Direita versus extrema direita

A direita não é fascista. Conservadora, sim, mas em geral com aspectos democráticos, civilistas, humanistas

Bolsonaristas invadem o Congresso Nacional 8/1/2023
Bolsonaristas invadem o Congresso Nacional 8/1/2023 (Foto: Reuters)


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A inelegibilidade do capitão abre várias discussões, em especial quem o sucederá na liderança da extrema direita. Este é um momento oportuno de rever os conceitos de direita e extrema-direita e o papel que cada uma tem exercido no Brasil desde a implantação da república.

No tempo moderno, a direita nasce com o liberalismo, embora este, em seu nascimento, teve um caráter progressista contra a velha ordem feudal. Ao amadurecer, o liberalismo vai para o centro político, e mais tarde, o neoliberalismo adquire um nítido caráter de direita; mais: passa a fornecer bases para a extrema direita. Embora não se possa dizer que sejam iguais, irmãos siameses ou gêmeos, mas estão se aproximando cada vez mais como bons irmãos. 

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A direita não é fascista. Conservadora, sim, mas em geral com aspectos democráticos, civilistas, humanistas. Mas pode ser cooptada pelo fascismo em momentos dados, sempre que este se impõe. Ora, no Brasil republicano são poucos os momentos em que houve um forte movimento de extrema direita, seja de lideranças e partidos, seja de governos. De um modo geral tem predominados lideranças, partidos e governos de direita e liberais, embora seja necessário reconhecer que a direita brasileira conservou muito da ideologia escravista, autoritária e da submissão ao senhor maior.

Mas afinal, o que é a extrema direita? Entendo-a como a que é fascista, antidemocrática, repressora à oposição e aos movimentos sociais; defensora da submissão do Brasil ao império do norte; da concentração da riqueza; e da falta de olhar para os que sofrem a opressão econômica e social: “pobre que se dane!” é sua maneira de pensar. 

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No Brasil republicano, quais os movimentos e governos que podem ser classificados como de extrema direita? Durante a República Velha, nenhum outro governo foi tão antidemocrático e repressor como o de Arthur Bernardes (1922-1926). Combateu a ferro e fogo o movimento democrático do tenentismo que resultou na Coluna Prestes; seu resultado foi a Revolução do 30. Getúlio Vargas governou por 15 anos tendo variado sua posição e implantado o Estado Novo quando chegou a namorar com o fascismo. Mas recuou e findou entrando na guerra contra o eixo nazista. Em seu período houve o movimento de extrema direita do integralismo, os Galinhas Verdes de Plínio Salgado. Conseguiram alguma penetração popular, até por força da ascensão do nazi-fascismo no mundo. Mas naufragou sem deixar maiores herdeiros. 

No pós 45, foi apenas no meio militar que se desenvolveu uma extrema direita, fomentada pela nova máquina de guerra criada pela pelo império do norte e sua guerra fria contra o socialismo, e pelo domínio do mundo. As expressões políticas e intelectuais da extrema direita foram pouco significativas. Setores militares tentaram algumas vezes a implantação de governos de extrema direita, mas não obtiveram êxito nem ressonância popular. Somente o conseguiram em 64, quando, ganhando a direita e o centro, adquiriram apoio popular. A ditadura militar que perdurou até 1985 foi o mais longo período de predomínio da extrema direita no Brasil: 21 anos! Seguiram-se 30 anos de democracia com avanço para a esquerda, com os governos Lula e Dilma. Mais uma vez a extrema direita cooptou a direita e o centro, promoveu o golpe contra Dilma e impôs o Michel, antigo informante da CIA (não sei se continua a informar), que preparou o caminho para o Planalto ao mais fiel – e incompetente – representante da extrema direita brasileira. Foram quatro conhecidos anos de obscurantismo. 

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Restabelecida a democracia com um novo avanço para a esquerda com Lula III, e Bolsonaro inelegível, para onde vão a direita e a extrema direita?

Devemos diferenciar uma d’outra. A direita, com o centro – e ai vão tentar cooptar a centro-esquerda – procurará restabelecer seu papel no cenário político, papel que perdeu pelo esgotamento de seu projeto capitaneado pelo PSDB, conspurcado que foi pelo Aécio Never, e que se consolidou com a vitória do capitão que mereceu seu apoio envergonhado. Mas a direita junto ao centro é uma força política nada desprezível: se se unirá, ou quando voltará a se unir, são outros quinhentos. A liderança de Lula e seu surpreendente governo de reconstrução nacional é um elemento de atração muito forte, não perderá a hegemonia facilmente. E do outro lado, a extrema direita terá muita dificuldade em cooptar novamente a direita e o centro: a experiência recente foi traumática!

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No outro extremo do espectro político, restará a extrema direita com toda a gama dos protofascistas descobertos pelo bolsonarismo – cerca de 15%, não muito mais, do eleitorado – que não deixa de ser um cacife como ponto de partida para qualquer candidato que almeje disputar um segundo lugar, saindo já com um terceiro garantido. Não posso ver de outra forma. Claro que os processos contra os crimes do capitão não terminaram, apenas começaram: agora virão os demais processos no TSE; os de ressarcimento dos valores usados ilegalmente; e os criminais que deverão colocá-lo atrás das grades por um bom tempo. Restará futuro político para o inominável? Pequeníssimo, p lixo da história, já que ele é, no máximo, como bem definiu um jornalista, um “palhaço macabro”.

O futuro político do capitão, em si, é muito pequeno. É verdade que não está morto e exercerá o direito de espernear, afinal – ai, sim! –, vivemos numa democracia. Mas basta ver a pequena repercussão nas redes sociais de sua inelegibilidade, sinal dos tempos. “Fujimorização”? Possível, o gado precisará de um vaqueiro que toque o berrante, mas este não será ouvido além daqueles 15/20%. 

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E nós? Nós devemos dar ao capitão enquanto ainda solto e depois quando estiver atrás das grandes, a mais grave ofensa que se pode dar a um político: o silencio!

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