E o livro do Lula

A obra, segundo Eric Nepomuceno, "trata-se, é obvio, de leitura obrigatória – até mesmo para quem não gosta nem um pouco de Lula"

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a obra sobre a biografia dele escrita por Fernando Morais
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a obra sobre a biografia dele escrita por Fernando Morais (Foto: Ricardo Stuckert I Reprodução)


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Só agora, no sábado de Natal e no domingo, li a biografia do Lula escrita por Fernando Morais, a quem me une uma amizade fraterna de mais de 50 anos.

Ganhei o livro logo que saiu, mas deixei para ler somente agora por uma única e exclusiva razão: eu sabia o que aconteceria, e aconteceu.

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Durante dois dias só deixei o livro de lado para cozinhar, comer, tomar banho e dormir. Por mais altas que fossem minhas expectativas, Fernando, uma vez mais, se superou. Alcançou de novo um êxito formidável, e desta vez sem a minha participação.

Explico: há anos e anos, a caminho de Cuba, Fernando fez uma escala no México e ficou hospedado lá em casa. 

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Certa noite formos jantar sozinhos, e ele me fez uma consulta. Estava pensando em escrever uma biografia e tinha dúvidas: o delegado assassino Sérgio Fleury, o capitão Lamarca ou Olga Benário?

Perguntei quem diabos era Olga, ele explicou e sentenciei, fulminante: “Ora, o Fleury ou o Lamarca, claro”.

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Muito tempo depois, eu já de volta ao Brasil depois de dez anos e meio fora, Fernando veio ao Rio, se hospedou lá em casa e de novo a mesma pergunta. Quem escolher para biografar: Fleury, Carlos Marighella ou Assis Chateaubriand? 

Respondi de estalo: o Marighella, claro. O Fleury perde para ele, e o Chatô já é conhecido de todo mundo.

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Bem: nos dois casos, deu no que deu. Só soube que ele tinha começado o livro do Lula quando ele me contou.

Desta vez, uma dificuldade a mais: Lula, ao contrário dos outros dois biografados, está vivo, sua história é fartamente conhecida e o Brasil inteiro sabe quem ele é e como chegou onde chegou.

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Pois Fernando supera, e com folga olímpica, esse desafio. Além de acrescentar detalhes cruciais dessa trajetória supostamente conhecida, faz inúmeras revelações – comovedoras algumas, surpreendentes outras.

A parte que abre o livro, e que trata da perseguição do juiz manipulador Sérgio Moro e abrange todo o período que Lula passou preso, é uma preciosidade incomparável. 

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A reconstrução da trajetória pessoal do mais popular líder sindical da história brasileira e da construção do Partido dos Trabalhadores é crucial para entender parte essencial da história do Brasil ao longo dos últimos 40 anos. No meu caso pessoal, que só voltei ao Brasil em julho de 1983, foi de uma importância vital, já que acompanhei tudo de longe.

No final do livro há um apêndice (detesto a palavra, mas foi usada pelo autor...) de importância capital, contando, a partir de um estudo do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) os efeitos colaterais altamente negativos da malfadada Lava Jato na economia brasileira. E também mostra, em detalhes, como os meios hegemônicos de comunicação partiram com tudo, sem pudor algum, para cima de Lula. 

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Trata-se, é obvio, de leitura obrigatória – até mesmo para quem não gosta nem um pouco de Lula.

E, por se tudo isso fosse pouco, Fernando Morais resgata algo de importância essencial da minha vida, e que anda cada vez mais abandonado a não ser por meia dúzia, talvez uma dezena, de talentos de gerações que vieram depois da nossa: o ofício de repórter, que como dizia com tanta razão Gabriel García Márquez é “o melhor ofício do mundo”.

Sim, sim, já não há, nos meios hegemônicos, nada mais que restos mínimos do jornalismo do meu tempo, que é o mesmo de Fernando.

Esse livro é, então, uma aula magistral e uma denúncia figadal do que foi abandonado pelos que transformaram o jornalismo de ofício – que é aquilo que você faz para continuar vivo – em profissão, que é aquilo que você faz para ter com o que pagar as contas. Ou seja, se vende.

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