Discretas suspeitas sobre a estranha eleição ao Senado

Se os grampos ilegais sobre a presidente da República e toda a seletividade sobre tudo o que envolvia os diálogos de Lula já assustavam e indignavam, o que dizer agora, quando descobre- se que deliberadamente Moro omitiu diálogos em que Lula falava abertamente em não assumir cargo

Moro começa a perder força
Moro começa a perder força (Foto: Foto: Lula Marques / AGPT)


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As mais recentes revelações da Vaza Jato mostram mais detalhes do quão inescrupulosa foi a atuação do juiz Sérgio Moro e, igualmente, do Judiciário brasileiro ante os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT, 2003-2010) e Dilma Rousseff (PT, 2011-2016). Em edição de quarta- feira do programa O Dia em 20 Minutos, da TV 247, apontamos suspeitas sobre a relação entre a Justiça e as eleições para o Senado em que Dilma foi derrotada que, a partir da Vaza Jato, podem sim ser discutidas.

Se os grampos ilegais sobre a presidente da República e toda a seletividade sobre tudo o que envolvia os diálogos de Lula já assustavam e indignavam, o que dizer agora, quando descobre- se que deliberadamente Moro omitiu, ao vazar ilegalmente as conversas telefônicas à imprensa, diálogos em que Lula falava abertamente em não assumir cargo no ministério de Dilma justamente para não passar a imagem de estar fugindo da Justiça, narrativa produzida por Moro ao vazar o famoso diálogo do “Bessias”?

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Diante de tão imensurável falta de escrúpulos do juiz Moro e, dado o silêncio, também do Judiciário brasileiro, este espaço de discussões, que volta agora a discutir a política mineira, suscita o retorno ao debate sobre a misteriosa eleição para o Senado federal em 2018. Isto porque, se os dois principais nomes do PT despertavam tamanha rejeição da Justiça brasileira, controladora dos aparelhos da estrutura eleitoral do país, por que não esta mesma Justiça não poderia ter intervindo ilegalmente para subtrair de Dilma os votos que a alçariam à Alta Câmara no Congresso Nacional?

Não se trata de delírio. Os argumentos para o derretimento das intenções de voto em Dilma Rousseff, que liderava as pesquisas com 30% das respostas dos entrevistados contra distantes 12%, 10% de Carlos Viana (PHS) e Rodrigo Pacheco (DEM) (sendo que, ainda que caísse e perdesse a primeira posição, seria eleita na segunda vaga), estavam prontos: 1. As pesquisas para eleição de dois senadores não captam bem a votação porque ninguém responde o segundo voto. 2. Dilma era primeira colocada entre a sua base, petista, mas não era o segundo voto de ninguém. 3. O eleitor se informa para votar ao Senado na última semana, de modo que os votos com que Dilma liderava as pesquisas eram aqueles das camadas mais politizadas do eleitorado mineiro, onde o PT e a própria Dilma contavam com mais simpatia, sobretudo pela rejeição ao Golpe de 2016 e ao então presidente Michel Temer (MDB, 2016-2018).

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Entretanto, embora seja consistente afirmar que pesquisas para dois senadores não aferemcom precisão a preferência do eleitorado, também é necessário lembrar que nas duas outras ocasiões em que ela ocorreu em Minas Gerais, Hélio Costa (PMDB) e Eduardo Azeredo (PSDB) elegeram-se facilmente em 2002, assim como Aécio Neves (PSDB) e Itamar Franco (PPS) em 2010. Não é usual o eleitor apostar no escuro, como foi com Carlos Viana e Rodrigo Pacheco, nas eleições para o Senado, em que a decisão de última hora faz do recall eleitoral elemento decisivo. Tudo bem, havia o desejo de renovação, mas ele sozinho é argumento fraco para sustentar a não eleição de uma ex-presidente da República que, embora ainda rejeitada por grande parte da população, contava com a base de apoio do terço do eleitorado que, àquela altura, já compreendia bem os danos do Golpe de Estado. E eleição para o Senado não requer maioria absoluta. Basta a própria base.

Por fim, espanta que o mesmo fenômeno tenha se repetido com Eduardo Suplicy (PT) em SãoPaulo e Roberto Requião (MDB) no Paraná, que também lideravam na faixa dos 30% em seus estados, e derreteram em dois ou três dias para candidatos inexpressivos. Sempre ressaltando que a segunda posição igualmente lhes valeria uma cadeira na Alta Câmara, e que, portanto,  nos três casos, o primeiro colocado com o dobro de votos do segundo derreteu para a terceira colocação em três dias. No caso de Dilma, para a quarta, ainda atrás de Dinis Pinheiro (PP).

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Não há precedentes na história eleitoral brasileira e o desejo de renovação, a informação deúltima hora e a força das redes sociais como campanha subterrânea podem, sim, ter derrubado os três candidatos mais temidos pela extrema direita que domina o Judiciário. Mas tamanha coincidência, ainda mais quando violações da legalidade por parte da Justiça brasileira vêm cada vez mais à luz do dia, desperta discretas suspeitas.

Discretas. Ainda.

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