Dilema das Redes conta metade da história
Um dos melhores filmes em cartaz na Netflix, o documentário "O Dilema das Redes" é uma obra no meio do caminho, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

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Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
"Dilema..." consegue demonstrar o mundo das redes sociais com uma crueza nunca vista.
Com base em depoimentos verídicos de antigos profissionais em posição de ponta no Google, Twitter, Facebook e etc, o documentário contém revelações, denúncias e confissões que formam um retrato inédito de mentiras e manipulações que marcam a imensa fatia da vida contemporânea -- cultural, profissional, política -- construída em volta da internet.
Fabricações políticas e armações econômicas desfilam pela tela, pela boca de seus próprios criadores, que dão depoimentos com nome e profissão.
Na posição de inventores desencantados que, com dor na consciência, revelam os segredos do monstro que ajudaram a criar, personagens que tiveram um papel destacado na construção de plataformas bilionárias abrem a boca para confessar a própria culpa em trapaças impensáveis. Você chega a imaginar que se trata de uma obra de ficção mas não. Estão todos lá -- com nome, profissão, antigo empregador, dando entrevistas. Os mais notáveis até prestam depoimento ao Congresso norte-americano.
Ao tomar conhecimento dos truques, um veterano senador dos Estados Unidos confessa publicamente que preferia morrer antes de viver num mundo que funciona sob direção das redes sociais.
" O Dilema das Redes assusta mas oferece poucas respostas", diz o título de uma crítica de Patrícia Campos Mello, repórter que em 2018 revolucionou nosso conhecimento sobre um elemento essencial das redes -- as fakes news -- na campanha presidencial que elegeu Bolsonaro.
(Numa passagem, entre vários tiranetes contemporâneos, a imagem de Jair Bolsonaro é exibida com compreensível destaque, o que mostra o alcance das revelações de Patrícia Campos Mello e as descobertas posteriores sobre o bolsonarismo).
Minha crítica a "Dilema" envolve a ausência de um horizonte histórico mais amplo. O assunto diz respeito a alterações gigantescas, que modificaram as bases do próprio capitalismo, e não poderia ser descrito como um dilema de indivíduos isolados.
Sem apontar para mudanças decisivas na economia e na política do século XXI, que colocaram em questão tantas certezas acumuladas pela humanidade -- a começar pela democracia -- Dilemas das Redes reduz seu universo a conversas de família, culpas adultas e dramas adolescentes -- quando se trata de um debate que envolve modelos de sociedade e projetos de país.
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