Eleições gerais e fora Temer!

Alguns dizem que o impeachment aconteceu porque a presidente Dilma não conversava com o Congresso, não tinha jogo de cintura; outros dizem que o PT inventou a corrupção e levou o país à crise. Isso é tudo balela

Alguns dizem que o impeachment aconteceu porque a presidente Dilma não conversava com o Congresso, não tinha jogo de cintura; outros dizem que o PT inventou a corrupção e levou o país à crise. Isso é tudo balela
Alguns dizem que o impeachment aconteceu porque a presidente Dilma não conversava com o Congresso, não tinha jogo de cintura; outros dizem que o PT inventou a corrupção e levou o país à crise. Isso é tudo balela (Foto: Chico Vigilante)


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Há cerca de 15 meses, alertei em artigo no Brasil247 que um golpe estava em marcha. Algumas pessoas disseram que eu era maluco, inclusive do próprio PT, meu partido.

Minha previsão se concretizou, o golpe foi colocado, está em marcha acelerada e muito provavelmente será consolidado neste fim de agosto.

Alguns dizem que isso aconteceu porque a presidente Dilma não conversava com o Congresso, não tinha jogo de cintura; outros dizem que o PT inventou a corrupção e levou o país à crise.

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Isso é tudo balela. A verdade é que a grande imprensa comercial, parlamentares do PMDB, PSDB, PP, DEM, entre outros e instituições representativas das elites, especialmente a FIESP, deram fôlego ao golpe.

Milhões de pessoas insufladas por notícias tendenciosas e seletivas saíram as ruas achando que estavam combatendo a corrupção, quando na verdade foram massa de manobra dos interesses do golpe midiático, jurídico, parlamentar.

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Exatamente como aconteceu em 1964 com a Marcha pela Família e a Liberdade quando a classe média alta - reacionária em relação a avanços sociais para a classe trabalhadora - saiu as ruas pensando estar combatendo a corrupção mas, ao contrário, contribuiu para a entrega do país aos militares e o exílio do presidente João Goulart ao Uruguai, de onde apenas retornou em 1976, já morto.

E hoje, o que está realmente acontecendo? Um golpe em marcha com o intuito cristalino de entregar as riquezas nacionais, e de imediato o Pre Sal, a maior conquista da ciência e da engenharia brasileira, com núcleo baseado na Petrobras.

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É claro que devemos combater a corrupção, e o PT no poder tomou várias iniciativas legais neste sentido.

O que está sendo feito hoje pelos golpistas, no entanto, em nome de um falso combate à corrupção, é a destruição de nossas grandes empresas, nossas maiores empreiteiras, gerando o desemprego de milhares de brasileiros.

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Dizer que o financiamento de campanhas foi inventado pelo PT na Petrobras é chamar o brasileiro de estúpido.

O sistema de financiamento de campanhas políticas pelas empreiteiras sempre existiu. Como deputado federal, acompanhei a CPI dos Anões do Orçamento e o motivo foi exatamente esse. Cassamos 15 deputados quando deveríamos ter cassado 100 mas na ocasião não houve espaço e condições políticas para tal.

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Outro escândalo do gênero, denunciado por mim, derrubou o candidato a vice de FHC, Guilherme Palmeira, que caso contrário teria ficado lá por oito anos.

O motorista dele era namorado da secretária. Insatisfeitos com o patrão por alguma razão, os dois me procuraram para denunciar um esquema de corrupção envolvendo empreiteiras. Na ocasião comprovou-se que os próprios lobistas das empreiteiras vinham ao Congresso, escreviam as emendas que queriam e os parlamentares as subscreviam.

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Diante de minha denúncia pública do caso, Fernando Henrique substituiu Palmeira por Marco Maciel, mas as empreiteiras continuaram envolvidas ali.

Agora vem a questão do PT, que veio depois e não conseguiu fugir do esquema, passando a comer no mesmo cocho, o que não deveria ter acontecido.

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Mas também é necessário deixar claro, e eu sempre disse isso: não existe um balaio de dinheiro sagrado e um balaio de dinheiro do diabo, do satanás, do maldito.

O dinheiro é o mesmo, das mesmas empreiteiras. Se é errado pra um é errado pra todos. Desta vez, ao contrário da época da CPI dos Anões do Orçamento, a sociedade deve estar mais preparada para enxergar isso. Devemos penalizar todos e não apenas o PT.

Mas não é isso que os golpistas querem. Ao perceber que as investigações de corrupção chegaria a eles, armaram o golpe, para ocupar o poder, se manter na impunidade e, principalmente mudar os rumos do país: destruir as conquistas sociais e políticas dos últimos anos e entregar a exploração de nossas riquezas ao capital internacional.

O golpe levado a cabo por Temer, Cunha e seus 200 ladrões, aliados à mídia golpista e a setores direitistas encastelados no Poder Judiciário não tinha o intuito de combater a corrupção coisa nenhuma.

Estamos vendo a elite brasileira se compondo para manter tudo como sempre foi. Eles não vão cassar Eduardo Cunha, símbolo do mal, da malandragem, da patifaria.

Por que? porque ele sabe muito de muitos. Se ele disse que sustenta 200 deputados, a sociedade brasileira não pode se calar, tem que exigir saber quem são eles.

Michel Temer, como todos sabem, refém de Cunha, terá que trabalhar para que seu mandato não seja cassado e é isso que está acontecendo.

Ou alguém acredita que não tem o dedo de Temer na decisão de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, em protelar a sessão de votação da cassação de Cunha para 13 dias após a concretização do impeachment de Dilma ?

Esta é uma maquiavélica maneira de acalmar o clamor popular, sedento do sangue de um culpado jogado na arena dos leões, neste caso Dilma Rousseff, e seus 54 milhões de votos. O Congresso está pisoteando a Constituição.

Quem em sã consciência marca uma votação importante como a cassação de um deputado corrupto (e confesso financiador de 200 parlamentares) numa segunda-feira, em plena campanha eleitoral, quando os deputados estarão correndo seus estados, batalhando para eleger prefeitos - suas bases eleitorais para reelege-los em 2018?

O jogo de cena começou há muito tempo e agora está na reta final. A renúncia de Eduardo Cunha, foi milimetricamente estudada para darem o bote final do impeachment e a sessão fantasma de 12 de setembro que não cassará Cunha. Escárnio total com a Nação.

O que me deixa mais triste é verificar, às vésperas de meu aniversário de 62 anos de idade, que mais da metade de minha vida foi destinada à luta pelo fim da desigualdade, e neste momento sofro junto com o Brasil um grande revés.

Enquanto nos governos Lula e Dilma estávamos lutando pelo avanço de direitos, nossa luta agora- diante das ameaças dos golpistas - retrocede para a batalha da manutenção do que já tínhamos garantido nos últimos anos de democratização.

Isso representa um retrocesso brutal. Numa sociedade ainda bastante desigual teremos que brigar pela manutenção do que já havíamos conquistado e não pra ter avanços.

Me dói muito pensar que não sei quando vamos retornar a um novo circuito de lutas de avanço de direitos, no lugar de ficar apenas na defensiva para não perder o que conquistamos anteriormente.

Eu pergunto agora: onde estão aqueles que saiam as ruas dizendo Sou Cunha, quando ele acatou o processo de impeachment de Dilma? Onde estão os defensores da luta contra a corrupção e a defesa da democracia? Estão satisfeitos ?

Acreditam mesmo que a corrupção acabou com Eduardo Cunha e seus 200 ladrões continuando na Câmara? A elite branca que estudou nos melhores colégios deste país está ciente de que o Congresso se prepara para votar um projeto de anistia geral dos envolvidos em corrupção na Lava Jato?

Onde estão os defensores da moralidade? Se realmente estivessem defendendo a moralidade não estariam aplaudindo o que está acontecendo e sim defendendo a única solução que nos resta: a luta por um plebiscito para a convocação de eleições gerais em todos os níveis.

Esta foi a minha proposta desde o primeiro momento. Acho que Dilma pecou por não ter enviado ao Congresso uma proposta de emenda constitucional para eleições gerais, desde o dia em que foi admitido o impeachment na Câmara.

Muitos dirão: de nada adiantaria, a proposta não passaria naquele congresso dominado por Cunha. Pode ser, mas ela sinalizaria para a sociedade a saída diante do golpe em ação.

No entanto, aqui estamos e não deixaremos de lutar. Essa é a única saída no momento para passar o Brasil a limpo. Eleições gerais, e fora Temer!

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