Dilma Rousseff: inteligência da mulher brasileira para enfrentar crise internacional

Dilma derrubou juros internos para não atrair poupança inflacionária especulativa, cujo efeito é estourar a dívida pública, como fizeram os neoliberais

Dilma Rousseff
Dilma Rousseff (Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE)


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A birra das elites conservadoras e reacionárias brasileiras e a razão central de elas se mobilizarem para derrubar, em 2016, a ex-presidenta Dilma Rousseff, primeira mulher a chegar à presidência da República, tem uma explicação de ordem superior, que está na base da mesma reação que as movem contra o presidente Lula na sua luta pela mesma causa, cujo desfecho é incógnita: ela teve a coragem de reduzir, em 2011, a taxa de juros no Brasil para 7,5% e, com isso, afetou altos interesses dos que vivem da agiotagem.

Essa, igualmente, é a batalha central que Lula enfrenta contra o Banco Central Independente (BCI), sob a ameaça do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira(PP-AL) ao alardear em meio aos empresários e banqueiros, em São Paulo, que o presidente não tem base política para governar no Congresso Nacional.

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Dilma, provável próxima presidência dos BRISC, novo centro do poder internacional, percebeu, com grande clarividência, o que agora tem dito, sistematicamente, o economista André Lara Resende, que o sistema monetário internacional, criado pelos americanos, no pós-guerra, perdeu utilidade, especialmente, depois do crash capitalista de 2008, com a bancarrota do mercado imobiliário.

Por que a periferia capitalista teria que continuar obedecendo ao capitalismo imperialista ditado pelo FMI?

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Não dá mais para enfrentar a crise da produção e do emprego cortando gastos para combater inflação, enquanto avanço o subconsumismo que reduz a taxa de lucro e joga as empresas em agonia financeira.

DILMA E O JOGO DO IMPÉRIO

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O sistema bancário dos Estados Unidos estava, a partir dos anos de 1970, prisioneiro do que Keynes denominou de armadilha da liquidez, depois que Washington descolou o dólar do padrão ouro.

Excessivamente alavancado, o mercado de crédito, confiante no futuro neoliberal, depois da vitória americana, na guerra fria, que detonou a União Soviética comunista, parecia não encontrar mais nenhum limite.

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O excesso de oferta de imóveis, nos Estados Unidos, viu-se, em meio à euforia neoliberal, diante da queda da taxa de lucro, com os consumidores, excessivamente, endividados.

Os preços, subitamente, começaram a despencar diante do recuo do crédito bancário, temeroso de inadimplências.

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A grande vítima imediata foi o banco Lehman Brothers.

A maldição iria cair sobre todo o sistema bancário mundial.

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Só não aconteceu a catástrofe, porque o Banco Central americano(FED), emissor de dólar, saiu, em 2010-2011, em socorro da banca, para evitar repeteco do crash de 1929.

O capitalismo bateu biela: sobraram mercadorias e faltaram rendas para os consumidores pagarem seus papagaios no crediário.

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Insuficiência de demanda e dívidas excessivas estouraram a bolha especulativa.

DILMA E AS NOVAS REGRAS

MONETÁRIAS INTERNACIONAIS

Lula, em 2008, segundo mandato, não deu bola para a crise, ao convocar os bancos públicos e elevar oferta de crédito barato, para puxar seu programa popular, em conjuntura internacional favorecida pela demanda chinesa que não havia se sucumbido ao crash imobiliário.

Mas, ao final de 2010, início de 2011, a conjuntura era outra, com os juros pipocando e inviabilizando a periferia capitalista em sustentar o jogo nacionalista desenvolvimentista.

A situação pós-2008 levou Washington a cair na real de que não dava mais para conviver com as regras de Bretton Woods, criadas em 1944.

O FED entrou em cena para mudar os paradigmas e os efeitos da ação dele estimulou, no Brasil, a então presidenta Dilma Rousseff a se antecipar aos efeitos da crise internacional.

O que fez o FED que levou Dilma, de forma sagaz, a se antecipar a ele?

O BC americano jogou na lata de lixo a teoria monetária segundo a qual as crises financeiras requerem choques para diminuir a oferta de crédito, para combater a inflação de demanda.

O FED girou a guitarra financeira e passou a trocar dívidas velhas, podres, desvalorizadas pela crise imobiliária, nos caixas dos bancos, candidatas a virarem fumaça, por dívidas novas, com longos prazos de resgate.

Em vez de secar a praça de dinheiro, fez-se o oposto: encharcou-a.

Excesso de oferta diminui preço do dinheiro, e o juro despencou.

Com a praça encharcada, Dilma derrubou os juros internos para não atrair poupança inflacionária especulativa, cujo efeito é estourar a dívida pública, como fizeram os neoliberais depois que derrubaram a ex-presidente pelo golpe do impeachment.

Acabara a escassez da oferta que aumenta a taxa de juro.

O mundo passou a viver sob juro negativo.

Dilma, portanto, jogou com a crise internacional que levou o FED a mudar a política monetária americana.

Pintou o que ninguém esperava: maior oferta de dinheiro não produziu inflação, mas congelou dívida e permitiu aquecimento da produção e do emprego sem pressão inflacionária.

O JURO DILMISTA DE 7,5%

Naquele ano, 2011, Dilma, no Brasil, derrubou a taxa de 12,5% para 7,5%.

No ano seguinte, o PIB cresceu 9%!

Para tanto, ela, como Lula em 2008, utilizou a arma dos bancos públicos, como fazem, hoje, os chineses para enfrentar o crash, elevando a oferta de crédito.

Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, bancos de desenvolvimento, como o BASA, BNDES etc passaram a emprestar às novas taxas.

Os bancos privados, para não ficarem com excesso de liquidez em caixa e perderem dinheiro, tiveram, igualmente, que seguir o exemplo dos bancos públicos.

Efeito demonstração de sucesso.

Dilma-Lula utilizou o monopólio do crédito público para derrubar o oligopólio do crédito privado.

Por isso, levantou a ira da banca privada especulativa brasileira, que, desde então, empenhou-se em derrubá-la.

A tentativa se frustrou porque falou mais alto a democracia, pois ela faturou eleição de 2014, impondo quarta derrota ao neoliberal PSDB.

Os tucanos se desesperaram e partiram para derrubá-la no tapetão do impeachment no Congresso Nacional.

A bancocracia, aliada dos tucanos, mostraria sua força não nas urnas, mas no palco do legislativo e da tecnoburocracia.

JOAQUIM LEVY DETONA DILMA

Os banqueiros, com sua força política no Congresso, colocaram no Ministério da Fazenda o neoliberal Joaquim Levy para fazer o jogo do FMI e do Banco Mundial.

A terapia neoliberal criou as condições necessárias para reverter a política monetária e os juros voltaram a subir, para desmoralizar a presidenta nacionalista, que deixou de herança a menor taxa de desemprego da história econômica brasileira.

Mudaram as expectativas, na base da pura especulação, e o governo Dilma entrou em parafuso.

A elite financeira, com apoio implícito do império americano, desarticulou totalmente o poder petista dilmista, que, a contragosto, adquiriu colorido neoliberal.

A antinacionalista elite tupiniquim se aliou ao legislativo e ao judiciário para evitar a continuidade da política monetária flexível do Banco Central, então, orientada, não pelo mercado, mas pelo Palácio do Planalto, pelo executivo, politicamente, respaldado pelo poder popular.

O GOLPE INTERNACIONAL CONTRA DILMA

Sobretudo, a elite, derrotada pela quarta vez consecutiva, decidiu partir para o golpe, de modo a evitar o projeto de desenvolvimento nacional ancorado em juros baixos e na riqueza do pré sal, descoberto pela Petrobrás, passaporte para a libertação econômica brasileira.

O golpe contra Dilma, como se sabe, foi precedido pela guerra de espionagem, ocorrida dentro do Planalto e da Petrobrás, vítima de roubo de documentos secretos facilitado pela criminosa e antinacional Operação Lavajato.

É verdade que tal golpe contra a presidenta não ocorreu por falta de aviso.

O presidente da Rússia, Wladimir Putin, e o da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, denunciaram a investida golpista de Washington, comandada pela dupla Obama-Biden, e avisaram Dilma.

Não foram ouvidos.

VEREDITO DA HISTÓRIA

A história, como sempre, já está colocando os pingos nos iiiss, para dar a sua versão definitiva que a mídia corporativa, porta-voz da bancocracia, esconde a todo o custo.

A comemoração do Dia Internacional da Mulher, quando Dilma é ovacionada no Planalto, ocorre quando o governo Lula enfrenta o mesmo impasse que derrubou Dilma: a resistência dos credores da dívida pública ao governo petista lulista cuja bandeira é o combate aos juros altos.

Do total do Orçamento Geral da União(OGU), realizado em 2022, segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, 48% destinam ao pagamento de juros e amortizações.

Portanto, Lula está na armadilha da dívida, impossibilitado de governar para a base social que o elegeu.

Ele enfrenta mesma via-crucis que derrubou Dilma e cujo desfecho, agora, é incógnita, especialmente, depois que o presidente da Câmara, Arthur Lira(PP-AL) jogou na mesa sua carta perigosa: o alerta de que Lula não tem base política no Congresso para governar.

Resta-lhe recorrer à base que o levou ao poder pela terceira vez: o povo.

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