Eleições no parlamento: o jogo dos 7 erros da esquerda e o colapso da ‘Frente Ampla’
"A 'Frente Ampla' de Doria, Huck (Globo) e Maia foi o setor político que sofreu a maior derrota", afirma o ativista político Milton Alves. "A direita golpista neoliberal provou a sua incapacidade de conduzir o enfrentamento ao governo bolsonarista. Na hora H, é fagocitada pela extrema-direita"
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Provocado por amigos e alguns dedicados leitores, resolvi escrever uma breve nota sobre as eleições realizadas no Congresso Nacional na segunda-feira (1).
Os pedagogos recomendam para as crianças em fase de iniciação escolar o tradicional jogo dos sete erros. Uma atividade que permite o desenvolvimento cognitivo das crianças, principalmente a diferenciação e a comparação de imagens. Ou seja, a criança aprende a separar e a classificar – fazer a distinção dos objetos. Um método de aprendizado que será carregado para toda vida.
Na atividade política também é essencial definir as diferenças: Quem são os aliados [permanentes ou temporários] e quem são os inimigos. Pois bem, vamos ao tema das eleições para as mesas diretoras do Congresso Nacional.
1) O bloco parlamentar do Centrão foi o maior vencedor da disputa política pelo controle do Congresso Nacional. As promissórias do acordo com Bolsonaro serão cobradas na base do “toma lá, dá cá”, negociando cada pauta de votação por cargos e prebendas no aparelho estatal.
2) O presidente Jair Bolsonaro foi um grande vencedor no processo. Garante um seguro temporário para o impeachment, mas terá que fazer concessões para o Centrão, abrindo vagas no Ministério ou desmembrando fatias dele. O que pode gerar futuros problemas com os seus aliados militares e em sua base “puro sangue” na extrema-direita. Outra questão: A agenda de “reformas regressivas” de Paulo Guedes também será um ponto de tensão na relação com os parlamentares do Centrão, na sua maioria vinculados ao sistema de indicação nas estatais, empresas e autarquias com braços nas regiões e estados.
3). A “Frente Ampla” de Doria, Huck (Globo) e Maia – que arrastou a esquerda para o desastre – foi o setor político que sofreu a maior derrota. A direita golpista neoliberal provou a sua incapacidade de conduzir o enfrentamento ao governo bolsonarista. Na hora H, a maioria de suas fileiras é fagocitada pela extrema-direita. MDB, DEM e PSDB votaram em massa na candidatura de Arthur Lira (PP), que alcançou 302 votos contra apenas 145 do golpista Baleia Rossi (MDB). O resultado evidenciou, mais uma vez, que a polarização política real envolve o embate entre a extrema direita bolsonarista e a oposição de esquerda – uma tendência para a disputa presidencial de 2022.
4). A esquerda perdeu – e muito: Abriu mão do protagonismo político de uma candidatura própria, não levou o embate político para fora do parlamento, polarizando abertamente com o neofascismo de Bolsonaro e o neoliberalismo da direita golpista. E o mais grave: caiu na armadilha da “Frente Ampla”, uma opção política que coloca a esquerda a reboque da direita, desarmando a narrativa da militância e confundindo o eleitorado popular. A esquerda acabou ficando como a maior acionista da candidatura de Baleia: Os partidos de esquerda e centro-esquerda entregaram a quase totalidade dos votos obtidos pelo candidato da “Frente Ampla”. PT e PSOL, os principais partidos de esquerda, se dividiram no processo e atuaram de forma errática na disputa (Exemplo: o lançamento da candidatura de Luiza Erundina foi tarde demais e sem articulação com os outros partidos do campo). Até mesmo a justificativa da direção do PT de ocupar espaços na mesa diretora da Câmara teve um resultado pífio: Não valeu o preço pelo desgaste político a possível ocupação de uma secretaria secundária na mesa.
Luta que segue
5. A única saída possível da crise econômica, social, institucional e sanitária em curso no país, que favoreça o povo trabalhador, só pode ser encabeçada pela esquerda, em especial com um papel destacado do Partido dos Trabalhadores (PT), apresentando um programa democrático-popular, de ruptura com o neoliberalismo e o conservadorismo. É o caminho que nos resta, uma imposição da realidade – sem qualquer impulso sectário ou voluntarista. As classes dominantes, as diversas frações da burguesia e de seus partidos, não têm um projeto para o país fora do neoliberalismo, da exclusão social e de aprofundar a recolonização. Portanto, a grande tarefa da esquerda é construir uma frente popular, reunindo os partidos e movimentos sociais, para disputar os rumos políticos e um novo projeto para o Brasil num quadro mundial de profunda crise capitalista.
6. No plano imediato, a esquerda tem que apostar na mobilização popular, aplicar uma tática de combate permanente ao governo Bolsonaro, acumulando forças nas lutas em defesa de medidas emergenciais em defesa dos trabalhadores e da população mais pobre. Eixos táticos por medidas de proteção social e sanitária – fim do teto dos gastos, mais verbas para o SUS, Fora Bolsonaro, recuperação dos direitos políticos de Lula, volta do auxílio emergencial de R$ 600 reais, vacinação e testagem em massa da população, medidas de geração imediata de empregos e tabelamento da cesta básica. Só assim, e somente assim, vamos nos habilitar para responder a gravidade da crise e a tempestade social que se avizinha.
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