Dilma vai cortar ministérios e agora mídia diz que “não precisa

O que haverá, de fato, é mudança de status de algumas pastas. Serão trocadas algumas placas de portas e alguns poucos servidores serão realocados. Assim como criar os ministérios custou pouco, extingui-los economizará pouco



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Mídia e oposição atacam Dilma e Lula há cerca de uma década por terem criado “excesso de ministérios”. Na campanha eleitoral de 2014, Aécio Neves, Eduardo Campos e a candidata que o sucedeu, Marina Silva, fizeram um cavalo de batalha por conta dos 39 ministérios – Eduardo e Marina só não criticavam quando eram ministros dos governos petistas. 

A mídia, como sempre, fez coro ao cavalo de batalha da oposição, que vinha tratando de contabilizar o “Custo dos 39 ministérios” para o país, como em reportagem do jornal O Globo intitulada “A conta do inchaço de ministérios no governo Dilma”, em que o jornal contou uma lorota ao distinto público, a de que o “Custo para manter o número recorde de 39 ministérios” seria de “R$ 58 bilhões” – por que é uma lorota, o leitor entenderá mais adiante.

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Dizia, então, o jornal da família Marinho que “Manter a estrutura e os funcionários das atuais 39 pastas do governo Dilma Rousseff, instaladas na Esplanada dos Ministérios e em outros prédios espalhados pela capital, custa pelo menos R$ 58,4 bilhões por ano aos cofres públicos.

Dizia, ainda, a matéria que “Esta verba, que está prevista no Orçamento Geral da União de 2013 para o custeio da máquina em Brasília, é mais que o dobro da que foi destinada ao maior programa social do governo, o Bolsa Família, que custará R$ 24,9 bilhões este ano”.

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Dessa forma, parte do país acabou acreditando na farsa de que o “custo” dos ministérios seria de quase seis dezenas de bilhões de reais por serem 39 pastas. A mídia antipetista divulgava gráficos para mostrar como havia crescido o número de ministérios nos governos Lula e Dilma, apresentando esse crescimento como raiz de todos os males.

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Para começar a entender como tudo isso nunca passou de uma enorme bobagem, há que entender que o grosso do orçamento dos ministérios está concentrado em apenas dez pastas.

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Mas antes de entendermos por que cortar ministérios é mais um fetiche político do que prático, temos que nos surpreender – pero no mucho – com o que decorreu do recente anúncio do governo Dilma de que irá cortar 10 das 39 pastas.

De repente, começam a surgir matérias dos que atacavam o número de ministérios dizendo, agora, o mesmo que este blogueiro disse acima – e em incontáveis posts publicados nesta página –, ou seja, que cortar ministérios – sejam 10, 15 ou 20 não representará economia relevante.

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Quem disse isso? Por exemplo, a mesma Folha de São Paulo que tanto bradou pelo corte de ministérios. Emmatéria desta semana em seu portal na internet, o jornal diz que “A redução [de ministérios] será pouco relevante, porque os servidores têm estabilidade no emprego e os cargos comissionados representam uma parcela pequena das despesas com pessoal”.

Mas não é só isso. Bastou Dilma formalizar a intenção de reduzir ministérios para começarem a pipocar matérias dizendo que não haverá efeito prático sobre as contas públicas na redução do número de pastas.

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E, apesar de alguns oposicionistas mais afoitos como Reinaldo Azevedo, da Veja, terem dito, nesta semana, que “Até mês passado, Dilma chamava corte de ministérios de “lorota“, a presidente já vinha manifestando intenção de reduzi-los desde o começo do ano, como mostra matéria da Folha de 27 de março. Segundo disse o jornal, “A diminuição [do número de pastas] é uma possibilidade que está em cogitação pelo Palácio do Planalto”.

A mídia começou a produzir matérias como a publicada pelo UOL na última terça-feira, cujo título é “Dilma anuncia corte de ministérios, mas efeito é visto com ressalvas“. O texto diz a mesma coisa que a oposição, que agora “não adianta”, que é “tarde demais”, o que faz lembrar do vídeo acima, no qual Aécio Neves diz, durante a campanha eleitoral, que, se vencesse a eleição, iria cortar ministérios neste ano – agora, porém, os tucanos dizem que cortar ministérios neste ano seria “tarde”.

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Nem é tarde nem é inútil cortar ministérios agora e Dilma tomou essa decisão não para fazer economia, mas porque é simbólico fazê-lo. O governo irá demonstrar que está “cortando na própria carne” em um momento em que pede sacrifícios à sociedade.

Porém, o corte de supostos 10 ministérios não produzirá impacto relevante no sentido de melhorar as contas públicas e viabilizar um ajuste fiscal mais robusto.

A grande maioria dos gastos do governo está concentrada em poucos ministérios, principalmente na área social. Boa parte são despesas obrigatórias – com saúde, educação, aposentadorias – que não podem ser reduzidas com uma mera canetada.

Segundo matéria da BBC Brasil, o especialista em contas públicas Mansueto Almeida, economista licenciado do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), calcula que apenas cinco ministérios – Educação, Saúde, Previdência Social, Desenvolvimento Social e Trabalho – respondem por 89% dos gastos de custeio do governo.

Ou seja, do total de R$ 312,8 bilhões aplicados no funcionamento da máquina pública, R$ 268,66 bilhões foram consumidos por essas cinco pastas, em gastos com aposentadorias, seguro-desemprego, Bolsa Família, hospitais, universidades etc.

Outra fatia importante dos gastos foram as despesas com encargos especiais (R$ 26,3 bilhões) – por exemplo, recursos para cobrir perdas da Previdência com a desoneração da folha de pagamento, subsídios para compensar juros mais baixos praticados pelo BNDES ou pagamento de precatórios (decisões judiciais contra a União).

Esses gastos, somados às despesas dos cinco principais ministérios, representaram 94,3% dos dispêndios de custeio nos cinco primeiros meses do ano, segundo Almeida.

Além do custeio, o governo tem gastos elevados com juros da dívida e com pessoal, despesas que também não podem ser cortadas facilmente – a maioria dos funcionários públicos é concursada e tem estabilidade, enquanto o pagamento de juros está previsto em contratos cujo rompimento provocaria uma fuga de investidores que financiam o governo por meio de títulos públicos.

Outras despesas obrigatórias, como previdência e seguro-desemprego, só podem ser reduzidas alterando leis por meio do Congresso, em votações altamente impopulares.

Entende-se a iniciativa que o governo vem preparando desde o início do ano. Visa dar exemplo de austeridade, mas também mostrar à sociedade que a presidente está atenta às suas demandas.

Porém, o que haverá, de fato, é mudança de status de algumas pastas. Serão trocadas algumas placas de portas e alguns poucos servidores serão realocados. Assim como criar os ministérios custou pouco, extingui-los economizará pouco.

O status de ministério para algumas secretarias que funcionavam em algumas pastas só serviu para conferir importância a ações do governo. Tendo status de ministérios, facilitariam o trâmite político de medidas reclamadas por movimentos sociais, que deverão se posicionar contra a medida.

Para o governo – e, sobretudo, para a presidente – fica mais um aprendizado político: não adianta tentar agradar aos setores que querem emperrar o país por motivos políticos. Se Jesus Cristo Descer à Terra Dizendo que Dilma tem razão em alguma coisa, a mídia e essa fascistada que perambula pelas ruas tentarão reescrever a Bíblia e transformá-Lo no capeta.

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