Duas perdas doloridas
Eric Nepomuceno lamenta as mortes da escritora Nélida Piñon e do jornalista Carlos Brickman
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Por Eric Nepomuceno, para o 247
Num ano que parece não chegar ao fim, Jair Messias continua sua missão de destroçar tudo que vê pela frente.
Agora mesmo ele desfez a Comissão Nacional da Verdade e da Justiça, criada em novembro de 2011 pelo governo de Dilma Rousseff (presa e torturada na ditadura) e estabelecida em maio de 2012.
É verdade que a Comissão deu por encerrada sua tarefa e entregou um contundente relatório quatro anos depois. Também é verdade que ela não teve poderes de castigar os criminosos que agiram debaixo do manto da ditadura.
Graças a uma Lei de Anistia que um Supremo Tribunal Federal omisso e poltrão validou (nunca é demais repetir que o Brasil é o único – o único! – país latino-americano que jamais puniu agentes do Estado que cometeram crimes durante ditaduras) ninguém foi levado a julgamento e punido.
Há, entretanto, uma outra verdade: a Comissão tinha a missão de continuar as buscas pelos corpos desaparecidos pela repressão sanguinária da ditadura que durou de 1964 a 1985.
Como Jair Messias desfez? Ora, simples: dos sete integrantes da Comissão, três representam a sociedade civil. Os outros quatro, ou seja, a maioria, foram indicados pelo Genocida.
E enquanto ele prossegue em sua missão destruidora, o destino – ou o acaso, sabe-se lá – acaba de ceifar duas vidas que fizeram parte da minha e farão parte da minha memória para sempre.
Estou me referindo à minha amiga Nélida Piñón, que eu só chamava de Piñón e ela gostava. Nos conhecemos em 1973, numa longínqua Buenos Aires, e nunca mais nos desgrudamos. E também partiu meu caríssimo Carlos Brickman, o Carlinhos que conheci no finado (e na época revolucionário, em sua forma e conteúdo) Jornal da Tarde.
Ironias da vida: Carlos era enorme, imenso, alto, gordo, e não consigo lembrar dele sem seu sorriso único iluminando a vida. Taquele tamanhão, e era Carlinhos...
Fazia um tempinho que eu não me encontrava com a Nélida, pelas suas muitas viagens e minha permanência aqui no Rio.
Fazia um tempão que eu não me encontrava com o Carlinhos, pelos desatinos da vida.
Guardo dela imensas lembranças de integridade, delicadeza, elegância, inquietação e talento.
Guardo dele imensas lembranças de uma inteligência fulminante, um humor único, um talento olímpico para o ofício do jornalismo e um afeto que, mesmo à distância, nunca se corroeu.
Não poderia deixar de celebrar sua memória e registrar minhas saudades.
Beijo, querida Piñón.
Abraçíssimos, Carlinhos mais que mestre.
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