Direita brasileira quer reescrever a história
"Quando não se pode apagar a história, é preciso tratar de reescrevê-la, dando-lhe um sentido radicalmente ao que foi na realidade. Assim trata de fazer a direita brasileira em relação aos governos iniciados por Lula", escreve Emir Sader; mas o sociólogo ressalta: "não basta tentar fazer de Lula um personagem maldito, é preciso que o povo se esqueça dele, que seu nome não seja mais mencionado, que os livros de história saltem o períodos desses governos"
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Quando não se pode apagar a história, é preciso tratar de reescrevê-la, dando-lhe um sentido radicalmente ao que foi na realidade. Assim trata de fazer a direita brasileira em relação aos governos iniciados por Lula.
Depois da euforia da proposta neoliberal, que resolveria todos os problemas do país, reduzindo o Estado a suas proporções mínimas, promovendo o dinamismo do mercado, veio a depressão com o esgotamento prematuro do modelo proposto de Fernando Collor e desenvolvido por FHC. Não há como contestar o sucesso dos governos petistas que sucederam esse fracasso, então é preciso apagar esse pedaço da nossa história, desqualificar seus personagens e fazer como se não tivesse existido ou que tivesse sido apenas um grande mal entendido.
Para que a história (ou melhor, o fim da história) siga seu curso, para que o pensamento único trate de impor de novo suas verdades inquestionáveis e que o Consenso de Washington retome seu caráter consensual. Para que governos possam aplicar de novo os mesmos esquemas fracassados, vários anos depois, como se nada tivesse acontecido. Colocando a culpa do seu novo fracasso nos governos anteriores, que só serviram para isso – desviar a economia do bom caminho.
A história já havia terminado. Só a insistência de alguns, como Lula, para tentar reabri-la, buscando caminhos impossíveis, na contramão dos tempos neoliberais. Buscando distribuir renda, quando do que se trata é de concentra-la. Ampliando o mercado interno de consumo popular, quando do que se trata é de reduzi-lo. Afirmando políticas externas soberanas, quando se trata de ser subordinados. Recuperar o papel ativo do Estado, quando se trata de reduzi-lo a sua dimensão mínima.
Assim, o que aconteceu no Brasil e em alguns outros países da América Latina neste século, foi simplesmente um mal entendido, um parêntese de equívocos no caminho inexorável da economia global. Do que se trata, então, não é somente retomar o bom caminho, mas também eliminar todos os indícios dessas tentativas desastradas, para que ninguém nunca mais tente retomar esse caminho, e busque contradizer o Consenso de Washington e violar o pensamento único.
Não aconteceu nada de importante no Brasil neste século. Foi somente uma convergência de fatores externos que permitiram que um governo irresponsável promovesse gastos exorbitantes em itens tao ineficientes do ponto de vista do mercado, como em educação, em saúde, entre outros.
Nem se discute o caráter dos governos do PT, não são comparados com outros, porque a discussão seria incomoda para a direita. Se trata então de desqualificar seus lideres, todos populistas, irresponsáveis, que desperdiçaram recursos públicos com gente inútil para o mercado. Lula foi um corrupto, Dilma uma irresponsável com o orçamento publico. Basta isso para apagar os seus governos, a suas políticas sociais redistributivas, ao prestigio de sua política externa soberana, ao apoio popular que tiveram.
Não se trata de encarar um debate histórico, político, econômico, social, de ideias, mas simplesmente de encarregar o Judiciário, a polícia, os meios de comunicação, de destruir sua reputações, acumulando suspeitas, mesmo se nunca comprovadas. Se trata de destrocar suas imagens, para esconder que a vitima do consenso neoliberal é a direita, que não consegue construir alternativas que não sejam o retorno do modelo fracassado no Brasil, na America Latina e no mundo.
É preciso então reescrever a história do Brasil, apagar períodos, líderes, políticas. Lula não existiu, seu governo foi resultado de um delírio do povo brasileiro. Fazer como a ditadura gorila na Argentina, que primeiro proibiu a menção publico do nome do Perón, depois de Domingo e finalmente até de José ou então da menção à "ele", achando que apagaria da memoria do povo a imagem e o governo do líder popular.
Não basta tentar fazer de Lula um personagem maldito, é preciso que o povo se esqueça dele, que seu nome não seja mais mencionado, que os livros de história saltem o períodos desses governos. Mas as pesquisas recordam, uma e outra vez, que isso é impossível. Que a história não é uma matéria acadêmica, está inscrita na vida de milhões de pessoas que tiveram sua vida mudada para melhor, na memoria dos que ouviram Lula, que o viram, que o tocaram, que o abracaram, que o beijaram.
Lula é uma ideia, mas uma ideia que penetra nas massas e se torna força material e moral. Inesquecível, insuperável, porque Lula é o povo brasileiro, Lula é o Brasil que deu e pode voltar a dar certo.
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