Em meio à CPI, Bolsonaro insiste em contaminar

"Embora não tenha alcançado sucesso total, atrasou o início da vacinação, cumprindo seu desejo delirante: infectar o maior número possível de brasileiros", escreve Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia. "Além de ser letal, a tese da imunidade de rebanho por contágio é inexequível", acrescenta

(Foto: Pedro França/Agência Senado | ABr)


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Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia

A rigor, nem precisaria haver CPI da Covid para demonstrar que o grande responsável pela disseminação do vírus no Brasil foi o governo federal e, mais precisamente, seu chefe, Jair Bolsonaro.

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Por meio de declarações e de atitudes ele sempre defendeu (e ainda defende), embora não explicite, a tese da imunidade de rebanho por contágio e não a da imunidade de rebanho por vacinação, como todos os outros governantes e países.

Além de não ter alertado os brasileiros uma vez sequer de que deveriam se proteger contra o vírus, ele sempre estimulou o contrário: disse que era uma chuva, todos iam pegar; que era uma gripezinha; que quem não se expunha era covarde; incentivou aglomerações, realizando-as ao menos uma vez por semana e afirmou que havia um remédio para quem se contaminasse: a cloroquina.

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Sempre foi (e continua sendo) contra o lockdown, alegadamente para que todos trabalhem, mas, por trás, disso, há evidente intenção de impedir a execução dessa medida que, comprovadamente, diminuiu a quantidade de contaminados, tanto na única cidade em que foi posto em prática no Brasil (Araraquara) quanto em todo o mundo.

Fazem parte do enredo suas decisões de demitir os dois ministros da Saúde que propunham medidas de proteção contra o vírus e a manutenção por tempo maior daquele (Pazuello) que aceitou seguir a sua bula.

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Por que ele fez e continua fazendo propaganda de um medicamento comprovadamente ineficaz contra o coronavírus?

Para que, em havendo um medicamento, as pessoas não se protegessem e, ao não se protegerem, contrairiam a doença.

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O outro motivo é que, sendo o medicamente ineficaz, os brasileiros, ao tomá-lo, continuariam se infectando.

A sua ofensiva contra as vacinas tem o mesmo objetivo: quanto menos vacina, mais gente infectada.

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No ano passado ele fez o que pôde para boicotá-las: não comprou as que havia no mercado sob pretexto de que não estavam aprovadas, que eram caras ou que os contratos de compra eram leoninos. E tentou impedir a compra da Coronavac ou por ser “do Doria” ou por ser chinesa. Pazuello foi na mesma onda: disse que as compraria “se houvesse demanda”.

Embora não tenha alcançado sucesso total, atrasou o início da vacinação, cumprindo seu desejo delirante: infectar o maior número possível de brasileiros.

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Fez, aparentemente, duas concessões, demitindo os ministros da Saúde e das Relações Exteriores, quando sua permanência se tornou insustentável, mas em pouco tempo todos viram que era só uma cortina de fumaça: ele continuou sendo o verdadeiro ministro da Saúde e das Relações Exteriores.

Prova disso é que, já que não conseguiu impedir a produção e compra de vacinas, agora atua para dificultar a vinda dos insumos, como ficou demonstrado nos recentes ataques à China.

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Quanto mais atrasarem os insumos, mais atrasada será a vacinação, e, por consequência, o número de infectados tende a aumentar.

Não há, portanto, horizonte de fim de pandemia enquanto sua política (também encampada por Queiroga que disse que quem orienta as ações é o presidente) persistir, e nada indica que ele irá abandoná-la.

Além de ser letal, a tese da imunidade de rebanho por contágio é inexequível: por mais que ele se empenhe, não é possível contaminar, em menos de dez ou vinte anos, 140 milhões de brasileiros, ou 70% da população.

Se isso viesse a acontecer, com base na proporção atual entre infectados e mortos (15 milhões para 400 mil), a tese da imunidade de rebanho por contágio ceifaria quase 4 milhões de vidas.

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