Elevar o nível do debate
Atenção redobrada se faz mister na busca de identificar as táticas desenvolvidas pelos atores e ideologia neofascistas baseadas em operações de violência aberta
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No dia 14 de junho, a CPI do MST foi agraciada com a participação do primeiro convidado pela minoria governista naquele colegiado, o jurista, doutor em Direito, ex-reitor da UNB José Geraldo de Souza Junior que proferiu, na totalidade de reflexões e respostas aos deputados, verdadeira Aula Magna, consequência de um saber acumulado e de uma sensibilidade cultivada esplendidamente ao longo dos seus 76 anos de idade.
“A condição biológica não nos define. A gente se faz humano, pela capacidade de construir história e política, e não apenas por nossa biologia. Para tanto é necessário reconhecer os sujeitos que se movem e realizam nossos direitos. Só no processo político de emancipação que a cidadania se afirma”, expressou-se em um dos momentos da audiência.
Para isso é preciso desenvolver nossa capacidade de estar no mundo-com-o-outro, buscando uma troca contínua de experiências e visões a fim de superar os males oriundos das perversidades e desejos de manipulação de alguns em detrimento da grande maioria. Separar não apenas o joio do trigo, mas também os joios dos joios e os trigos dos trigos, para semear coletivamente por meio de atores coletivos a afirmação e a garantia dos direitos.
Neste sentido, todo o cuidado é pouco. Atenção redobrada se faz mister na busca de identificar as táticas desenvolvidas pelos atores e ideologia neofascistas baseadas em operações de violência aberta, por meio de armas e torturas, como também aquelas artimanhas ideológicas contidas sutilmente em discursos comunicativos ou propostas políticas de alteração de textos constitucionais que visam diminuir ou aniquilar direitos já adquiridos. Abrir os olhos para aquilo que as estatísticas recortadas e os discursos falaciosos ocultam.
Dois fatos importantes a destacar, citados pelo Magnifico Reitor. Primeiramente a referência a uma carta enviada pelo Papa Francisco ao Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), datada do dia 25 de julho de 2020, na qual Francisco manifesta sua alegria pelo “gesto bonito de distribuição de alimentos que as famílias da Reforma Agrária no Brasil estão realizando nestes tempos da Covid-19. Partilhar os produtos da terra para ajudar as famílias necessitadas das periferias das cidades é um sinal do Reino de Deus que gera solidariedade e comunhão fraterna”.
A outra referência feita pelo professor José Geraldo foi ao Pronera – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – que completa 25 anos de existência. Executado pelo Incra em parceria com instituições de ensino, governos estaduais e municipais, movimentos sociais e sindicais, a ação surgiu com a proposta de democratizar o acesso à educação pública de qualidade, nos vários níveis de ensino, para as populações do campo, da floresta e das águas. Um dos princípios político-pedagógicos do programa é a relação da educação e do desenvolvimento territorial como condição essencial para a qualificação do modo de vida dos assentados, utilizando metodologias voltadas para as especificidades do campo. Ao longo do tempo, cerca de 192 mil estudantes ingressaram em 531 cursos, em todos os estados brasileiros.
Momento mágico da audiência deu-se quando o Professor citou uma passagem do poeta mexicano Octavio Paz em sua obra “O Labirinto da Solidão”, para alicerçar sua resposta a uma deputada bolsonarista. Neste livro, Paz esforça-se para mergulhar na alma mexicana a fim de exprimir os sentidos de seu estar no mundo, invadido e colonizado pelo mundo espanhol cristão, buscando investigar as raízes mais profundas que fundaram a cultura mexicana, com suas potencialidades, debilidades e opressões. Um labirinto no qual é preciso caminhar de sentidos abertos e descolonizados para criar categorias capazes de interpretá-lo, entendê-lo e transformá-lo. Com essa esplêndida metáfora, o magnífico Reitor, didaticamente, esforçou-se, em sua pedagogia dialógica e amorosa, em apresentar para aquela deputada o labirinto em que nós brasileiros estamos aprisionados, depois destes anos de golpe e neofascismo bolsonarista. Para sair dele, somente com um espírito inteligente e sensível, capaz de realizar uma travessia coletiva transformadora do tempo presente visando materialização de novos direitos universais e inclusivos. E o MST é um desses sujeitos coletivos comprometidos com tal travessia.
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