E se o deputado que pediu para ser preso continuar solto?

“O sentimento de impunidade dos patrocinadores do golpe ainda persiste e faz com que eles continuem afrontando o sistema de Justiça”, afirma Moisés Mendes

Deputado estadual Amauri Ribeiro
Deputado estadual Amauri Ribeiro (Foto: Assembleia Legislativa de Goiás)


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O deputado estadual goiano Amauri Ribeiro declarou que não teme ser preso, apesar de ter confessado que financiou participantes de atos terroristas do 8 de janeiro. É o seu jeito de ostentar impunidade.

Todos os do grupo dele estão soltos. Há uma turma golpista, com ou sem mandato, ainda inalcançada. Não chega a ser uma elite, mas não é também parte da chinelagem do golpe.

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O argumento recorrente, para que esse contingente continue falando à vontade, é o de que o cerco estaria se fechando, ainda pelas bordas, até chegar ao núcleo de gente do meio calibre de Ribeiro.

Mas chegará quando? Poderá mesmo chegar, se há um natural abrandamento do sentimento de indignação e da insistência por reparação?

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Com o tempo, mais do que abrandamento, pode haver esquecimento, como é previsível em situações similares.

A arrogância de Ribeiro, o deputado com chapéu branco de vaqueiro, ao se declarar golpista, é uma afronta com um detalhe, o que expressa sinceridade.

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O deputado desafiou abertamente o Ministério Público e o Judiciário em discurso na Assembleia de Goiás, ao pedir para ser preso:

“Pode me prender, eu sou um bandido, eu sou um terrorista, eu sou um canalha, na visão de vocês. Eu ajudei, levei comida, levei água e dei dinheiro”.

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Depois, recuou em parte, mas seu pedido de clemência não muda nada.

Entre os mais de 1.400 presos pelos atos terroristas de 8 de janeiro há gente de um subgrupo do deputado. São os suspeitos de terem financiado a invasão de Brasília.

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É uma das ‘categorias’ de manés, a dos incitadores, financiadores e autores intelectuais. A outra é a dos executores, dos que invadiram os prédios.

Muitos dos financiadores presos foram buscados em casa em maio, por ordem do ministro Alexandre de Moraes.

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O produtor rural Geraldo Cesar Killer, de Bauru (SP), e o empresário Adoilto Fernandes Coronel, de Maracaju (MS), foram dois dos presos por indícios de que deram suporte financeiro aos invasores. Não aconteceu um flagrante. Foram localizados e levados para a cadeia cinco meses depois da invasão. 

Não se sabe de nada que indique a confissão pública de um deles de que financiaram a tentativa de golpe. E mesmo assim foram presos.

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O deputado que debocha do sistema de Justiça fez uma confissão pública. A Polícia Federal já pediu ao Supremo autorização para que também ele seja preso.

Na primeira lista com a sugestão de nomes que devem ser ouvidos pela CPI do Golpe, um quarto é de suspeitos de terem financiado o 8 de janeiro.

São eles, pouco abaixo dos chefes da trama articulada durante dois anos por Bolsonaro, as mais importantes figuras da estrutura do que vinha sendo montada desde a criação do gabinete do ódio.

Não são os manezinhos. Não são os que foram presos e soltos. Esses, os manés, são na grande maioria a bucha do golpe, muitos dos quais agindo em transe identificado, muitos dias depois, pelo próprio ministro Alexandre de Moraes em visita à Papuda.

Mas muitos dos que ficaram ocultos, atrás dos manés, incitando, financiando e transmitindo uma falsa confiança aos invasores de Brasília, ainda aguardam contenção do Ministério Público e do Judiciário.

Os financiadores presos são amostras do time intermediário. Mesmo os 10 citados na lista de possíveis depoentes da CPI são do time do meio e com envolvimento específico no 8 de janeiro.

O golpe era financiado há muito tempo por gente de dinheiro graúdo.

Prender o deputado seria assegurar tratamento equânime em relação a financiadores e invasores desimportantes que continuam encarcerados ou estão em casa com tornozeleiras.

Ele deve ser preso, mesmo que esteja mais para amostra de mané meia-boca do que para exemplo de manezão.

O problema é se ele, que pediu para ir para a prisão, não acabar na cadeia. Por que Fátima de Tubarão continua encarcerada e o deputado ficaria solto?

Por causa de barreiras legais de difusos foros privilegiados? Quais? As mesmas que não impediram a prisão de Daniel Silveira? Se o homem do chapéu pediu, que seja preso.

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