EBC acaba com Arte do Artista, programa de Aderbal Freire-Filho

(Foto: Tereza Cruvinel)


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Há pouco, fiquei sabendo de mais um retrocesso: a EBC decidiu acabar com o programa Arte do Artista, apresentado por um dos mais fecundos e premiados profissionais do teatro brasileiro, Aderbal Freire-Filho, e dirigido pelo versátil Sergio Cardia,  que tantos bons serviços já prestou à televisão pública no Brasil.   Lamento pelos telespectadores, que perderão este espaço de difusão da arte e da cultura,  pelos criadores, que perdem um importante espaço de divulgação; lamento por toda a equipe do programa, sofro com mais esta depredação do legado da EBC e invoco a memória de Sergio Britto. Explico por que.

         No dia 15 de dezembro de 2010, este grande e saudoso ator, um dos maiores do teatro brasileiro contemporâneo,  insistiu para que eu participasse da gravação da edição especial com que ele estava comemorando os 500 programas da série “Arte com Sergio Britto”. Está aqui no Youtube:  https://www.youtube.com/watch?v=nl09Oe9ufKI .  Eu era presidente da EBC/TV Brasil, que exibia o programa. Ponderei com Sergio que ele devia privilegiar os artistas, os criadores, os frequentadores do programa. Não, ele insistiu, quero também o seu depoimento, quero que fale sobre o que este programa significa para a TV Pública, disse ele. Rendi-me e disse o óbvio: o programa que começara na TVE-RJ fora mantido pela TV Brasil, ao ser criada em 2007, porque era de grande relevância e correspondia perfeitamente ao que se espera de uma emissora publica: uma programação diferenciada e complementar, que valorize especialmente a arte, a cultura, a ciência, a educação e a cidadania. E ainda mais sendo apresentado por um artista da grandeza de Sergio Britto. Não podia faltar este afago.  Ele tinha 87 anos naquela data, já estava adoentado. No café que tomamos depois ele me disse à queima-roupa. “Se eu morrer, não deixe o programa morrer”. Prometi, meio encabulada, dizendo que ele ainda gravaria muitos e muitos programas na emissora. Naqueles dias, renovei seu contrato. Mas no ano seguinte meu mandato acabou e Sergio morreu dias depois de minha saída da EBC. Em vida, ele havia manifestado o desejo de que Aderbal Freire-Filho o sucedesse no programa. E foi assim que, com alguns ajustes do roteiro à personalidade do novo apresentador e a mudança do título surgiu o Arte do Artista. Para toda a comunidade artístico-cultural do Rio, entretanto, o “programa do Aderbal” era uma continuidade do “programa do Sergio Britto”.

         Recordo estas passagens para que se tenha uma idéia do que faz a direção atual da EBC quando acaba com esse programa, desconhecendo sua história, sua tradição, sua importância. E o fazem com a simplicidade de quem apaga uma lâmpada para reduzir a conta de energia. Sim, a justificativa foi dada nesta terça-feira ao Aderbal e ao Cardia, depois de meses de negociações e negaças, foi a que não havia dinheiro para renovar o contrato. Mas recentemente, entretanto, a diretoria concedeu-se um aumento de salários, em pleno ajuste fiscal.   Outros programas da grade deixada pela minha diretoria já foram descontinuados. Outros, também referenciais e originários da TVE, como o Observatório da Imprensa e o Sem Censura foram interrompidos. Aliás, o Sem Censura continua existindo, mas sem a figura ímpar da Leda Nagle, que era sua alma.  Os programas vão acabando e não vai sendo posto no lugar. Em algum momento fecharão a própria emissora alegando razões fiscais.

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         Enquanto isso, o jornalismo dos canais públicos  segue tecendo loas ao governo golpista, censurando notícias negativas, como o “Fora Temer” no carnaval, praticando um chapabranquismo vergonhoso, sem que a grande mídia o vigie como fazia no meu tempo.  É tudo muito triste.

         Mais triste porém seria se o fim do programa tivesse acontecido com Sergio Britto vivo. Ele não resistiria. Vivia para o programa, a ele dava e dele extraía suas últimas energias criadoras.  Aderbal, grande guerreiro, está sempre atuando em muitas frentes, escrevendo, dirigindo, representando, brigando por políticas culturais... Falando nisso,  haverá nesta não-renovação de contrato alguma relação com o fato de ele ter se batido contra o golpe nos idos de 2016? Cardia e toda a equipe também vão encontrar novos desafios, não são de se abater. Perdem os telespectadores, os criadores e a televisão pública que já nem pode mais ser chamada assim, uma vez que se tornou TV governamental, submissa, controlada e irrelevante.

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