Edu Lobo e a 'carne de onça'

É um arranjador de primeira, um violonista hábil, um harmonista tarimbado, foi um cantor afinadíssimo e praticamente não tem rivais quando o assunto é melodia

Edu Lobo
Edu Lobo (Foto: Divulgação)


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Celinha e eu estivemos em Curitiba recentemente para assistir um show do Edu Lobo, um dos nossos compositores favoritos. 

E, graças à generosidade de Ana Castro, presidente da Fundação de Cultura da cidade, que nos foi apresentada pelo querido Ney Carrasco, tivemos a oportunidade de conhecer e conversar com Edu e trocar algumas opiniões, mesmo que em traços rápidos. 

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Foi muito bacana, pois, o primeiro espetáculo musical que assistimos e ainda éramos namorados, foi “O Grande Circo Místico” – trilha sonora de Chico Buarque e Edu Lobo em 1983. O mais curioso é que “O Grande Circo...” foi criado originalmente para o Balé Teatro Guaira de Curitiba, exatamente onde estávamos. 

Há uma outra obra musical magnifica de Edu Lobo, e decisiva para a minha formação: “Arena conta Zumbi”, um musical escrito por Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal em 1965, com músicas de Edu Lobo, então com vinte e dois anos.

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Assisti “Arenano Centro de Convivência em Campinas. Desde o prólogo o público é informado que será contada uma epopeia, porém, não se refere à forma, mas, antes, ao fato de contar um acontecimento histórico, a escravidão no Brasil:  

A estória que contamos

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é a epopeia do Zambi;

tanto pró e tanto contra

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juro em Deus que nunca vi.

Mas conheci a música do Edu Lobo muito antes.

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Foi na casa dos meus avós, Maria e Pedro, quase tudo na minha vida começou lá... Bem, eles compravam quinzenalmente os fascículos de uma coleção da Abril Cultural sobre a “Música Popular Brasileira”. Nos fascículos havia um disco com uma coletânea de oito músicas e um livreto sobre a vida e obra de cada artista. 

Eu tinha oito anos quando meu avô começou a comprar os fascículos da Abril Cultural, foi através deles que conheci Pixinguinha, Noel Rosa, Lupicínio Rodrigues, Jorge Ben, e outros tantos, a diversidade da estética musical era a essência da coleção. 

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Desde então sou fã do Edu, que para mim é um artista genial e está entre os cinco grandes: ao lado de Gil, Chico, Caetano e Tom Jobim. É um arranjador de primeira, um violonista hábil, um harmonista tarimbado, foi um cantor afinadíssimo e praticamente não tem rivais quando o assunto é melodia. Lamentavelmente é pouco conhecido pelo público mais jovem. 

edu-lobo
Foto: Reprodução

Estar em Curitiba para assistir ao show foi espetacular, conhecer Edu foi especial, por todas as razões que escrevi acima, mas tivemos outras experiências na capital paranaense, revimos amigos queridos e Mariana, sobrinha cujo sorriso alegra todos a sua volta. 

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Logo no primeiro dia conhecemos o restaurante ASU, alta gastronomia desenvolvida por um jovem chef. Tudo servido em peças de cerâmica de muito bom gosto. 

Mas o que nos surpreendeu mesmo foi uma tal “carne de onça”, que nos foi apresentada no nosso último dia por lá alguns amigos e a nossa sobrinha Mariana; eles nos levaram à ‘Mercearia Fantinato’ comer o petisco mais famoso dos botecos curitibanos: a ‘carne de onça’, que é patrimônio cultural imaterial da cidade e tem um festival gastronômico só seu. 

Os defensores da natureza podem ficar tranquilos, estamos do mesmo lado e ninguém matou nenhuma onça... A “Carne de Onça” é feita com carne bovina moída - normalmente patinho. O petisco é preparado à mesa; o garçom abre a carne num prato e coloca: cebola branca cortada fininha, cebolinha verde picada, temperada com sal, alho, páprica doce e pimenta-do-reino, regada com azeite de oliva extra virgem e cachaça. 

A recomendação é colocar o petisco, em pequenas porções, em pedacinhos de pão preto – broa –, com manteiga e mostarda, bem pouquinho e, no meu caso, pedir mais um chopp. 

Contar essa história boba ao leitor e à leitora é, de certa forma, compartilhar vivências e dizer que tudo que é “de verdade” é o que nos emociona; lembrar novamente dos meus avós; do começo do nosso namoro; conhecer Edu Lobo - cinquenta anos depois de ouvir pela primeira vez suas músicas; rever amigos queridos, com quem caminhamos por tanto tempo e estar ao lado do sorriso da Mariana é “de verdade” e valeu a pena.

Essas são as modestas reflexões.

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