Elite da Paulista faz selfie com polícia que massacra pobres no Alemão
Para a imensa comunidade do Alemão, provavelmente muito mais numerosa que a do entorno da avenida Paulista, polícia é sinônimo de opressão, risco de vida, humilhação
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Terezinha de Jesus e o filho Eduardo, de 10 anos, estavam dentro da residência de ambos no morro do Alemão, no Rio de Janeiro, quando o garoto saiu de perto dela e foi para a porta da casa conversar com amigos. Naquele momento, a polícia invadia a comunidade atirando, supostamente para “reagir”, e uma das balas acertou a criança, que morreu na hora.
Desesperada, Terezinha saiu à rua a tempo de flagrar o autor do disparo. Olhou o assassino nos olhos e chamou a besta-fera de “covarde”. Nesse momento, foi ameaçada.
“Ele disse: já que matei o filho, posso matar a mãe também. Eu gritava que ele tinha acabado com a vida do meu filho e cheguei a agredi-lo. Eles atiraram menos de 10m e sabiam que era uma criança”, disse Terezinha chorando.
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José Maria Ferreira de Sousa, o pai de Eduardo, instantes depois também experimentou um pouco da “cortesia” da polícia militar, segundo relatou à imprensa:
– Quando fui socorrer meu filho, o PM falou que eu era vagabundo que nem ele. Falou que matou um vagabundo que era filho de um vagabundo.
A comunidade agredida pela polícia se revoltou e organizou um protesto, o mínimo que se poderia esperar. A morte do menino Eduardo foi uma ameaça a todas as crianças do Alemão.
Além de tirar a vida do garoto, a polícia não aceitou o protesto. Os manifestantes foram reprimidos com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha.
Retrocedamos algumas semanas no tempo. Agora estamos em 15 de março de 2015. O local é a avenida Paulista, em São Paulo. Ali, reuniu-se uma outra comunidade que, à diferença da que teve roubada a vida de um integrante de 10 anos de idade e que nem pôde reclamar, não tem queixas da polícia.
As razões para essa diferença de atitude dos cidadãos do morro do Alemão e dos que habitam o entorno da avenida Paulista em um raio de algumas dezenas de quilômetros não está só na diferença de cor da pele e nível de renda das duas comunidades, está na forma como a polícia atua nas duas regiões.
Ninguém jamais verá a polícia atirando a esmo na avenida Paulista ou no entorno. Os policiais destacados para atuar ali sabem muito bem como atuar. Mesmo diante da ocorrência de crimes, tomam todo cuidado possível mesmo se forem atacados a tiros; dificilmente revidariam atirando; tratariam de se proteger para evitar que a população local corra risco.
Para a imensa comunidade do Alemão, provavelmente muito mais numerosa que a do entorno da avenida Paulista, polícia é sinônimo de opressão, risco de vida, humilhação; para a comunidade do morro em quem se situa a mais paulista das avenidas, polícia é motivo de admiração, como se vê na avalanche de selfies com policiais em 15 de março.
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