Direita ou esquerda, quem se dividir vai morrer na praia

"Passados seis meses de governo, chegou a hora de as forças de centro e de esquerda reeditarem as frentes que foram decisivas em determinados momentos da história, como o fim da ditadura", avalia a jornalista Helena Chagas; "Sobretudo porque, ao radicalizar para tentar manter a fidelidade de seu público, Bolsonaro já largou muita gente que votou nele ao longo do caminho"

(Foto: ADRIANO MACHADO - REUTERS)


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Por Helena Chagas, no Divergentes, e para o Jornalistas pela Democracia 

A maior preocupação política de Jair Bolsonaro hoje não é com a possibilidade de as forças de centro e de esquerda crescerem e irem para as ruas. Esta é a segunda maior preocupação. Apesar do desgaste recorde nas pesquisas, ele conta disputar a reeleição com um candidato de esquerda e repetir a lógica da polarização que lhe deu a vitória em 2018 graças ao antipetismo. O maior medo de Bolsonaro hoje está no campo da direita, personificado em possíveis adversários como João Doria, Luciano Huck e outros – o que explica os movimentos tresloucados que visam a acirrar a radicalização política e a agradar os setores que o apóiam. Bolsonaro está “fidelizando” o seu público mais hidrófobo.

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O apoio ao presidente da República gira hoje em torno de 30% dos eleitores. Apesar da tendência a decrescer em razão de seguidos desgastes na imagem presidencial, ainda há, na visão bolsonarista, gordura a queimar. Por esses cálculos, se o presidente chegar a 2022 com um núcleo duro de 20% de aprovação, já estaria no segundo turno para disputar com um candidato de esquerda. Mas esses planos podem ser atropelados se algum outro candidato de perfil conservador crescer e dividir os votos no campo da direita.

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Por isso, a briga com Doria, por exemplo, começou tão cedo e vai ficar mais e mais dura. O governador é hoje o nome preferido do establishment econômico do país, e sempre terá a força de São Paulo a alavancá-lo. Mas sabe que só chega lá se o presidente da República se desestabilizar e desmoralizar de forma a perder qualquer chance de disputar a reeleição. Por isso, mesmo quem torce por Doria e quer se ver livre de Bolsonaro acha que, nas atuais condições de temperatura e pressão, o governador paulista poderá optar pela reeleição e esperar tempos melhores em 2026.

Para o campo da centro esquerda, a divisão da direita é o melhor dos cenários, mas está longe de ser uma certeza. E o raciocínio vale com o sinal trocado. Divididas como estiveram em 2018, as forças progressistas tendem de novo a morrer na praia. E isso vale desde já, no enfrentamento que os partidos de esquerda e centro-esquerda deveriam estar liderando contra os desmandos diários, as medidas autoritárias e os preconceitos absurdos de Bolsonaro.

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Passados seis meses de governo, chegou a hora de as forças de centro e de esquerda reeditarem as frentes que foram decisivas em determinados momentos da história, como o fim da ditadura. Sobretudo porque, ao radicalizar para tentar manter a fidelidade de seu público, Bolsonaro já largou muita gente que votou nele ao longo do caminho. Esse eleitor duplamente desiludido, que, lá atrás, largou o PT para votar em Bolsonaro e agora se decepcionou com ele, anda perdido por aí.

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