Dom Quixote ou sancho pança?

Não acredito em heróis, acredito nas pessoas simples, nos seus exemplos e no que representam; acredito na democracia e na nossa missão constitucional

(Foto: Paulo Pinto/ Agência PT)


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“A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que são capazes de pensar” 

Dom Helder Câmara.

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Alguns amigos, e outros nem tão amigos assim, seguem a criticar parte do conteúdo dos meus textos publicados aqui no CORREIO. Geralmente eu sorrio e afirmo o direito do crítico à discordância e às sugestões, pois acredito nisso. 

Recentemente encontrei com um “conhecido da vida toda” lá no restaurante do Jurandir Meirelles, ele me cumprimentou e veio até mim e disse “Pedro, você sabe que sou de direita, né? (bem, eu não sabia que ele era de direita, afinal ele participou do governo do Toninho e da Izalene).

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Ele continuou e disse: “gosto muito de você; você sabe disso (eu não sabia desse amor todo, mas de fato nos conhecemos no final dos anos 1980 e sempre mantivemos uma relação muito cordial), e ele completou: “você é inteligente e culto, mas seus artigos têm exageradas críticas ao capitão”. 

Chegou ao ponto.

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E, finalizando seus comentários sempre válidos, perguntou: “Pedro, você não tem medo de perder clientes? Afinal o leitor do CORREIO é mais conservador... Compreendo que Lula é o seu herói, mas o capitão é herói de muita gente também”.

A essa altura a Celinha já havia escolhido a nossa mesa, recebia a atenção do maitre - e o bom-senso dizer que eu deveria dar atenção a ela -, estava apenas começando o debate, por isso, apesar de sentir o devastador olhar de censura da Celinha gelando a minha alma, não podia encerrar a conversa sem colocar os “pingos nos ís”. Assumi o risco.

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Então disse ao meu incansável interlocutor: “de fato, as vezes exagero nas críticas, talvez eu pudesse suavizar os adjetivos, mas não posso alterar o conteúdo dos textos, não sou um hipócrita, e, creia, meus heróis são meus pais e meus avós, Lula está longe de ser um herói para mim”, mas eu tinha de responder educadamente toda provocação, como fazer isso?

Lembrei de uma crônica do mestre Duílio Battistoni Filho erespondi ao meu interlocutor: “eu fico ao lado de gente como Padre Joaquim Anselmo de Oliveira, vigário da Paróquia Nossa Senhora da Conceição e um dos símbolos da resistência à escravidão”. 

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O pároco, segundo Duílio Battistoni Filho, “...em seus sermões, criticava o regime de força a que os negros eram submetidos”, não se importando com o incomodo que causava àqueles que frequentavam sua paróquia.

O mestre registrou ainda que, em razão de suas posições, o pároco foi acusado injustamente de ter vendido “... uma lâmpada de prata e resplendores de ouro das imagens de santos de sua igreja. (...) Submetido a um tribunal, foi defendido pelo vereador Antônio de Moraes Sales, que o absolveu imediatamente. A verdade é que o episódio não passou de um plano arquitetado por alguns senhores de escravos para desmoralizar o pároco”. 

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Em complemento disse ao meu conhecido: “não posso trair quem eu sou, apenas para ser mais agradável a quem quer que seja, apesar de me manter aberto a ser convencido dos meus erros e equívocos.”

E ele me perguntou, como que afirmando: “Então você é uma espécie de Dom Quixote?”. Eu discordei, pois vivo a realidade e procuro escrever sobre ela, segundo a minha percepção do mundo e Dom Quixote vivia em delírio. 

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Por que Dom Quixote não seria um bom parâmetro? Vamos lembrar da obra: “Dom Quixote de La Mancha é uma obra escrita pelo espanhol Miguel de Cervantes e Saavedra, um clássico da literatura universal, que relata as desventuras de um ingênuo e fidalgo cavaleiro medieval, Dom Quixote, que tem ao seu lado seu decrépito cavalo Rocinante e seu fiel amigo e escudeiro Sancho Pança, sua consciência.

Dom Quixote cria seu próprio mundo ao se lançar em diversas aventuras; vai em busca de justiça e de sua bela donzela imaginária, Dulcineia de Toboso. Ele vive em delírio, contudo, há no romance um caráter realista, cabendo a Sancho Pança apresentá-lo. 

Em meio a sua “loucura”, Quixote trava batalhas com moinhos de vento - que imaginou serem gigantes -, além disso, guerreia contra o “exército de ovelhas”, não é o meu caso, procuro debater a realidade, na perspectiva constitucional e da social-democracia. 

A história acaba quando Dom Quixote volta ao “mundo real”, ou seja, quando ele retorna à casa e percebe que não há heróis no mundo (confesso que foi uma leitura difícil, eu tinha pouco mais de quinze anos, mas contei com generosa colaboração e de muitas explicações, de meu avô Pedro). 

Por isso tudo, disse ao meu conhecido: “acho que eu seria um bom Sancho Pança; a mim cabe trazer pontos de vista ao debate e, como Sancho e o Padre Joaquim Anselmo de Oliveira, apresentá-los à necessária reflexão, sem preocupação ou medos, tendo em perspectiva aproximar do mundo real tantos quantos meus textos consigam alcançar”, minha missão é ajudar os outros, provando-lhes que são capazes de pensar. 

Não acredito em heróis, acredito nas pessoas simples, nos seus exemplos e no que representam; acredito na democracia, nos democratas e na nossa missão constitucional, que é: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, sempre observando os fundamentos da: soberania; cidadania; dignidade da pessoa humana; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político, todo o resto é conversa mole.  

Essas são as reflexões de hoje. 

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