Eletrobrás pagou R$ 400 milhões para lobista americana ligada ao Wilson Center
Muitos indícios me fazem acreditar que o Wilson Center foi um dos organizadores do golpe no Brasil
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(Essa foto é uma das minhas preferidas. Da esquerda para direita: Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute e comentarista da Globonews e CBN; Anthony Harrington, presidente do Brazil Institute, conselheiro da Albright Stonebridge e ex-senior da Hogan Lovells; Jane Harman, presidenta do Wilson Center e conselheira nos órgãos máximos dos serviços de inteligência dos EUA.; Sergio Moro, mercenário da Globo e agente norte-americano; o juiz Peter Jo Messitte, um medíocre sem biografia, que o Wilson Center contratou para participar de todos os seminários do Brazil Institute; é ele que fica repetindo elogios à “democracia” brasileira, especialmente ao judiciário; e… Joaquim Levy, o neoliberal que a Dilma, num surto de suicídio político, nomeou para o ministério da Fazenda. )
A reportagem da Época, reproduzida abaixo, que traz uma denúncia contra gastos excessivos da Eletrobrás, de mais de R$ 400 milhões, com uma firma norte-americana chamada Hogan Lovells, é superficial. Não fala o mais importante: a Hogan Lovells está listada como uma das principais firmas especializadas em lobby dos Estados Unidos, com muitos clientes nos setores de óleo e gás, mineração, energia, aviação.
Advogados da Lovells prestam serviços de advocacia e lobby, regularmente, para gigantes como Exxon Mobil, maior petroleira do mundo. A Lovells trabalha também para empresas que exploram energia nuclear, como a Lightbrige.
Entretanto, tem um ponto ainda mais interessante nessa história – e que também não foi abordado pela reportagem da Época: Anthony S. Harrington, presidente do Brasil Institute, um órgão pertencente ao Wilson Center, é ex-advogado sênior da Hogan Lovells. Sua filha, Michele S. Harrington, ainda trabalha lá.
Harrington, embaixador no Brasil de 1999 a 2001, é um destacado membro da comunidade de inteligência dos EUA, tendo sido conselheiro da Casa Branca nessa área. Essas informações estão no site do Wilson Center.
Hoje Harrington é presidente do Conselho de Administração da Albright Stonebridge, outra poderosa firma de lobby, especializada em “estratégias internacionais”. O slogan da empresa é “destravar mercados globais”. Em seu site, ela explica que uma de suas especialidades é fazer “negócios com governos estrangeiros”, e que, “em caso de procedimentos governamentais impróprios, ela pode ajudar a determinar o melhor curso de ação e perseguir os meios mais efetivos para corrigi-los”.
Uma reportagem do Huffting Post, de julho de 2016, mostra ainda os elos obscuros entre a Casa Branca, através da então secretária de Estado, Hillary Cllinton, e a Albright Stonebridge, no assunto… petróleo. Segundo o Huffting, a Stonebridge, que tem investimentos importantes em firmas que exploram o chamado “petróleo de xisto”, participou de um comitê do partido democrata que analisou impactos ambientais desse tipo de atividade.
A maioria dos diretores da Stonebridge exerceram cargos importantes na Casa Branca, incluindo nos setores de inteligência…
A Albright Stonebridge e a Hogan Lovells tem muitas ligações entre si. No próprio wikipédia, há a informação sobre a parceria entre as duas firmas. Vários de seus executivos trabalharam, ou ainda trabalham, nas duas.
Nós chamamos o Wilson Center aqui, no Cafezinho, de “think tank da CIA”, por suas relações com a comunidade de inteligência da Casa Branca, e por ser um think tank inteiramente controlado pelo governo americano, que paga suas contas, fornece-lhe a sede (no edifício Ronald Reagan), e indica seus diretores.
O Wilson Center tem organizado, desde o mensalão, seminários para discutir as operações judiciais em curso no Brasil, convidando ministros do STF, juízes de primeira instância (Sergio Moro, por exemplo), procuradores-gerais (Janot) e ministros da Justiça. A linha desses seminários sempre foi apoiar essas operações judiciais. Durante a operação Lava Jato, ocorreram vários seminários desse tipo no Wilson Center, nos quais os representantes do Wilson Center afirmavam que a democracia brasileira era um “modelo para o mundo”.
A Hogan Lovells foi contratada pela Eletrobrás para, entre outras coisas, investigar o nosso programa nuclear.
Por fim, olha que maravilha: segundo esta reportagem da CNN, o novo presidente dos EUA, Donald Trump, contratou o ex-procurador federal, Ty Cobb, como seu “conselheiro especial”. Cobb também é sócio da… Hogan Lovells.
Uma pesquisa rápida pelo banco de dados do Wikileaks mostra que a Lovells é uma das empresas de lobby mais próximas da Casa Branca e, especialmente, dos órgãos de inteligência do governo americano.
Abaixo, algumas imagens de autoridades que passaram pelo Wilson Center, recentemente.
Muitos indícios me fazem acreditar que o Wilson Center foi um dos organizadores do golpe no Brasil.
(Carmen Lucia, atual presidente, ao lado de Anthony Harrington, ex-Lovells).
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Na Época
Eletrobras contratou investigadores americanos por R$ 400 milhões para apurar corrupção
Quem investiga o investigador? Estatal gasta milhões para rastrear prejuízos com irregularidades e busca serviços até de empresa usada para fustigar a Lava Jato
VINICIUS SASSINE
26/01/2018 – 19h09 – Atualizado 26/01/2018 19h22
Num daqueles burocráticos comunicados ao mercado que as empresas são obrigadas a fazer, um a mais entre dezenas emitidos em 2017, a Eletrobras deu uma satisfação a seus acionistas sobre um contrato com um escritório de advocacia americano especializado em investigação corporativa de corrupção e fraudes contábeis chamado Hogan Lovells. Mas o texto de 7 de dezembro guardava diferenças em relação aos demais: era mais extenso, mais detalhado, mais transparente até.
Os investidores, porém, não ficaram sabendo ao longo de 15 tópicos da decisão da estatal de aumentar o valor do contrato, nem da quantia exata a ser paga a empresas especializadas em serviços de espionagem privada – entre elas, a controversa Kroll. A Eletrobras, estatal do setor elétrico, maior companhia de seu ramo na América Latina, tergiversou sobre os valores pagos à Kroll, à Control Risks e a grandes bancas de advocacia brasileiras, todas subcontratadas pela Hogan Lovells.
ÉPOCA obteve dois contratos assinados entre Eletrobras e Hogan Lovells e dois aditivos que reajustaram os valores iniciais, prazos e pagamentos. Ali está expresso o montante destinado à Kroll a partir de janeiro de 2016: primeiro, R$ 36,2 milhões, e depois, com um aditivo, mais R$ 9 milhões, o que totaliza R$ 45,2 milhões. O mesmo ocorreu com a Control Risks, uma concorrente da Kroll: R$ 35,8 milhões, com um acréscimo posterior de R$ 8,9 milhões, resultando em R$ 44,7 milhões. Grandes escritórios de advocacia brasileiros – WFaria, Pinheiro Neto e Torres Falavigna – embolsaram mais R$ 47,3 milhões.
O comunicado da Eletrobras colocava tudo isso na conta da Hogan Lovells e ainda informava números inferiores aos pagos às subcontratadas. À Kroll são atribuídos apenas R$ 13,4 milhões; os escritórios brasileiros de advocacia nem são discriminados. A estatal reconheceu o equívoco e disse que vai “reclassificar” os valores para “melhor demonstrar” os gastos, mas sem alterar o valor total.
A parceria entre Eletrobras e Hogan Lovells foi estabelecida em meados de 2015, quando a estatal estava numa péssima fase. A Lava Jato descobrira seu primeiro foco de corrupção fora da Petrobras, mais especificamente na Eletronuclear, subsidiária responsável pela construção da usina nuclear Angra 3. O prejuízo acumulado da Eletrobras batia os R$ 30 bilhões, no acumulado desde 2012, e o endividamento colocava em risco sua capacidade de honrar compromissos.
A Kroll recebeu R$ 45 milhões da estatal. Em 2015, foi usada por Eduardo Cunha na luta para escapar da Lava Jato
A empresa, então, decidiu assinar um contrato para investigar práticas de corrupção em seus empreendimentos, como forma de mostrar ao mercado transparência e empenho para evitar mais prejuízos no futuro. O valor inicial dos serviços – R$ 6,4 milhões – era inofensivo. Mas depois vieram os reajustes, bem ao estilo dos negócios do setor público. A Eletrobras assinou um novo contrato, 2.956% maior com a Hogan Lovells, fez ainda um aditivo a este contrato sem dar explicações ao mercado e escondeu quanto de fato gastou com a Kroll e outras subcontratadas.
Assim, o acerto com o escritório saltou dos R$ 6,4 milhões iniciais para R$ 235,5 milhões. Não parou aí. Novos gastos vieram. Até setembro do ano passado, o gasto total com as investigações internas já chegava aos R$ 340 milhões – incluía também os honorários dos integrantes da Comissão Independente de Gestão da Investigação, estabelecida para supervisionar os trabalhos da Hogan Lovells e da qual faz parte até a ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie. No fim de dezembro de 2017, a Eletrobras informou a assinatura de um novo contrato com o escritório americano, de R$ 42,8 milhões. Os gastos com investigação interna vão, assim, se aproximar dos R$ 400 milhões.
O contrato principal previa que a estatal fizesse pagamentos diretamente à Kroll, à Control Risks e a escritórios brasileiros. Os serviços de espionagem da Kroll têm um histórico de polêmicas no Brasil. No início dos anos 2000, a empresa foi acusada de fazer espionagem na disputa entre o banco Opportunity e fundos de pensão. A mais recente envolveu uma ofensiva do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para tentar se livrar da Lava Jato. A CPI da Petrobras, controlada por ele, contratou a Kroll para investigar se delatores tinham patrimônio oculto no exterior, como forma de tentar anular colaborações. Na prática, Eduardo Cunha usava a Kroll para intimidar e embaralhar a investigação. Impôs um sigilo de cinco anos ao contrato, e a empresa recebeu pouco mais de R$ 1 milhão pelos serviços.
O contrato entre Eletrobras e Hogan Lovells não detalha o papel da Kroll nas investigações internas. Segundo a estatal, a função é conduzir entrevistas com funcionários, mapear a gestão de processos de compras e investimentos, testar transações. Mas é segredo de polichinelo entre investigadores que a empresa é especializada em rastrear contas bancárias escondidas, bens registrados em paraísos fiscais e propriedades no exterior. A Kroll no Brasil alegou “questões de confidencialidade” para não responder aos questionamentos de ÉPOCA, mesma posição da Control Risks e dos escritórios Pinheiro Neto e WFaria. A Hogan Lovells não se posicionou, nem o escritório Torres Falavigna.
Um dos dois aditivos assinados levou em conta uma carta enviada pela Hogan Lovells à Eletrobras, em que pedia permissão para “remanejar as horas contratadas entre os dez projetos incluídos no escopo da investigação”. Segundo o escritório de advocacia, “alguns projetos demandaram trabalho substancialmente maior do que o estimado na proposta comercial, comparado com outros projetos onde poucas horas foram incorridas”. O aditivo permitiu uma alocação de dinheiro entre os projetos listados, desde que respeitado o valor atribuído a cada subcontratada. Dois meses depois, um aditivo reajustou os valores e os prazos para os serviços.
Gastos com investigações internas têm vários objetivos, entre eles encontrar formas de evitar que os desvios se repitam e até recuperar o dinheiro perdido. Os gastos com investigação interna na Eletrobras já representam quase 70% do que a estatal lucrou no terceiro trimestre de 2017. É superior às perdas por corrupção referentes a 2014 e 2015 registradas pela empresa na Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador do mercado de capitais nos Estados Unidos. A vigência do contrato principal foi encerrada em junho do ano passado. A Hogan Lovells precisou de mais dinheiro, e o novo contrato para o “encerramento das ações de investigação” pode durar até agosto. Apesar de todos os gastos, até agora nenhuma conclusão sobre a corrupção descoberta na Eletrobras e seus
empreendimentos veio a público.
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