Dois mundos em choque

Sempre que manifestações de rua juntam pessoas com posturas contraditórias, com um campo progressista e o outro de direita, aparecem personagens que ressaltam ideias e sentimentos antes ocultos. São dois mundos em confronto. Em guerra. São dois modelos humanos. Um assusta!



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Prezado amigo ‎Geovane Martins Teixeira, Rio Grande, RS

Acolho com fraternidade e profunda solidariedade as tuas palavras a mim dirigidas na linha do tempo de minha página no Facebook. Ali expressas a consciência e a alma de um lutador que se recusa a aceitar que as injustiças e o esmagamemento dos direitos dos trabalhadores sejam normais, que temos que aceitar cabisbaixos. Tuas palavras me fortalecem e animam. Obrigado.

Sempre que manifestações de rua juntam pessoas com posturas contraditórias, com um campo progressista e o outro de direita, aparecem personagens que ressaltam ideias e sentimentos antes ocultos.

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São dois mundos em confronto. Em guerra. São dois modelos humanos. Um assusta!

Pois no domingo, dia 31 de julho, duas personagens estamparam em Curitiba o que se passa pelo Brasil em crise e com a democracia golpeada pela quadrilha ocupante do Congresso e do Planalto.

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De um lado Letícia Sabatella, uma mulher bela, uma grande e talentosa atriz, caminhava e conversava com pessoas no centro da capital do Paraná. Na rua era uma mulher preocupada com os rumos de um golpe que avilta a todos nós. Conversava com uma senhora e registrava pelo celular a passeata dos que pediam golpe militar, dos que desprezam a democracia e dos que deliram pensando que Sérgio Moro é deus, embora este tenha certeza de que o é.

Do lado de Letícia a voz da mulher não pau de arrasto do machismo. A atriz nunca disse que era petista, muito menos comunista. Pelo contrário, de forma honesta já discursou que não concorda com muita coisa do governo petista, cuja matriz ideológica não tem nenhuma relação com o socialismo. O que a une com o campo de luta é a consciência de quem percebe o descalabro a que o golpismo encaminha o Brasil e do quanto todos perderemos com a aventura galopante dos golpistas.

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Do outro lado, mas não distante nem ignorado pelo mundo de Letícia e pelos verdadeiros democratas, expunham-se os gruídos das desavenças, da desunião, da despolitização, da desonestidade, da irresponsabilidade e das expressões mentirosas de uma classe dominante grosseira, branca, privilegiada e corrupta.

Como que vertendo das pedras frias das ruas de Curitiba, em forma de apedrejamento arremessado com fúria, homens e mulheres machistas, cujos raciocínios desprezam o cérebro para esguichar-se dos intestinos, diziam: "sem-vergonha", "chora, petista", "puta", "nossa bandeira jamais será vermelha" e "vai embora, tira ela daqui".

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Impressionante, não é?

Vale ressaltar as marcas do discurso violento e raivoso, sinalizador dos desejos de eliminar os direitos sociais. Uma é a da mentira: coisas sem pés nem cabeça, completamente absurdas, mas ditas com olhos incendiados, com os vasos sanguinos dilatados com o sangue quente, como óleo escaldante e aos berros, se impõem como verdade em carnes e ossos. É assim também que são feitos os comentários despolitizados, racistas, preconceituosos e criminosos pelas redes sociais e sob artigos sérios de colunistas que se preocupam e se ocupam com o Brasil.

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Nessas pedras disparadas contra Letícia, por exemplo, o que há de sério, digno e que mereça um mínimo de atenção? Mas os vira latas se preocupam com isso? Não. Claro que não. Tudo o que lhes importa é destruir e provocar a ira das pessoas para rebaixá-las ao seu nível, ao chão onde se movem os micróbios contagiantes.

Para demonstrar o quanto o desnível de intelectos vazios se espraia por todos os cantos do Brasil, do Rio Grande do Sul se levanta a voz ofensiva, agressiva, machista e reacionária de um médico.

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Coisa horrível, um médico ofender as pessoas e se colocar no contraponto da desumanidade.

Pois é, para vergonha dos médicos bons e honrados e das pessoas orientadas por formação séria e humanista, o senhor Milton Pires fez companhia para a matilha de Curitiba, mesmo rosnando em outro dia, em outro mês e em outro lugar.

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Pires, já conhecido por suas posições de direita e de visão mercantilista, irritou-se com sua colega, a médica e cantora Júlia Rocha, porque ela defendeu um paciente humilde e pobre que foi humilhado por falar "peleumonia", ao invés de pneumonia.

Olha só, amigo, o quanto o plano de tela da alma da direita é o mesmo, mudando apenas algumas figuras e alguns traços. Milton escreveu em sua página as seguintes barbaridades a respeito de sua colega Júlia Rocha: sugeriu que a médica integra um grupo de "bandidos petistas" e de blogueiros pagos pelo partido. "Conheço o tipo... Esse é o tipo de gente que sai escrevendo que 'agora é a vez da senzala' e 'a casa grande não admite'. Essa aberração NÃO é médica, nem preceptora, nem cantora, nem p... nenhuma", escreveu o sacripanta.

Tais preconceitos alinhados com os partidários das manifestações de 31 se assemelham a de outros racistas que agrediram Júlia pelas redes sociais, escrevendo um carrossel de ofensas sobre seus cabelos e negritude: "com vergonha da cor, essa tribufu oxigena a juba para parecer menos negra. Típico de esquerdista e mal-amada", disse um. "Muito top esse cabelo ecológico, deve ter até mico leão dourado", afirmou outro.

O fundo ideológico das palavras deles é o mesmo. Tanto os de Curitiba como o desonrado gaúcho e os racistas fascistas das redes sociais vomitam chamas de fogo do inferno com o objetivo de destruir as pessoas de quem discordam, mesmo que nada entendam ou mintam sobre o que parecem ser vários temas.

Agora vejamos, o que ofendeu diretamente Letícia Sabatella, chamando-a de "puta", mandando-a para Cuba e se dizendo lutador contra a corrupção, é Gustavo Abagge. Segundo denunciou o jornalista Bob Fernandes, trata-se do filho de Nicolau Elias Abagge, presidente do Banestado em 1998, época do desfalque bilionário de sonegação que foi noticiado pela Carta Capital em edição extra, na época, como "a maior lavagem de dinheiro do mundo".

O juiz Sérgio Moro abafou o caso naquele contexto e ninguém foi preso, apesar de o pai do ofensor de Sabatella ter como pena sugerida dez anos de prisão.

Mais outro "impressionante"! Quer dizer, quem ofende em nome do combate à corrupção é corrupto de pai, mãe e deformação?!

São mesmo dois mundos em choque, dois palcos onde dois tipos de personagens entregam suas mensagens.

Num atuam os demônios, os hipócritas, os do mal, os mentirosos.

É claro que eu não gosto de pensar, escrever e de falar sobre essas coisas. Não considero elegante a repetição do palavreado dos desse mundo do mal. Mas é preciso que se os denuncie e que se escancare os vocabulários grotescos e suas almas daninhas.

Esse discurso perpassa toda a nossa realidade hoje, todo o noticiário e envenena relações até entre amigos e amigas.

Porém, é preciso dar atenção e mobilização com toda a força ao outro palco, o do bem, o da bondade, onde atuam pessoas e gente amorosa, como a atriz e a médica e cantora negra. Ali vertem com força as razões, sensibilidades e amostras de consciência de classe, que percebe que as transformações só podem se dar pelos caminhos do amor, da tolerância e do congrassamento das pessoas na busca dos acertos.

Depois de registrar BO, denunciando com razão as agressões dos corruptos e violentos, Letícia disse: "Eu sinto muito por eles estarem vendo as coisas dessa maneira, com tanto ódio"; "eles criaram uma energia" negativa.

Quanto ao ato contra o golpe Letícia disse que foi "amoroso" e "as pessoas estavam felizes".

Antes de amarrar essas ideias deixa-me acrescentar que nessa mesma linha se manifestou a médica ofendida por sua etnia e pela sua opção filosófica de realizar uma medicina comunitária e familiar e não exploradora do sofrimento alheio, aproveitando-se para lucrar em cima das doenças das pessoas. Júlia Rocha, ao postar as ofensas que recebeu em sua página, comoveu-me ao escrever generosamente: "Meu coração chega a doer só de pensar que esse é o mundo que minha filha ou meu filho viverá".

Noutras palavras, Letícia e Júlia, diferentemente dos rancorosos de direita, têm compaixão deles e do mundo que desejam para a posteridade.

Fico com os papeis de bondade, coincidentemente de duas mulheres artistas e poetas, Letícia e Júlia, animado por lutar sem nada lucrar para construir um mundo mais justo, culturalmente com mais espaços para cantar, curar, criar, declamar e amar, sem a destrutividade contra quem pensa e é diferente!

Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz sociais.
Dom Orvandil, OSF: bispo cabano, farrapo e republicano, presidente da Ibrapaz, bispo da Diocese Brasil Central e professor universitário, trabalhando duro sem explorar ninguém.

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