Discurso da sedição

O silêncio, a leniência com esse alarido da direita e dos seus inocentes úteis cheiram a conivência ou aceitação tácita do revanchismo e da retaliação



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Disse a tradição que não se deve falar em corda na casa dos enforcados. Foi um pouco o que aconteceu com os primeiros discursos da Presidente Dilma Rousseff, depois das eleições. O emprego retórico da palavra "unidade", "diálogo", "negociação" parece que gerou o efeito contrário da "desunião", "contradição" e "conflito". Paira no ar um sentimento de vingança, de revanchismo e retaliação por parte das hostes derrotadas e de seus aliados (de ocasião). O que se viu e se escutou nos últimos dias do candidato derrotado e do vice também derrotado, no Congresso Nacional, deixa muita dúvida se há de fato um clima para o entendimento e a concórdia, seja lá em torno do que for.

A presidenta reeleita pelo visto vai precisar de algo mais do que o apelo retórico em favor da unidade. Isto, numa conjuntura de muitas dificuldades na frente econômica e o encaminhamento da chamada "Reforma Política". É difícil encaminhar qualquer reforma digna desse nome, num ambiente de guerra e de ressentimentos. A política racional de produção de consensos democráticos em torno de uma agenda reformista (tributária, federativa, fiscal, política) só se dá entre interlocutores de boa-fé, verazes e interessados em chegar a um acordo. Não é o que se está observando por enquanto no cenário político brasileiro. Os ânimos não se acalmaram. As armas retóricas da campanha não foram ensarrilhadas.

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E o "animus bellum" é o que preside as relações parlamentares e interinstitucionais entre o Legislativo e o Executivo. Reformas que ora dependem do apoio e a boa vontade dos governadores, ora dos nobres parlamentares, ora das classes abastadas da população podem estar comprometidas pela ausência de clima e de vontade política entre as partes. E a presidenta vai precisar muito do apoio do Congresso ou de sua maioria congressual para aprovar os projetos de sua agenda política. Neste sentido, ela deveria acionar o seu vice para pacificar as bancadas peemedebistas no Parlamento. E nomear um ministro das Relações Institucionais com um trânsito entre os políticos e os partidos, pois está fazendo muito falta que faça isso em seu governo.

Outro aspecto crítico dessa nova gestão são as manifestações da classe média tradicional pedindo a volta da Ditadura Militar, para evitar uma "cubanização" do país. Alguma semelhança com o clima pré-1964? - Aonde estava essa mesma classe média, naquele momento? Nas cruzadas do Padre Payton em favor da família, da Igreja e da Propriedade? - O que há com estes setores, que toda vez que se sentem ameaçados pelo avanço dos mais pobres e miseráveis correm em busca dos quartéis? São democratas instrumentais? de conveniência? Não incorporaram os valores éticos e culturais da democracia em nosso país? Ou são escravocratas enrustidos, envernizados com a tinta rala dos ritos formais do regime democrático?

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A esse respeito, seria da máxima importância que a oposição legal e constituída dissesse que não patrocinam nem comungam com esse pensamento golpista. O silêncio, a leniência com esse alarido da direita e dos seus inocentes úteis cheiram a conivência ou aceitação tácita do revanchismo e da retaliação. Oposição democrática é aquela que reconhece a derrota, aceita as regras do jogo, não compactua com o golpismo e vai exercer legitimamente o seu papel constitucional nas casas legislativas do país. Ficar fazendo ameaças, bravatas retaliativas, chantagear o partido vencedor não é o que se espera de uma oposição consequente e responsável.

Para esse tipo golpista de oposição, vale o conhecido dito popular: "quem semeia ventos, colhe tempestades".

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