Dilma não vai entrar em um jogo que só interessa à direita
É hora de manter a cabeça fria. O grupo político que está promovendo esse clima no país é composto por facínoras, hipócritas, capazes de acusar os adversários de corrupção apesar de serem protagonistas de incontáveis escândalos
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O Brasil é um país rico. Tem um dos maiores mercados internos do planeta, uma indústria altamente dinâmica e diversificada, uma verdadeira montanha de dólares estocados (colchão cambial) e uma das maiores reservas de petróleo ainda por explorar. Talvez por isso o país esteja resistindo a um crime de lesa-pátria poucas vezes visto.
Se este país não fosse tão rico e se a sua economia não tivesse sido reorganizada ao longo da primeira década do século XXI, com todas as crises políticas que vem vivendo por certo já teria afundado em uma crise econômica, com explosão inflacionária, desemprego em massa, arrocho salarial e uma profunda recessão.
Estamos vivendo essa crise política ininterrupta há um ano e seis meses. As ruas das grandes cidades, de uma hora para outra, viraram palco de protestos de milhares de pessoas de variadas orientações políticas e ideológicas. E, ao contrário dos protestos esparsos de outrora, os da atualidade não têm pauta definida, limitando-se a bradar “contra a corrupção”.
À exceção dos protestos dos sem-teto de São Paulo e alguns poucos similares, esses atos que infernizam o país há um ano e meio são de cunho meramente político. Buscam apenas desgastar o governo Dilma Rousseff, que, ainda assim, acaba de obter nas urnas o apoio da maioria dos brasileiros.
O que se espera de democracias maduras é que os conflitos políticos cheguem a se exacerbar durante processos eleitorais, mas que, manifestada a vontade popular nas urnas, essa vontade passe a ser respeitada. Em situação de normalidade democrática, passadas as eleições os governos recém-eleitos chegam a desfrutar de uma “lua-de-mel”, ou seja, os derrotados no pleito esperam um tempo decente para retomar os ataques políticos.
Como se sabe, não é o que está acontecendo. Desde a redemocratização de fato, em 1989, nunca se viu uma guerra política desse calibre um mês após uma eleição presidencial.
Desde a primeira semana após a votação em segundo turno vem ficando claro que os derrotados se recusam a aceitar a vontade da maioria expressa na eleição. As urnas nem haviam sido apuradas, em 26 de outubro, e “analistas políticos” falavam em “impeachment” de Dilma nas televisões.
Abriram-se, então, várias frentes de questionamento ao mandato popular concedido pela segunda vez à presidente. A guerra no Congresso em torno do que a imprensa chamou de “manobra fiscal”, ou a devassa das contas da campanha petista anunciada e levada a cabo na Justiça Eleitoral, têm objetivos inconfessáveis.
Neste sábado, por exemplo, foram convocadas novas manifestações contra a presidente da República. A convocação partiu do adversário que ela derrotou nas urnas há 40 dias.
Ignorando o envolvimento de seu partido em denúncias de corrupção, Aécio convocou a voltar à rua hoje o que a Folha de São Paulo chamou de nova militância – bandos de extrema-direita que pedem volta da ditadura militar. O objetivo escancaradamente anunciado é o de não deixar diminuir a “mobilização” contra o mandato popular da adversária.
A intenção da oposição e dos maiores grupos de mídia vai ficando bastante clara. A recusa oposicionista em aprovar a mudança na Lei de Diretrizes Orçamentárias, arrancada a fórceps pela base aliada, e as seguidas obstruções no Congresso a todas as matérias de interesse do governo, revelam a intenção de paralisá-lo.
Declaração recente de Aécio Neves no sentido de querer a presidente da República “no chão” significa, por exemplo, fragilizar a relação do governo brasileiro com a comunidade internacional.
Em um quadro político como esse, mesmo com uma equipe econômica “palatável” aos grandes empresários e ao mercado financeiro, não é difícil supor que a grande aposta nessa equipe, de que faria com que os investimentos privados fossem retomados, será frustrada. E sem investimentos não haverá crescimento econômico.
Antes da eleição presidencial, grandes empresários congelaram investimentos de forma a criar uma situação de estagnação econômica que pudesse favorecer a eleição do candidato desse setor da sociedade, o candidato do capital, que quase foi Marina Silva e acabou sendo Aécio Neves.
Houve, também, empresários que pararam de investir por medo do cenário político e do terrorismo econômico da mídia, mas os maiores empresários e investidores pararam de investir para frear o crescimento e dar discurso à oposição.
Agora, com a reeleição de Dilma materializada e com a recusa da oposição e de setores da mídia a aceitar a vontade das urnas, o que pode ocorrer, apesar da equipe econômica “palatável”, é haver medo generalizado de investir, até porque surgem dúvidas quanto à continuidade de um governo que todo dia está sofrendo ameaças de ser derrubado.
O PSDB e os grandes grupos de mídia querem a paralisia do governo a fim de afundar a economia. Anseiam por recessão e desemprego de forma a facilitar um processo de impeachment ou, na melhor das hipóteses, que o país permaneça em crise pelos próximos quatro anos, sem crescimento, com aumento dos problemas sociais e econômicos, de forma a garantir a retomada do poder em 2018.
O Brasil, pois, está sendo sabotado em benefício dos interesses políticos de grupos que, apesar do crescimento oposicionista nas eleições deste ano, ainda não foram capazes de retomar o poder. O sofrimento que essa sabotagem irá impor ao povo é objeto do desejo do PSDB, do DEM, do PPS, do PSB e da grande mídia.
Nesse momento, Dilma, solitariamente, terá que decidir se aceita a guerra aberta que a oposição deseja, com tudo que implica, ou se vai contornando a situação.
Porém, essa reação à altura de Dilma e do PT, amplamente desejada pela militância que apoia a presidente e seu partido, implica em riscos. Por certo que sob a liderança do governo e de sua titular a reação levaria à rua movimentos sociais, sindicatos, enfim, todas as forças que compõem a esquerda. Porém, é preciso refletir sobre tal caminho.
Se você fizer hoje uma caminhada diurna pela avenida Paulista vestindo uma camiseta vermelha, mesmo que não seja uma camiseta do PT com absoluta certeza ouvirá insultos. Se a caminhada for noturna, a chance de agressão física será enorme.
Imagine agora, leitor, se na próxima vez que a oposição levar seus bate-paus para empastelar o Congresso o PT fizer o mesmo, levando movimentos sociais como MST ou CUT para enfrentá-los. Eis que veremos inaugurada uma guerra civil no país. Compatriotas irão se digladiar. Talvez até a tiros. Poderia haver mortos e feridos.
Quem tem visto a truculência dos fascistas de extrema-direita que devem voltar hoje às ruas de São Paulo não tem dúvida de que se uma manifestação como essa deparar com outra de viés político-ideológico inverso, sangue irá correr.
Esse, aliás, é o objetivo claro da direita tucano-midiática. Havendo um caos dessa magnitude dirão que Dilma perdeu o controle do país e não tem mais condições de governar. Eis por que as provocações de Aécio e da mídia não param. Querem que a esquerda entre no seu jogo e o país mergulhe no caos, com violência nas ruas e a economia afundando.
É hora, pois, de manter a cabeça fria. O grupo político que está promovendo esse clima no país é composto por facínoras, hipócritas, capazes de acusar os adversários de corrupção apesar de serem protagonistas de incontáveis escândalos, os quais só conseguem abafar graças ao apoio da mídia corporativa, que lhes proporciona blindagem.
Há momento de atacar e de defender. Se o adversário quer reação, há que negá-la. As provocações de Aécio e seus comparsas não estão sendo premiadas por Dilma porque pretendem convulsionar o país a poucas semanas de a presidente tomar posse do segundo mandato. Não seremos ingênuos fazendo o jogo desses vagabundos.
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