Discurso na ONU mostra que Bolsonaro é incontrolável

"Não se pode ensinar razão a um delirante. Não se pode ensinar democracia a um candidato a tirano. Bolsonaro é incontrolável. A única maneira de controlá-lo é retirá-lo do poder", escreve o sociólogo Marcelo Zero

Jair Bolsonaro discursa na abertura do Debate Geral da 76a Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas
Jair Bolsonaro discursa na abertura do Debate Geral da 76a Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (Foto: Alan Santos/PR)


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Por Marcelo Zero 

A chamada “carta da rendição”, após a fracassada tentativa de golpe do 7 de setembro, criou a expectativa, entre os discípulos do Doutor Pangloss, de que  Bolsonaro poderia, de alguma forma, ser controlado pelas instituições e domesticado pelos grandes interesses econômicos, que desejam um chefe de Estado que não atrapalhe os importantes negócios internacionais.  

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A tênue ilusão durou pouco.

Na abertura da Assembleia Geral da ONU, Bolsonaro voltou a usar o maior palco mundial como palanque eleitoreiro e como plataforma privilegiada para divulgação de fake news destinadas a açular os fanáticos que ainda o seguem.  

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O Itamaraty havia preparado um pronunciamento destinado a reverter a péssima imagem atual do Brasil e a recolocar o país como playerresponsável  e racional no cenário internacional. Esperava-se que o discurso servisse de pontapé inicial para a superação do isolamento diplomático do governo Bolsonaro.

Mas o capitão, que comunga do desprezo à ONU que predomina na extrema direita mundial, jogou tudo no lixo. Usou a tribuna que foi antes ocupada por gente do calibre de Oswaldo Aranha para fazer um discurso digno de um miliciano de subúrbio.  

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Recheado de mentiras, o discurso começou, como sempre, com diatribes contra o suposto “comunismo” dos governos passados, que emprestavam dinheiro para ditaduras (mentira, o BNDES nunca financiou outros países, financiou e financia empresas brasileiras) e provocavam déficits bilionários nas estatais (outra mentira).  

Feito em tom desafiador e provocativo, totalmente em desacordo com a tradição diplomática do Brasil, o pronunciamento sequer apresentou propostas de cooperação para o tema da Assembleia Geral deste ano: Construindo resiliência por meio da esperança - para se recuperar de Covid-19, reconstruir a sustentabilidade, responder às necessidades do planeta, respeitar os direitos das pessoas e revitalizar as Nações Unidas.

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Afinal, Bolsonaro é a antítese da esperança.  

Bolsonaro chegou a apresentar o Brasil como “exemplo ambiental”, afirmando, inclusive, que o desmatamento em agosto foi reduzido em 32% em relação a agosto do ano passado. Não é isso, entretanto, o que afirma o Imazon. De acordo com esse instituto, em agosto de 2021, o SAD detectou 1.606 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal, um aumento de 7% em relação a agosto de 2020.

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Não vou aqui cansá-los com as mentiras proferidas no discurso. Precisaria de dezenas de páginas para comentá-las. Posso destacar, entre as muitas, a de que o Brasil está há 2 anos e oito meses sem casos de corrupção.

Posso afirmar, também, que a visão rósea e delirante do Brasil que ele apresentou ao mundo não convenceu ninguém com um mínimo de informação. Certamente, não convenceu nenhum investidor sério de que o Brasil é o melhor país para se investir.

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Impossível deixar de comentar que Bolsonaro terminou seu pronunciamento defendendo o “tratamento precoce” contra a Covid-19, assinalando que ele mesmo o fez.  

Ele, que foi para Nova Iorque orgulhoso de não ter atestado de vacinação, passou recibo mundial de ignorância, irresponsabilidade e negacionismo. Tal “recibo” se estende ao país que ele representa. Bolsonaro, mais uma vez, envergonhou o Brasil.  

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Fico aqui me perguntando o que os investidores internacionais poderão pensar de um país cujo presidente é uma clara dissidência do Homo Sapiens. Boa coisa não será.  

Com toda certeza, com Bolsonaro no ´poder, o Acordo Mercosul/UE não será aprovado e o país não entrará na OCDE. Chances nulas. E chances nulas também de ele ter um bom diálogo com chefes de Estado sérios e relevantes. Ficará estrito ao circuito diminuto da extrema direita mundial, composto por países como Polônia, a quem, em Nova Iorque, pediu pateticamente apoio para ingressar na OCDE.  

E as chances de o Brasil poder manter o que restou de sua democracia parecem diminuir a cada dia.  Bolsonaro, acossado pela imensa crise econômica, social e política que ele mesmo criou, pelas inúmeras denúncias de corrupção e pela popularidade em forte queda, fará o que sempre fez: partir para o confronto.  

Não lhe resta alternativa. Ao contrário da mentira sobre o crescimento do Brasil no próximo ano, proferida desavergonhadamente no discurso, a economia brasileira ficará estagnada em 2022. Assim, a crise tende a se aprofundar.  

Bolsonaro parece estar entrando em fase terminal. Isso o torna muito perigoso, pois tem pouco a perder.  

A tentação de tentar um novo putsch, quando ainda tem um número significativo de seguidores fanáticos e mobilizados poderá ser muito grande, caso seu derretimento político continue. Putsch esse que poderá até ser apoiado por setores da chamada “terceira via”, caso Lula e seu projeto progressista se tornem, de forma irreversível, francos favoritos para o pleito de 2022.  

Brecht dizia que a porca fascista está sempre no cio. De fato, os movimentos fascistas em sentido lato, como o bolsonarismo, são incontroláveis. Tem lógica própria, baseada no confronto permanente, que desconhece, muitas vezes, limites ditados pela racionalidade e pela própria realidade. O bolsonarismo é, nesse sentido, uma espécie de “terraplanismo político”, uma “cloroquina ideológica”.  

O dilema parece cada vez mais claro: ou o Brasil acaba com Bolsonaro ou Bolsonaro acaba com o Brasil. E o Brasil está acabando depressa.

O país não pode mais conviver pacificamente com sua Nêmesis institucional, econômica, social e sanitária.  

Hoje, o mundo percebeu de novo o que Bolsonaro realmente é. Uma ameaça à comunidade internacional.   

O Brasil precisa perceber que Bolsonaro é uma séria ameaça ao país, à democracia, às instituições e às brasileiras e brasileiros.  

Não se pode ensinar razão a um delirante. Não se pode ensinar democracia a um candidato a tirano.

Bolsonaro é incontrolável. A única maneira de controlá-lo é retirá-lo do poder.  

Passou da hora de todos os verdadeiros democratas perceberem isso.  

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