Do acidentado ao imposto do desempregado, Bolsonaro dá discurso para Lula

Helena Chagas, dos Jornalistas pela Democracia, escreve sobre a sequência de medidas econômicas do governo que castigam os mais pobres, como a cobrança de impostos sobre o seguro desemprego, e conclui: "É, Bolsonaro, desse jeito vai ficar fácil para o Lula construir o discurso…"

(Foto: PR)


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Por Helena Chagas, no Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia - De uma só tacada, o governo Bolsonaro resolveu tirar dos cidadãos o direito ao seguro do DPVAT em caso de acidente e onerar os desempregados, cobrando alíquota previdenciária de 7,5% sobre o…. seguro desemprego! Parece brincadeira de mau gosto, mas não é. As duas medidas são aparentemente independentes e não relacionadas, a não ser em sua essência mais básica: com elas, o Estado tira recursos dos mais vulneráveis e desprotegidos para preservar os mais afortunados.

Será muito bom se a medida governista gerar empregos para os mais jovens, entre 18 e 29 anos, ainda que os trabalhadores com mais de 55 anos tenham ficado de fora do plano na última hora. Mas é preciso, antes, ver para crer. Ver se os incentivos às empresas, que terão redução de cerca de 30% nos encargos da folha, vão funcionar.

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Já vimos esse filme antes, em outras desonerações, em que os empregadores embolsaram seus benefícios muito bem, obrigada, mas produziram poucos empregos na contrapartida. Nesse caso, o maior temor é que as empresas comecem a substituir trabalhadores mais velhos pelos jovens que vão custar mais barato e tudo acabar num zero a zero nos números do desemprego. E o sujeito que receber o cartão vermelho ainda vai ajudar a custear a contratação do jovem que o substituiu pagando imposto sobre o seguro-desemprego.

Está longe da justiça social também o fim do seguro obrigatório para acidentes, sob a justificativa de que há muitas fraudes e que, ao fim e ao cabo, quem sofre acidente pode ser atendido pelo SUS. Se há fraudes, que se fiscalize e ponha seus autores na cadeia. Mas o seguro tem alcance bem maior do que o tratamento médico imediato das vítimas.

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Nesse assunto, aliás, se confirmados os rumores sobre a motivação presidencial da medida, estaremos diante de um escandaloso caso de utilização dos recursos do Estado com fins pessoais: consta que uma das maiores seguradoras do consórcio que hoje explora o pagamento do seguro obrigatório pertence à família do presidente do PSL, Luciano Bivar — o novo arquiinimigo preferido de Jair Bolsonaro, que está deixando o partido…

É, Bolsonaro, desse jeito vai ficar fácil para o Lula construir o discurso…

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