Ecos do passado na porta do Planalto

(Foto: Tereza Cruvinel)


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Desde ontem à noite o alarido é grande em frente ao Palácio do Planalto. Ontem lá estavam os servidores do Judiciário esperneando contra o veto de Dilma ao reajuste que pode chegar a 78,5% de aumento. Hoje são os do Executivo, pedindo aumento e ameaçando com uma greve.  Enquanto isso, logo mais às 17 horas a equipe econômica anuncia a redução da meta do superávit fiscal e um novo corte orçamentário, que pode chegar a R$ 10 bilhões, para cumprir a nova e bem menor meta. O mercado aguarda de orelha em pé.

Ontem à noite, a partir das 21 horas, eu estava no térreo do STF, aguardando para entrar ao vivo no RedetvNews, telejornal da Redetv em que sou comentarista política. Dali, ouvíamos o alarido do outro lado da Praça dos Três Poderes. Dez entre cada dez discursos proferidos tinham tom essencialmente político, e nada reivindicativo. Os que se ouvia eram pesados ataques políticos a Dilma, ao PT, à corrupção, ao ministro Ricardo Lewandowski e desafios ao presidente do Senado, Renan Calheiros, para derrubar o veto de Dilma. “Este governo precisa acabar”, dizia um servidor sem nada falar sobre suas agruras salariais. “78 por cento será o novo índice de rejeição da Dilma”, dizia outro, protestando contra a informação de que alguns poderão ter reajustes até neste patamar. Ninguém ignora que os servidores do Judiciário, bem como os do Legislativo, ganham muito mais que os do Executivo. E que não ganham mal, salários e penduricalhos somados.

Mas eu e a equipe ficamos mesmo espantadas foi com um grupo que, encerrado o protesto, foi buscar seus carros no estacionamento do STF.  Gritavam impropérios de uma obscenidade atroz, impublicáveis, contra Dilma, Lewandowski e outros. Bem, brutos e broncos existem em todas as categorias profissionais, mas aquilo foi mais um sinal dos tempos – de ódio, intolerância e incivilidade – e do quanto o veto tumultuará a cena política quando agosto chegar. Mas era necessário e nenhuma categoria pode sentir-se, neste momento, acima das possibilidades do país.

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Hoje, os do Executivo foram ao mesmo local anunciar que entrarão em greve se não forem atendidos.

Nós já vimos este filme antes, lá atrás, nos tempos da inflação. Todos queriam garantir o seu, inventavam-se leis de correção salarial que não repunham as perdas e estouravam greves o tempo todo. A instabilidade política e a expectativa inflacionária alimentavam o processo.

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Daqui a pouco haverá o anúncio da redução da meta de superávit primário. Levy e Nelson Barbosa, e também Dilma, terão que explicar muito bem que isso está acontecendo não por tolerância fiscal mas pela real impossibilidade de alcançar os 1,2% num momento de recessão que faz minguar as receitas do governo. Terão que apontar claramente o norte que continuarão perseguindo, o do equilíbrio das contas, ainda que num prazo mais flexível. Do contrário, vamos ter o aumento do mau humor dos agentes econômicos, somado à crise política.

Pode não parecer mas entre o anúncio e os protestos dos servidores existe um forte eco do passado que não pode voltar.

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