Doria, o lobo em pele de cordeiro

O governo estadual teve um superávit financeiro de R$7,7 bilhões em 2020. João Doria é prepotente, autoritário, insensível com a classe trabalhadora tal qual o governo Bolsonaro

(Foto: Divulgação)


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Desde que rompeu publicamente com Bolsonaro, o governador João Doria tenta se dissociar do negacionismo e do autoritarismo do presidente, buscando apagar da nossa memória coletiva a aliança BolsoDoria que os elegeu em 2018. Posa de defensor da ciência e do direito às liberdades constitucionais, mas, na prática, tem a mesma verve autoritária do presidente. 

Veja o caso da sede do Sindicato dos Metroviários de São Paulo. Trabalhadores e trabalhadoras da categoria construíram sua sede social, de organização sindical, e a área de lazer para usufruir com familiares em dois terrenos cedidos pelo governo do Estado para uso do Sindicato, há mais de 34 anos, no bairro do Tatuapé, zona leste da capital. 

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Governo atrás de governo, do próprio PSDB, concederam a renovação de uso dos espaços, o que permitiu a realização de benfeitorias construídas no local ao longo dos anos e pagas com a contribuição dos próprios metroviários e metroviárias.

No final do mês de abril, às vésperas da campanha salarial dos metroviários, o governo paulista enviou uma carta para que o sindicato esvaziasse sua sede no prazo de 60 dias, pois as áreas seriam leiloadas. Não havia mais intenção de renovação. 

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Alertado pela direção dos metroviários, solicitei ao Governador, em 11 de maio, um pedido de audiência para tratar do tema, em ofício co-assinado por deputados federais, estaduais e vereadores da capital, dos partidos do campo progressista (PT, PSOL e PC do B). Em resposta, foi sugerido pelo gabinete do Governador que o secretário da Casa Civil, Cauê Macris, recebesse a comissão de parlamentares. Não só não fomos recebidos, como houve um jogo de empurra-empurra entre secretarias, enquanto o prazo para a realização do leilão, agendado para 28 de maio seguiu mantido.

No dia 28 de maio estive com a categoria em vigília no momento em que os terrenos foram arrematados por R$ 14,4 milhões. O governo de João Doria não vendeu, ele deu a área sede do Sindicato dos Metroviários de São Paulo! O governo iniciou o leilão com preço sugerido de R$29 milhões e aceitou R$14,4 milhões. A comercialização dos terrenos nunca foi por dinheiro, uma parte de um projeto da Companhia do Metrô para depender menos do valor das tarifas e manter sua sustentabilidade financeira, como afirmou o secretário de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy. Foi uma provocação ao movimento sindical e a categoria metroviária, uma das mais organizadas entre os servidores do Estado.

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O governo estadual teve um superávit financeiro de R$7,7 bilhões em 2020. João Doria é prepotente, autoritário, insensível com a classe trabalhadora tal qual o governo Bolsonaro. 

Embora a venda da sede e área de lazer dos metroviários tenha sido concretizada, do ponto de vista legal e político há uma série de ações em curso. O Sindicato entrou com ações no Tribunal de Contas Estadual - TCE, acusando o leilão como de cartas marcadas. Os metroviários denunciam que a empresa vencedora foi criada depois do edital. Além disso, foi registrada com capital social de R$ 10 mil, não tendo, portando, condições de adquirir áreas no valor de R$14,4 milhões. Algumas, infelizmente, já indeferidas.

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Paralela a ação do Sindicato, no Legislativo temos projetos tramitando para consolidar garantias à permanência da categoria no local. Apresentei o Projeto de Lei 313/21, que autoriza a Companhia do Metrô a alienar, mediante doação, a área dos dois imóveis onde hoje se encontram a sede e a área de lazer para usufruto da categoria metroviária. Se aprovado, enquanto funcionar ali o Sindicato, as áreas seguem seguras. Já o deputado Carlos Giannazi, meu colega do PSOL, apresentou o Projeto de Lei 406/21, que declara patrimônio histórico, social e cultural a sede do Sindicato dos Metroviários de São Paulo. Os dois projetos seguem tramitando e são mais uma ferramenta política de obstrução neste processo viciado do leilão.

Neste processo de pressão, o apoio da sociedade é fundamental. Na última quarta-feira, 23, venceu o prazo de 60 dias para a desocupação do local. A categoria respondeu com um grande ato que percorreu as ruas do bairro. Ontem, quinta-feira, o governo estadual ingressou com pedido de reintegração de posse da sede do Sindicato dos Metroviários.

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O embate deve permanecer nos próximos dias. Até lá, a categoria metroviária carece de todo apoio. Não se trata aqui de preservar uma sede, uma área de lazer construídas ao longo dos últimos 34 anos com o suor e o dinheiro de cada metroviário. Trata-se de apoiar o direito de organização sindical. Direito este que Doria, um ultraliberal com verniz democrático, jamais entenderá se não for por pressão popular.

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