Ditadura

Eu era criança, quando meu pai, o Poeta Ronaldo, foi escolhido pelo povo da nossa adorada Campina Grande para conduzir seus destinos na Prefeitura. Mas ele foi cassado com base no Ato Institucional nº 5, editado no final do ano anterior



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Com ditadura, não se brinca! Aprendi desde menino. Ditadura é o comando contrário ao desejo do povo, a quem se deve o Poder, de quem o poder não sai e através de quem o poder tem que ser realizado.

Eu sempre me realizei em casa cheia de gente. Daí, meu afeto por povo! Nasci em eleições e nunca – mas nunca mesmo – deixei os abraços pelos confortos dos gabinetes, tão comuns às ditaduras e a seus gestos. Ditadura é tão ruim, que vicia até a vítima, pelo descrédito na própria força.

Eu era criança, quando meu pai, o Poeta Ronaldo, foi escolhido pelo povo da nossa adorada Campina Grande para conduzir seus destinos na Prefeitura. A eleição foi tão linda quando exigente: o poeta enfrentava um emblema da tradição campinense, mas exibia a renovação e a coragem de enfrentar aquele momento em que o Golpe Militar de 1964 tornava-se ainda mais duro e militarizado.

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O poeta venceu!

A Prefeitura, não passou de alguns dias a esperança do povo.

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O Poeta foi cassado com base no Ato Institucional nº 5, editado no final do ano anterior.

Perdeu o povo campinense a indicação e o mandato que outorgara nas eleições! Mas, não apenas o povo! Perdemos também nós: o poeta e a família.

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Quando saímos da Campina, porque não podíamos ficar na cidade, sem riscos à vida – inclusive e principalmente social -, deixamos amigos, a rua, o bairro…

Lembro, agora, o campinho do Pé de Jaca, na casa de vovó Nenzinha, onde disputávamos nossas partidas de futebol, imitando a seleção bicampeã do mundo, com os nomes, símbolos e gestos dos jogadores.

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Quando saímos da cidade, eu olhei para trás e ainda guardo os rostos de Estélio, do Mago Eduardo, de Henrique Neguin e de Gilbran Asfora. Ainda hoje, eu os vejo cintilando nas lágrimas.

Chegamos ao Rio de Janeiro ainda com lágrimas, com a cultura nordestina, com o sotaque e essas lembranças.

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Ainda que a cidade do exílio pudesse ser nossa, Campina foi deixando de ser lembrança e passou a ser objetivo. Mas, tudo a custo de muita discriminação, que superamos com a coragem de quem quer sempre voltar.

Ainda criança, eu aprendi que ditadura não é brincadeira.

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*Cássio Cunha Lima  é senador pelo PSDB da Paraíba

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