Dois pesos e duas medidas nas cobranças do mercado a Lula

"Muitos dos que exigem hoje posicionamentos de Lula e Haddad fingiram não ver quando Bolsonaro fez gato e sapato da responsabilidade fiscal", diz Helena Chagas

Lula e Fernando Haddad
Lula e Fernando Haddad (Foto: Ricardo Stuckert)


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Por Helena Chagas, para o 247

Será que alguém esperava que o governo Lula não tirasse as estatais da lista de privatizações? Isso era tão certo quanto o fato de Jair Bolsonaro estar a essa hora comendo frango frito em Orlando. O discurso de posse em que Lula falou da "estupidez" do teto de gastos para, em seguida, dizer que tem responsabilidade, também não fugiu ao padrão que marcou a campanha. Fernando Haddad, por sua vez, tem feito pronunciamentos mais do que equilibrados em suas poucas horas como ministro da Fazenda.

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Por que então os chiliques do mercado?

Alguns de seus representantes chegam inclusive a apontar uma falsa derrota de Haddad na questão das isenções tributárias dos combustíveis, inaugurando, desde já, a suposta - e esperadíssima - disputa entre o novo ministro da Fazenda e a ala política-petista do governo. Como se Haddad, ele próprio um político do PT,  tivesse se tornado neoliberal da noite para o dia. Estaria, no mínimo, do lado errado, segundo a narrativa corrente. Afinal, o espetáculo que a plateia quer assistir é seu embate com Simone Tebet, a nova ministra do Planejamento.

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Na verdade, a medida provisória que Lula assinou prorrogando por 60 dias essas isenções - com exceção dos casos do gás e do diesel, isentos até o fim do ano - não representou vitória de ninguém, a não ser do bom senso. Estabeleceu prazo para retirada do subsídio, que será preparada. Tempo também para se discutir a nova política de preços dos combustíveis. Evita-se, assim, impacto maior na inflação.

Haddad não perdeu nem ganhou, assim como ninguém até agora - exceção talvez de investidores que caíram na conversa da insegurança. Esta foi enriquecida por cobranças de que não basta, a um ministro da Fazenda que assumiu literalmente anteontem, prometer apresentar ao país uma nova âncora fiscal ainda no primeiro semestre do ano. Deveria já tê-la detalhado, cobram essas vozes.

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O que as absurdas cobranças a um governo que completa hoje 72 horas mostram é que boa parte do establishment continua a usar dois pesos e duas medidas em relação a inquilinos do Planalto. Muitos dos que exigem hoje posicionamentos de Lula e Haddad fingiram não ver quando Bolsonaro fez gato e sapato da responsabilidade fiscal.

O que nos leva a concluir que, nessa parte do universo, continua tudo igual. Do outro lado da oscilação do dólar e das bolsas, muita gente, como sempre, especulando e ganhando. 

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