Disputa no e-commerce de varejo no Brasil e a plataformização

"Corporações constituem na prática uma potente arquitetura do fenômeno da plataformização, que se desenvolve com tendências monopolistas conferidas pelo avanço tecnológico dos meios de circulação (digital e logístico)", diz o colunista Roberto Moraes. "Empresas-plataformas contribuem para ampliar a precarização sobre o trabalho e a retirada de direitos", acrescenta

(Foto: Reprodução)


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O primeiro ensaio “Commoditificação de dados, concentração econômica e controle político como elementos da autofagia do capitalismo de plataforma” [íntegra aqui], trouxe uma síntese como contribuição para o aprofundamento e debates sobre o fenômeno da plataformização que produz significativas transformações no modo de produção capitalista no mundo contemporâneo. Nele foram apresentadas interpretações teóricas sobre o capitalismo de plataformas, dados empíricos e análises sobre a expansão do uso das redes sociais e dos streamings e a relação disto com o processo de plataformização.

Nesse segundo texto "Disputa no e-commerce de varejo no Brasil: entre o intangível do digital e a materialidade da infraestrutura de logística" [íntegra aqui] o foco são as dimensões econômica e espacial sobre o movimento do comércio eletrônico (e-commerce) no Brasil nos últimos anos. As análises nessas dimensões permitem que se avance nas investigações sobre o processo de plataformização, como importante elemento que contribui para o deslocamento do capitalismo contemporâneo. 

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O comércio eletrônico (e-commerce) do varejo no Brasil e no mundo se expandiu com a pandemia e com o uso massificado das plataformas digitais. O e-commerce representa a articulação entre o virtual da plataforma digital e o real da logística de entrega da mercadoria, uma junção que explica a plataformização neste tipo de negócios e deixam claras, entre outras, as razões e as motivações que cercam a privatização dos Correios no Brasil.

Esse estudo avalia os movimentos das maiores varejistas do e-commerce no Brasil: Magazine Luíza; B2W (Americanas, Submarino e Shoptime); Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio); Mercado Livre e Amazon. E também comenta a atuação da chinesa Alibaba no Brasil que já é o seu quinto maior mercado no mundo.

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O varejo é a atividade comercial em pequenas quantidades. É a última etapa do modo do produção capitalista que depende ainda da circulação para fazer chegar a produção ao consumidor. O varejo é classificado em vários setores de comércio em pequenas quantidades, mas o e-commerce tornou as fronteiras extremamente tênues, porque essas empresas cada vez vendem quase todo tipo de produto.

A pandemia só acelerou um processo que já estava em curso. No início do segundo semestre de 2020, o varejo vive uma expansão extraordinária do comércio eletrônico (e-commerce) em todo o mundo. O uso das plataformas digitais tornou essas fronteiras entre os tipos de varejo ainda mais tênues. As empresas-plataformas ao investirem no e-commerce e no marketplace (venda entre outros lojistas dentro de suas plataformas) passaram a ter uma atuação mais ampla, mesmo que mantendo foco e a prioridade nos ramos originais de seus negócios.

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Sobre essas transformações, a UNCTAD (Agência das Nações Unidas para o Comércio e do Desenvolvimento) afirmou, após pesquisa feita em nove países, incluindo o Brasil, que a “pandemia da covid-19 mudou o consumo on-line para sempre” ... “acelerou a mudança para um mundo mais digital, transformando a maneira como o consumidor faz suas compras via internet.” É sobre essa realidade no Brasil que esse ensaio aborda, analisando fatos, agentes e os processos mais recentes desse setor de e-commerce do varejo. A análise contemporânea do setor de varejo permite identificar a relação existente entre o universo digital e o mundo real, quando o intangível do fluxo informacional se encontra com o tangível da logística de transportes dos produtos como etapa e elemento do capitalismo de plataformas.

As grandes corporações do varejo têm como projeto reduzir a descentralização que historicamente o setor possuía no Brasil. As empresas projetam uma atuação maciça apenas das players que, se levada a cabo, reduzirá significativamente parcelas dos comércios locais. O comércio local está sendo, paulatinamente, reduzido a alguns setores e em muitos casos também ligados às redes nacionais e às franquias, que em boa parte são hoje também controladas pelos fundos financeiros. Desta forma, os excedentes econômicos regionais estão sendo capturados pelas plataformas digitais que são, em última instância, também controladas pelas Big Techs que funcionam como plataformas-raiz. 

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A captura da distribuição e das vendas diretas de mercadorias (que antes eram realizadas pelos comércios locais) por parte das empresas-plataformas digitais já provoca desdobramentos importantes que também necessitam ser melhor investigados, no que diz respeito aos arranjos e aos circuitos econômicos regionais e de organização das cidades. 

O crescimento em ritmo muito acelerado do varejo online (e-commerce) está também produzindo uma expressivo rearranjo do setor de logística, atrelado às empresas-plataformas e aos seus esquemas de marketplace. O universo digital do e-commerce – considerado como atividade intangível (virtual) por alguns – se vinculou ao mundo real e material da infraestrutura de logística através das plataformas digitais.

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As plataformas digitais (empresas-plataformas) conectam e fazem a intermediação entre dois mundos reais: o digital dos fluxos informacionais e o material da logística. Os fluxos digitais são intangíveis, mas também não prescindem do que também é material e tangível, como as infraestruturas com instalações de cabos, redes, computadores, expertises qualificadas em tecnologia da informação e comunicação (TIC), da mesma forma que precisam dos caminhões e armazéns gigantes da infraestrutura de logística.

Ambas as estratégias se desenvolvem na etapa de circulação da mercadoria, exatamente onde as empresas-plataformas lucram, ao extrair valor dessa etapa em si, mas também da produção e ainda da fase da distribuição para o consumo, que antes era feita, direta e exclusivamente, pelos comércios locais. Assim, o controle desse processo passa a ser feito pela etapa de circulação das mercadorias. É nessa etapa que a arquitetura digital-logística confisca enormes volumes de renda que agigantam essas empresas a partir do trabalho de intermediação que realizam.

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As plataformas digitais e logísticas são em boa parte ativos das gestoras de fundos financeiros que, como proprietários dessas corporações, controlam a etapa de circulação informacional e material e assim completam e realizam a captura e a concentração das rendas extraídas de todo esse processo que está emergindo da nova etapa da reestruturação do modo de produção capitalista. 

Na condição de oligopólios, as corporações constituem na prática uma potente arquitetura do fenômeno da plataformização, que se desenvolve com tendências monopolistas conferidas pelo avanço tecnológico dos meios de circulação (digital e logístico) que constituem a hegemonia atual do capitalismo financeiro-informacional, como etapa posterior às fases comercial e industrial.

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Enfim, esse ensaio sobre o e-commerce do varejo, além de expor a relação entre o universo digital e o mundo real, quando o intangível do fluxo informacional e o tangível da logística de transportes dos produtos se encontram, também demonstram como as plataformas digitais, como instrumento do capitalismo de plataformas, extraem valores e riqueza da produção e da distribuição para o consumo das mercadorias. Assim, essas empresas-plataformas contribuem para ampliar a precarização sobre o trabalho e a retirada de direitos sociais visando garantir maiores lucros e acumulação de capital no andar superior. É neste andar superior que o setor de tecnologia foi abraçado pela hegemonia financeira dos capitais de riscos e fundos e, assim, constituíram, esse novo oligopólio, quase que onipresente, sobre quase tudo que envolve a sociedade no mundo global na contemporaneidade.

É neste contexto que apresento mais este texto-ensaio que também buscou uma interpretação que une uma extensa pesquisa empírica sobre o desenvolvimento das plataformas digitais com a teoria, conceitos e categorias, na expectativa de estar contribuindo para ampliar a compreensão sobre as profundas transformações que o fenômeno do “plataformismo” exerce sobre o “modo de produção capitalista” no mundo contemporâneo.

PS.: 1- Abaixo, o quadro sobre as cinco maiores (players) Empresas-plataformas digitais de e-commerce de varejo que atuam no Brasil.

redes varejistas

2 - Link para o texto na íntegra para este segundo ensaio: Disputa no e-commerce de varejo no Brasil: entre o intangível do digital e a materialidade da infraestrutura de logística.

infraestrutura logistica

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