Direção de Eurípedes Alcântara em O Estado de S. Paulo transformou o jornal numa espécie de trânsfuga dos fatos, do Jornalismo
Editoriais incidentalmente satíricos e análises toscas do País viraram tradição desde que Eurípedes Alcântara assumiu o comando do alquebrado jornal paulista
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Por Luís Costa Pinto, do 247 – Quando em novembro do ano passado se deu o anúncio público da troca de comando da direção de redação em O Estado de S. Paulo, Eurípedes Alcântara assumiria o lugar de João Fábio Caminoto, poucos entenderam o sentido da mudança. Alguns ainda se perguntavam o que poderia fazer de novo, num veículo de comunicação que sofre intensa sangria de leitores e perda paulatina de relevância no mercado, um jornalista como o ex-diretor de redação da revista Veja.
Nada, eis a resposta rápida e breve que Alcântara parece carpir grosseiramente, como se imbuído do espírito dos lenhadores que destroem florestas e ecossistemas, nos portais de madeira-de-lei que ainda ornam a lúgubre sede do ex-Estadão (posto ser quase um prédio fantasma) às margens do fétido Tietê.
Tem experiência para tal: por uma década e meia, posto no comando do carro-chefe da outrora vetusta e inabalável Editora Abril, àquela altura exibindo sua árvore de 21 folhas no alto de um prédio modernoso em outra avenida marginal, a do rio Pinheiros, Eurípedes Alcântara capitaneou o naufrágio da credibilidade da revista Veja.
Eurípedes Alcântara destruiu a credibilidade e a relevância de Veja
Sob a liderança abúlica, voluntariosa, arrogante e hostil às “verdades” impressas por ele (muitas vezes, inventadas por ele), junto com a credibilidade de Veja submergiram a relevância no mercado e os resultados financeiros. Em pouco tempo, toda a Abril naufragou. O cupim que digeriu os valores jornalísticos e civilizatórios das publicações da Editora Abril, apodrecendo toda a árvore plantada originalmente por Victor Civita. Os netos também não honraram o legado do avô, inclusive quando mantiveram Eurípedes no posto depois da morte do pai deles, Roberto Civita.
Sem merecer mais o carinhoso apelido recebido nos tempos do publisher Francisco Mesquita Neto, “Estadão”, em razão do volume de catálogo telefônico de suas edições dominicais, O Estado de S. Paulo parece emular o rio ao qual está à margem: o Tietê é um dos raríssimos rios brasileiros que correm do litoral para o interior. Emulando-o, o jornal dirigido por Alcântara corre dos fatos – e, muitas vezes, contra os fatos.
O Estado de S. Paulo se tornou uma publicação que irreleva fatos e notícias
Parecendo não perceber que o mercado financeiro, entidade incensada por ele e por seus contratantes, já "precificou" a eventual eleição de Lula em outubro à proa de um movimento que transcende rudezas e rusticidades intelectuais e ideológicas, ou mesmo implicâncias atávicas (mas, não gratuitas), como exposto pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a Miriam Leitão; ou a grandeza de personagens como o historiador Bóris Fausto ou o executivo Milton Seligman, ex-presidente do Conselho da Ambev e ex-ministro da Justiça e da Reforma Agrária nos governos de Fernando Henrique Cardoso, que assinaram nesta 2ª feira, 14 de fevereiro, o primeiro grande manifesto pela necessidade da eleição do ex-presidente Lula já no 1º turno a fim de passarmos a nos concentrar na reconstrução do Brasil pós-golpe de 2016.
Campos Neto, Fausto e Seligman nunca foram apoiadores originais de Lula ou do PT. Confrontados com os fatos, e eles são catastróficos, o País está estraçalhado, dividido por um discurso de ódio e por retóricas destrutivas, o trio age no sentido de oferecer as contribuições que têm e que podem dar ao entendimento. À reconciliação. E o que faz O Estado de S. Paulo de Eurípedes Alcântara? Ora, segue como um trânsfuga dos fatos, da lógica e da verdade; da análise assentada em evidências. Tendo por timoneiro o capitão que afundou a Veja e a Editora Abril, o jornal da família Mesquita aderna velozmente e a quilha já travou na lama. Vai naufragar, e não há torcida ou comemoração aqui: há, sim, um vaticínio.
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