Eleições latino-americanas: Brasil desempata
"A América Latina deve sair com uma fisionomia nova das eleições de 2018, com a abertura de um novo ciclo antineoliberal e de integração regional", avalia o colunista do 247 Emir Sader sobre o panorama de eleições na América Latina; "O desempate então será daqui a menos de 100 dias, se houver resultado no primeiro turno, daqui a quatro meses, se se der no segundo turno"; para Sader, Lula deve dar um "novo impulso ao processo de integração latino-americana"
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O calendário eleitoral latino-americano de 2018 incluía disputas importantes, que poderiam mudar a fisionomia política do continente. O ano começava no marco da contraofensiva conservadora e essa tendência seria confirmada ou questionada, conforme os resultados eleitorais, pelo significam de continuidade ou de mudança dos governos de países muito importantes do continente.
Estavam previstas eleições em alguns dos países mais importantes do continente, como o México, o Brasil, a Colômbia, a Venezuela, além da Costa Rica e do Paraguai. Na metade do ano, quase todas as eleições já foram realizadas e se pode analisar as tendências predominantes.
Nas eleições nos países de maior peso, a esquerda triunfou no México e na Venezuela, enquanto a direita ganhou na Colômbia. Nos outros dois países, Costa Rica e Paraguai, foi vitoriosa a direita.
Analisando mais em nuances, a vitória de Lopez Obrador é a mais significativa no continente, pelo que representa como chegada, pela primeira vez, da esquerda ao governo, ao mesmo tempo que produz uma crise profunda dos dois partidos tradicionais e pela dimensão da vitória de Morena em todo o México. Fecha-se um longo período da historia do pais e se abre um outro, em que as forcas progressistas tem grandes condições de promover mudanças estruturais no México. Suas projeções para o conjunto da América Latina dependem de outros fatores, entre eles o resultado das eleições no Brasil, como mencionaremos mais adiante.
Na Colômbia, o uribismo volta ao governo, mas tem diante de si, pela primeira vez, uma liderança de esquerda, com Gustavo Petro, que chegou ao segundo turno com 40% dos votos e situando-se como a principal liderança de oposição ao governo, desde o Senado. Se a extrema direita triunfou, o faz num cenário politico bastantes menos favorável que em governos anteriores, com uma projeção futuro favorável à esquerda.
Na Venezuela, a reeleição de Maduro se dá num marco muito difícil para o próprio governo, seja pelo alto nível de abstenção, como pela profunda crise econômica e social em que se acha imerso o pais, além do cerco internacional.
No Paraguai, o Partido Colorado deu continuidade ao seu governo de direita, vencendo a oposição, de aliança entre o Partido Liberal e a esquerda. Na Costa Rica foi derrotada o candidato evangélico, vitorioso no primeiro turno, mas quem o derrotou é um politico tradicional, com um programa neoliberal.
A balança geral dos resultados é relativamente equilibrado, embora até aqui não confirmando a virada para a direita, mesmo com os triunfos na Colômbia, no Paraguai e na Costa Rica. Especialmente a vitória no México, mas também aquela na Venezuela, equilibram relativamente a situação.
Todos os olhos se voltam agora para as eleições brasileiras, cujo resultado vai desequilibras as transformações no continente. Se a direita, através de alguma artimanha, consegue se manter no governo, com um representante direto do atual ou com alguma versão que indiretamente dê continuidade ao modelo neoliberal, inquestionavelmente as transformações eleitorais apresentariam um resultado de confirmação da contraofensiva da direita na região.
Se, ao contrario, por meio do Lula ou de quem ele indicar, caso seja impedido de concorrer, a esquerda triunfe de novo, o desempate se fará a favor da esquerda. Com as vitorias no México e no Brasil se terá imposto um freio à contraofensiva da direita como, além disso, permitira, através da aliança entre os governos do México e do Brasil, dar um novo impulso ao processo de integração latino-americana, além de afirmar modelos antineoliberais, mais moderadamente com Lopez Obrador, um tanto mais profundamente com um novo presidente progressista no Brasil.
O desempate então será daqui a menos de 100 dias, se houver resultado no primeiro turno, daqui a quatro meses, se se der no segundo turno. A América Latina deve sair com uma fisionomia nova das eleições de 2018, com a abertura de um novo ciclo antineoliberal e de integração regional.
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