Dilma pode chutar o pau da barraca e dar uma guinada à esquerda
Aos golpistas, sugiro que não subestimem Dilma Rousseff. Ela poderia ter evitado todo o inferno que está vivendo se tivesse brecado a operação Lava Jato, por exemplo. O PMDB não estaria em pé-de-guerra. Mas teve coragem de deixar a investigação correr solta. E pode ter coragem de dar uma guinada à esquerda
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O cerco ao governo Dilma Rousseff, a Lula e ao PT está chegando a um ponto que pode provocar uma reviravolta inédita na política. E isso não é suposição. Quem conhece os petistas sabe que não existe hipótese de aceitarem o golpe. E o que se nota na oposição midiática é que ela não aceita esperar por 2018.
Apesar de o impeachment ter sido dificultado pelo STF, há um fato que não pode ser mudado: as medidas de ajuste fiscal vão fazer a vida do brasileiro piorar antes de melhorar. Sindicatos e movimentos sociais não vão ter como explicar às suas bases que é preciso ajustar as contas públicas, e que os mais pobres terão que dar sua contribuição.
Essa é a situação. Sem tirar nem pôr.
A esquerda organizada não vai ficar pensando no futuro. Pode abandonar Dilma. E sem apoio desse setor, o golpe vinga. Aí sobreviria um governo muito mais conservador, medidas de ajuste muito mais duras, mas as lideranças de esquerda não querem nem saber. Estão mais do que dispostas a pagar para ver o que aconteceria. Ninguém me contou, ouvi lideranças de esquerda dizerem isso.
Para que se tenha uma ideia, lideranças das três maiores centrais sindicais do País – CUT, Força Sindical e UGT – acabam de anunciar que vinculam a manutenção de apoio ao governo a mudanças na política econômica e o fim do ajuste fiscal.
Sem ajuste fiscal, vale notar, o país continuará gastando mais do que arrecada. Dá para sustentar essa situação?
Quando se fala em distribuir sacrifícios, está se falando em impor mudanças na Previdência Social, em direitos trabalhistas, em programas sociais etc. Aos ricos, porém, a conta fica bem menos salgada. Algum aumento de impostos – via fim das desonerações – perfeitamente suportável e, claro, redução na atividade econômica, que prejudica os negócios.
Em situação normal não seria possível poupar cem por cento os trabalhadores, como querem sindicatos e movimentos sociais. Haveria um levante do capital que este país não vê há muito tempo. E o capital tem recursos para criar problemas ao país que vão estourar, ao fim, nas costas dos trabalhadores.
A “boa” notícia, porém, é que a direita midiática já gastou praticamente toda sua munição. O país está parado. Nem com Dilma cedendo ao ajuste fiscal houve condescendência. Já pediram o impeachment da presidente, já paralisaram a economia, já nos tiraram o grau de investimento.
O que mais podem fazer?
Resta fuga de divisas, claro. Mas a persistir essa situação, a fuga de dólares virá de um jeito ou de outro. Talvez seja hora, portanto, de Dilma também pagar para ver.
O reajuste do mínimo acima da inflação foi uma medida contrária aos ditames do modelo econômico vigente no país e, de certa forma, à lógica da “responsabilidade fiscal”, já que aumentará os gastos do governo justamente no momento em que o capital cobra redução desses gastos.
Acossado, porém, o governo não tem mais como ficar em cima do muro. E não tem como descer para o lado direito, que espera a presidente lá embaixo com paus, pedras e todos os instrumentos necessários a um linchamento.
O que resta a Dilma se não o lado esquerdo do muro?
Ela tem a caneta. Apesar de depender muito do Congresso, pode mexer em alíquotas de impostos, pode retirar toda e qualquer desoneração a empresas, pode apertar o sistema financeiro, pode cortar financiamentos ao empresariado.
Claro que o Congresso, de maioria conservadora, pode impedir o governo, mas terá que ficar com o ônus de ir contra medidas populares. Além disso, pode votar o impeachment para tirar Dilma do cargo de uma vez, deixando a Michel Temer a tarefa de adotar medidas que jogarão o ajuste no colo dos trabalhadores e dos mais pobres em geral.
Porém, se Dilma der uma guinada à esquerda vai ganhar as ruas. As manifestações contra o golpe cresceriam exponencialmente e a esquerda sinalizaria que haverá uma guerra no país se o governo for derrubado.
É uma aposta alta e muita gente acredita que Dilma Vana Rousseff e o PT não teriam peito para tanto. Particularmente, este blogueiro não tem tanta certeza.
A lógica é a seguinte: perdido por um, perdido por mil. O PT perdeu muita popularidade, deve ter muita dificuldade nas eleições municipais deste ano. Dilma está contra a parede. Nem as medidas neoliberais que o capital lhe cobra estão sendo aprovadas pela direita.
Vemos um Aécio Neves ir à tevê e pregar que Dilma não jogue o ajuste nas costas dos trabalhadores. É o mesmo discurso de uma Luciana Genro. Ora, Dilma pode atender a ambos reduzindo juros, aumentando crédito, tomando todas as medidas que a oposição à esquerda e à direita cobra.
O que Luciana e Aécio vão dizer? Vão ter que apoiar, certo?
Com as ruas tomadas pela militância de esquerda e com Dilma tomando medidas que agradarão à maioria, a direita midiática se veria em xeque-mate. Teria que dar consequência ao seu discurso populista.
Há algum tempo assisti a uma propaganda do PSDB que dizia que apoiaria Dilma se ela tomasse medidas diametralmente opostas às requeridas pelo ajuste fiscal. Dilma pode ir à tevê dizer que ouviu os apelos do povo e até das oposições de direita e esquerda e, assim, não haverá ajuste e vai distribuir felicidade por decreto.
Particularmente, sempre achei que o país perderia com isso. Mas só em situação normal. Neste momento, a única forma de fazer os golpistas midiáticos negociarem seria criando uma situação como essa. É a estratégia do bode na sala… Dilma pode obter um ajuste com muito menos sacrifícios aos trabalhadores, ainda que com alguns sacrifícios.
Aos golpistas, sugiro que não subestimem Dilma Rousseff. Ela poderia ter evitado todo o inferno que está vivendo se tivesse brecado a operação Lava Jato, por exemplo. O PMDB não estaria em pé-de-guerra. Mas teve coragem de deixar a investigação correr solta. E pode ter coragem de dar uma guinada à esquerda.
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