Djamila Ribeiro mostra um Pelé que os brancos não puderam ver
"Djamila se apoia nos relatos e lembranças de seu pai, um corintiano fanático, e mesmo assim capaz de apreciar o talento do santista Pelé", escreve o jornalista
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Por Paulo Moreira Leite
Titular de um currículo acadêmico impecável -- Mestre em Filosofia, coordenadora de coleções feministas --Djamila Ribeiro produziu o mais surpreendente e sensível registro sobre a importância de Pelé para brasileiros e brasileiras.
O texto ( "O orgulho que meu pai tinha me mostrava a influência do Rei Pelé"), disponível no UOL, é um depoimento na primeira pessoa. Nascida em 1980, três anos depois que Pelé pendurou as chuteiras, no Cosmos de Nova York, após dois bi campeonatos mundiais pelo Santos e o Tri com a Seleção Brasileira no México, o texto de Djamila se apoia nos relatos e lembranças de seu pai, um corintiano fanático, e mesmo assim capaz de apreciar o talento do santista Pelé, fortalecendo a auto-estima de homem preto enquanto assistia aqueles dribles espetaculares e os gols de gênio.
Djamila escreve: "O orgulho que meu pai tinha me mostrava desde cedo o poder que o craque exerceu no imaginário de pessoas negras, sobretudo em homens negros, numa época de construções aviltantes à dignidade do povo. Um rei negro em um país racista quem imaginaria uma ironia dessa."
Mais tarde, Djamila casou-se com Donald Verônico, que a deixou próxima do futebol mais uma vez. Seu sogro era o ponta-esquerda Abel, estrela negra num tempo em que o Santos era uma usina de grandes craques, que disputava a posição com Pepe, chamado de Canhão da Vila pela força de seus chutes.
O sogro Abel, enquanto isso, chamava a atenção pela técnica dos dribles, a precisão de seus passes. Djamila fala do "Santos de Pelé" de um ponto de vista peculiar, onde era possível assistir a "lições do rei esbanjando futebol para audiências racistas, que o xingavam da entrada à saída".
Este é o ponto. A preta Djamila recorda o preto Pelé como alvo "dos zagueiros brancos furiosos e dispostos a quebrar suas canelas, mas levarem cotoveladas de volta; de saírem das jogadas driblados, goleados, estatelados no chão, vendo ele ser ovacionado. De pele preta, espinha ereta e faro dos mil gols, Pelé foi soberano."
E aqui chegamos a uma bela mensagem sobre Pelé. Num país que na época alimentava a fantasia da democracia racial e jamais ouvira falar de racismo estrutural nem nos círculos acadêmicos, o talento e a combatividade daquele gênio brasileiro dos gramados ajudavam mulheres e homens de pele preta a enxergar uma realidade o mundo branco não permitia ver. Um soberano, genial e único.
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