Direita se prepara para um novo desenlace

Sociólogo Emir Sader afirma: "O clima de desenlace toma conta da opinião pública, com a sensação de que não dá mais para seguir com um presidente assim e sua corte de irresponsáveis para governar o país. A sensação de que algo vai acontecer"

Jair Bolsonaro fala à imprensa
Jair Bolsonaro fala à imprensa (Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil)


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Jair Bolsonaro serviu para impedir a vitória do PT. Mas a própria direita se dá conta da sua incapacidade não apenas para fazer com que a economia volte minimamente a crescer, mas simplesmente para governar, fazer funcionar os ministérios, os programas de governo, articular maioria estável no Congresso para não apenas aprovar o orçamento, mas dar continuidade nos projetos neoliberais de desarticulação do Estado e de mercantilização ainda maior da sociedade brasileira.

Os editoriais e os colunistas de mais peso na mídia vão coincidindo, a partir das faltas reiteradas de decoro da parte do presidente, de que não é possível manter um discurso político de apoio ao governo, apenas a partir da política econômica de Paulo Guedes, que nem sequer consegue, com todas as concessões ao grande empresariado, fazer com que se supere a recessão econômica, que se prolonga já por quatro anos. Os ataques à mídia, copiados de Donald Trump, servem à política dos bodes expiatórios, típica da extrema direita atual, que atribui à mídia e à esquerda, políticas de perseguição política dos governantes e da sua família, tratando de fomentar seu suposto papel de salvadores de um país à beira do abismo, por responsabilidade da esquerda.

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O clima de desenlace toma conta da opinião pública, com a sensação de que não dá mais para seguir com um presidente assim e sua corte de irresponsáveis para governar o país. A sensação de que algo vai acontecer. Cada vez que surgem novas suspeitas sobre o presidente e/ou seus filhos, ele reage de forma cada vez mais descontrolada, como se o poder fosse seu, fosse um instrumento, com o qual nomeia e demite, ataca, promove calúnias e tenta desmoralizar os opositores.

A nova onda de militarização do governo corresponder à desarticulação total do que era o partido do presidente e sua incapacidade para montar outro, com outra equipe de governo. Todas as pessoas minimamente articuladas da política tradicional ou que se somaram a ele, se distanciam, com distintos graus de ruptura, mas todos desalentados com a capacidade do governo de retomar um ciclo novo na política e de retomada do crescimento econômico.

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O país está ao deus dará. A sociedade está abandonada, sem políticas que a amparem, com cada vez mais gente abandonada, nas ruas, nas praças, em todos os estados do país.

A nova entrada de militares no governo serve, por um lado, para tentar blindar o presidente de tentativas de desestabilizá-lo ainda mais e eventualmente derrubá-lo por um impeachment. Este processo ganha adeptos na mídia, vai se criando um consenso a seu favor, mas sem reflexos no Congresso, nem mobilizações de rua que lhe deem consistência e viabilidade.

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Mas esse novo ingresso de militares no governo pode servir também para uma solução à direita para a situação que cada vez parece mais insuportável do governo. Um processo de blindagem, de proteção do presidente, mas que tem como contrapartida cortar-lhe um pouco as asas, o que pode significar tentar limitar suas declarações, mas pode chegar a mudar ministros de mau desempenho – como Paulo Guedes, substituindo-o por um ministro não menos neoliberal, mas menos fanfarrão nas declarações –, e outros como os da educação, de relações exteriores, de meio ambiente, de direitos das mulher.

Qualquer que seja o próximo desenlace da crise atual, a direita está se preparando, ao contar com os militares e as polícias militares, além das milícias, para buscar a superação da crise o que, em qualquer dos casos, significará um endurecimento maior do regime, mais repressão, maior militarização do governo.

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Diante desse acelerado grau de deterioração do governo, a esquerda precisa retomar iniciativa, deixar de apenas responder às iniciativas do governo ou de setores da direita descontentes com o governo. Precisa propor ao país uma alternativa de horizonte curto, da mesma forma que a direita se prepara para suas alternativas.

Mobilizações populares são a primeira condição, sem as quais a direita pode colocar em prática, a frio, suas readequações. Mas, sobretudo, para dar sustentação a alternativas democráticas e antineoliberais para a crise. Para isso a esquerda precisa encontrar os chamados que possibilitem essas mobilizações. Não basta dizer que é necessário mobilizar o povo. Este se mobiliza diante de objetivos concretos, de horizontes possíveis. A rejeição a Bolsonaro certamente é uma das alavancas possíveis, assim como a rejeição aos efeitos das políticas econômicas neoliberais.

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A esquerda não tem mais o direito de ser surpreendida pelas manobras da direita, sem capacidade de mobilização popular e de disputa dos destinos do Brasil, que se jogam hoje nas saídas para a crise atual. A sensação de pesadelo que vivemos pode estar no limite se ser superada. Depende da esquerda uma solução democrática e antineoliberal da crise.

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