E viva a Colômbia!

A partir de agora, reservarei no meu coração apaixonado de botafoguense um espaço para a Chapecoense, para o Atlético Nacional de Medellín e para seleção colombiana

A partir de agora, reservarei no meu coração apaixonado de botafoguense um espaço para a Chapecoense, para o Atlético Nacional de Medellín e para seleção colombiana
A partir de agora, reservarei no meu coração apaixonado de botafoguense um espaço para a Chapecoense, para o Atlético Nacional de Medellín e para seleção colombiana (Foto: Bepe Damasco)


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Embora seja o país de tradição democrática mais longa do continente, muitos imaginaram que a violência, com a qual os 47 milhões de colombianos são forçados a conviver desde a mais tenra idade, embrutecera-lhes a alma. Ledo engano. A dor das perdas traumáticas de tantas pessoas queridas fez com que os colombianos superassem o estigma da violência, aumentassem a fé na vida e dobrassem sua aposta no ser humano e na solidariedade. Tudo isso forjado em sofrimentos indizíveis. A tragédia que vitimou o time da Chapecoense, dirigentes, membros da comissão técnica e jornalistas mostrou ao mundo a infinita generosidade e a nobreza de caráter do povo colombiano.

Em 1948, o assassinato do líder político do Partido Liberal, Jorge Eliecer Gaitán, provocou um conflito envolvendo liberais, conservadores, socialistas e comunistas, dando início ao período histórico conhecido como La Violencia, marcado por forte repressão anticomunista apoiada pelos EUA. Mais tarde o cotidiano do país passaria a ser assombrado por explosões de dinamites, assassinatos, sequestros e confrontos armados entre governo, narcotraficantes, grupos paramilitares de direita e a guerrilha de esquerda - M19 (que renunciou à luta armada no fim anos 80), Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e Exército de Libertação Nacional (ELN) - que surgiu nos anos 60.

Essa guerra custou a vida de um número incalculável de colombianos, não só entre os envolvidos direitamente nos enfrentamentos, mas também na população civil. Hoje é difícil encontrar uma família no país que não tenha perdido familiares ou amigos. Recentemente um acordo de paz selado entre o governo do presidente Juan Manuel Santos e as FARC acabou derrotado em plebiscito. Mas Santos não desistiu, costurou novo acordo com as FARC e enviou-o ao congresso colombiano, onde foi aprovado. Esse esforço de Santos rendeu-lhe o Prêmio Nobel da Paz de 2016.

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O nó a ser desatado para a obtenção da paz na Colômbia é um problema hoje comum à quase totalidade dos países da América Latina: o crescimento da direita e das forças antidemocráticas do atraso. Dilma foi golpeada no Brasil, Macri venceu as eleições na Argentina e a democracia venezuelana está por um triz. Essa nova correlação de forças permitiu inclusive que a Venezuela fosse suspensa do Mercosul de forma arbitrária e ilegal devido a pressões do governo golpista brasileiro em aliança com a Casa Rosada. A ruptura da ordem democrática na região, não custa lembrar, tivera início com o golpe contra Lugo, no Paraguai, e Zelaya, em Honduras.

Contudo, o mais incrível no caso colombiano é a resistência da democracia, superando toda sorte de obstáculos, como as feridas abertas e o trauma nacional gerado por décadas a fio de violência. Mesmo nos idos de 60 e 70, quando o continente fora tomado por ditaduras militares sanguinárias, sob o pretexto de impedir que o exemplo de Cuba fosse seguido, a Colômbia não se curvou preservando o regime democrático - imperfeito, elitista, permeável à ação do poder econômico, mas fiel à premissa da soberania popular.

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Embora corra o risco de cometer uma injustiça, confesso a minha forte suspeita de que nenhum clube do futebol brasileiro seria capaz do gesto comovente, magnânimo, solidário e desprendido do Atlético Nacional de Medellín, ao sugerir à Confederação Sul-Americana de Futebol, logo no dia seguinte à tragédia, que desse o título de campeão da Copa Sul-Americana à Chapecoense, o que acabou sendo confirmado na última segunda-feira.

Só para se ter uma ideia do descompasso moral entre os cartolas colombianos e brasileiros, enquanto os dirigentes do Atlético Nacional abdicavam da disputa da final em outra data e organizavam em tempo recorde a manifestação mais pungente e emocionante de toda a história do esporte, no estádio Atanasio Girardot, em Medellín, dirigentes do Internacional de Porto Alegre esbanjavam insensibilidade e oportunismo.

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Se é verdade que o Sport Club Internacional, um gigante do futebol brasileiro, não tem nada com isso e não merece os dirigentes que têm, também não surpreende que tamanhas sandices tenham partido de mandatários do futebol brasileiro, os quais, tirante as exceções que confirmam a regra, não costumam primar pela retidão moral.

A partir de agora, reservarei no meu coração apaixonado de botafoguense um espaço para a Chapecoense, para o Atlético Nacional de Medellín e para seleção colombiana. Com muito orgulho.

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