Dia internacional dos direitos humanos, que não são para todos
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A falácia de um governo para todos e a prisão de um dos meus algozes na ditadura.
É má fé ou ingenuidade prometer governo para todos, assim como é moralmente criminoso anistiar os que atentaram contra democracia e cometeram genocídio contra um povo sem defesa.
Toda sociedade dividida em classes nutre interesses contrários.
De forma que, em última instância, quando uma política governamental favorece mais ao capital, prejudica o trabalho, visto que o capital vive da mais valia da força do trabalho, mas o contrário não é verdadeiro.
Na política institucional pode haver conciliação, mas na luta de classes não há como atender aos interesses de ambas, geralmente é a classe trabalhadora que continua no regime de espoliação, salvo quando a correlação de força é parelha.
Os que levaram Lula à vitória são os que devem ser os maiores beneficiados de seu governo.
Se não fosse assim, pra que votar, se no final, o governo eleito é para toda a sociedade?
A bússola do governo de Lula/Alkmin deve orientar a prioridade para os que os elegeram.
O mapa eleitoral, o raio X dos votos, deve ser o norte do governo eleito.
Os que ganham até dois salários mínimos e as mulheres foram o diferencial para a vitória da chapa. São esses os que devem ser os prioritários nas políticas públicas do novo governo.
Não fazer isso, equivale à traição ao eleitor majoritário.
Se tanto faz como tanto fez ser os responsáveis pela vitória, isso desvaloriza o voto e é incentivo ao voto indiferente, despolitizado.
É balela governo para todos, é quimera pequeno burguesa.
Se adotada essa linha, o povo será prejudicado sempre.
O Brasil vai construindo uma história antipedagógica e de impunidades: os militares que implantaram a ditadura sanguinária de 64, com licença para seus agentes matarem e torturarem, não foram sequer julgados; os herdeiros dessa ditadura retornaram, golpearam o governo Dilma, colocaram traidores e neofascistas no poder, os quais praticaram graves crimes de lesa-humanidade e lesa-pátria, bem como o mais atroz genocídio, e há no entorno do governo Lula articuladores da anistia a esses delinquentes.
As mãos que golpearam ontem e afagaram na eleição, são as mesmas que trairão no futuro.
A herança perversa que o governo eleito está recebendo é a síntese de um governo decrépito.
Até em seus estertores está fazendo o inimaginável da antidemocracia, tentando deixar aparelhado diversos órgãos, criando todos os tipos de dificuldades ao governo eleito, além de um Estado falido.
Até a Comissão de Mortos e Desparecidos Políticos querem extinguir, como mais uma demonstração de acinte, de um governo sobretudo alinhado com a ideologia nazifascista.
É um ato violento à história, cujo ônus ficará com o bolsonarismo, mas nada vai alterar, porque sendo uma Comissão de governo, Lula pode restaurar, contudo, é mais uma demonstração de desprezo à dor dos familiares que não sabem onde estão enterrados os seus parentes assassinados pela ditadura militar, e que até o presente não puderam viver o luto.
Ao governo que falece de forma pervertida, não se reivindica nada, se protesta, e ao governo prestes a tomar posse, demanda-se coerência e consideração aos familiares de mortos e desaparecidos políticos e aos seus companheiros de luta ainda vivos, e reestruture o que foi demolido pelo bolsonarismo, aplicando as lições que a história está legando.
Se Bolsonaro e demais cúmplices forem anistiados, significará espalhar sementes golpistas e impunidades pelos rincões do país.
Os arrivistas de olhos para cargos governamentais e os conciliadores de sempre não abraçam com determinação a luta pela justiça de transição.
Sabemos que somos minoria nessa refrega, porém, se cedermos, quem fará o contraditório, quem defenderá a herança de nossa geração de combatentes à ditadura!?
Anistia aos golpistas da democracia e aos autores das graves violações dos direitos humanos é nos torturar duplamente. De novo não!
A democracia esteve no fio da navalha, talvez ainda esteja na corda bamba, e não sobreviverá por muito tempo, mantendo em seu ventre a impunidade dos seus inimigos.
Se o Múcio no Ministério da Defesa for sinal de anistia, o governo estará começando muito mal.
Ontem, dia 09, foi preso o famigerado capitão Guimarães, por suspeita de ser o mandante do assassinato de um pastor, mas não pelos crimes de tortura, assassinatos, butim, que cometeu durante a ditadura.
Ele não foi só agente do DOI-Codi, fez parte também do Esquadrão da Morte, sou testemunha.
Na matéria no GGN, https://jornalggn.com.br/ditadura/bicheiro-preso-capitao-guimaraes-poroes-da-ditadura/, sou citado pelo nome, Francisco Celso, e também pelo nome de guerra Túlio, e pelo meu primeiro sobrenome, Calmon.
Hoje dia 10 de dezembro, dia internacional dos Direitos Humanos, não há o quê celebrar, mas lembrar e nos indignar dos crimes que diuturnamnete ocorrem no Brasil das mulheres, dos negros, das minorias e dos militantes políticos, no passado e no presente.
Neste dia desejo, em nome da justiça de transição, que o capitão da presidência vá brevemente fazer companhia ao seu colega, tão depravado quanto ele.
Anistiar golpistas e torturadores, nunca mais.
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