamento obriga a uma flexibilidade nas alianças, senão a esquerda ficará com seus 100 votos, será derrotada sempre e seguirá avançando não apenas o golpe, mas a avalanche de expropriação dos direitos democráticos do povo. Tanto existem contradições dentro do PMDB, que foi escolhido um candidato que ficou fiel à Dilma e votou contra o impeachment. Esta é a linha divisória: quem está contra o golpe e quem está a favor. A esquerda jogou fora a possibilidade de romper seu isolamento, ampliar suas alianças e eventualmente derrotar o governo golpista na Câmara.
A maioria parlamentar do golpismo tem sido o fator decisivo que tem feito avançar o golpe, mesmo sem argumento algum e agora também sem mobilizações populares a seu favor. Sem quebrar isso, não se barrará o golpe. Se se for usar esse argumento – de que não se deve aliar com ninguém do PMDB –, não haveria nenhuma possibilidade de ampliar os votos no Senado e a decisão final ja estaria dada. Nem se levaria em conta que um dos maiores batalhadores contra o golpe – Roberto Requião – é do PMDB, demonstrando que a linha demarcatória não é ser do PMDB ou não, mas ser a favor ou contra o golpe.
Essa definição também é central para o comportamento da esquerda agora. É preciso ter sempre em mente que a questão decisiva da crise é que a esquerda – e nao apenas seus partidos e o governo, mas todos os movimentos sociais e forcas democráticas –, não tiveram capacidade de eleger um Congresso pelo menos similar ao anterior, apesar da maioria mantida nas eleições presidenciais, demonstrando que ha uma maioria progressista no pais, que aqueles forcas não souberam traduzir elegendo bancadas progressistas. Agora é preciso assumir isso e pagar o preço disso. O purismo é caminho de isolamento e de derrota. Se não se deveria votar num candidato pro golpe “menos pior”, se deveria ter aliado a um candidato do PMDB contra o golpe, senão a esquerda, sem querer, mas por falta de consciência plena da correlação de forcas realmente existente, acaba facilitando a consolidação do golpe, numa situação realmente muito grave, em que a inércia favorece o governo, que age com todos seus meios para se consolidar, conseguindo repetir os 2/3 no Senado.
Às vezes parece que o desabafo pessoal, o psicologismo, ocupam o lugar do raciocínio politico em setores da esquerda, que se preocupam em buscar culpados – e ninguém melhor do que o PT -, para descarregar suas energias. Foi o PT, o partido do Lula e o Lula, que permitiram os maiores avanços que o Brasil teve na sua historia. O PT é o partido do Lula, o maior patrimônio que a esquerda tem, o melhor e insubstituível apoio que a democracia tem para enfrentar o golpe, resgatar a democracia e retomar o caminho virtuoso que o Lula representa. O pior para a esquerda é se dividir em torno do que o PT representa. O problema da esquerda brasileira não é o PT e menos ainda o Lula. O Lula é caminho de solução. Quem não entendeu o porquê do Lula ter representando o governo mais importante da historia do Brasil, não está em condições de agir corretamente numa circunstancia como esta. Quem não decifra o enigma Lula – como foi o caso da direita e da ultra esquerda –, é devorado por ele.
Usar a crise para tirar uma lasquinha e projetar candidatura a prefeito é muito pequeno, é demonstrar que nao se está à altura da crise. A ultra esquerda precisa saber que muito mais do que o PT e seus erros, quem mais fracassou foi a ultra esquerda, que desde 2002 anunciou que o PT e o Lula tinham “traído”, seriam desmascarados pelo povo, derrotados, e a ultra esquerda os substituiria. Nada disso aconteceu. Não é hora de mencionar a quantidade de erros que a ultra esquerda cometeu. Mas ela segue reduzida a uma força intranscendente, sem conseguir construir nada, nem um governo municipal que fosse, sem romper seu isolamento do povo. Deveria então ser mais modesta, ajudar a construir a unidade da esquerda e não buscar protagonismo individual, com artigos pomposos e atitudes individualistas. Deveria deixar de lançar candidato próprio para tirar vantagens depois reclamar que a esquerda não se uniu, depois de contribuir para sua divisão. Erro em geral atribuído ao PT, cometido agora pela ultra esquerda.
Lutar contra o golpe é buscar a aliança com todas as forcas que se opõem a ele, independentemente de onde estejam, até independente da atitude que tomaram no passado, contanto que agora se somem às forcas que tratam de impedir o golpe. Senão não poderemos ter os votos que precisamos no Senado. Em um momento em que, infelizmente, a decisão da qual depende o futuro do Brasil por muito tempo, depende dessa votação no Senado. Se a esquerda não tiver a consciência de que deve se somar a todos os que tomem posição agora contra o golpe, não demonstrará que aprendeu de como o golpe foi forjado e não estará à altura do que a democracia precisa agora. Não adianta antecipar a lavagem de roupa suja, resignando-se à derrota com honra e buscar culpados. Se o golpe se consolidar, culpados seremos todos, e quem paga o preço mais caro é sempre o povo.
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