Dia do jornalista. Não do jornalismo
Os Marinho criaram as Mari(nh)onetes, simulando uma polissemia. Por ouvir várias vozes em variados meios, a população acredita estar a ouvir vozes diversas por ouvir diversas vozes, mas são sempre as mesmas caras, sempre os mesmos caras
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
O jornalista e o jornalismo estão sempre a ser catalogados na mesma categoria, o que é um erro.
O jornalista, você bem o sabe, esse operário da comunicação, é uma espécie de testemunha ocular da história. É o cabra que transforma fatos em notícia.
Ponto.
Mas é fato também que ele está inserido dentro de uma categoria descrita como jornalismo. E aí é que começa a surgir a confusão.
Ponto e vírgula.
E esse sufixo, –ismo, é que dá o nó no rabo do porco.
Englobados, todos, nessa categoria Jornalismo, parece que todos os jornalistas pertencem a uma mesma religião ou seita; ou a uma modalidade esportiva; ou que estão todos acometidos pela mesma enfermidade ou, ainda, que fazem parte do mesmo sistema filosófico ou da mesma doutrina política ou ideológica.
E aqui é que a confusão começa a se dissipar.
Dois pontos.
Essa capa d'O Globo aí de cima evidencia a diferença que há entre o jornalismo e os jornalistas.
O cabra que colocou essa foto da presidenta na capa d'O Globo foi um jornalista. O que enxergou a palavra "força" e percebeu que ela tinha força simbólica, que foi além do fato e buscou ali arranjos semiológicos e gestálticos, é o representante legítimo do jornalismo; que pode até ser um jornalista, mas não necessariamente.
Esse senhor que mandou dar uma ré no avião para a palavra "força" desaparecer servia não ao público ou ao interesse público, ele obedecia caninamente às diretrizes ideológicas de seu patrão.
O jornalismo é, portanto, uma ideologia.
É a doutrina econômica, política, ideológica e cultural dos donos dos jornais.
É o jornalismo, e não o jornalista, quem se auto intitula o Quarto Poder. Porque o lance do jornalismo é esse, Poder.
A midiocracia é uma aspiração do jornalismo. Por isso que hoje, no Brasil, vemos essa tentativa descarada de subjugar e submeter os outros três poderes.
Walter Lippmann - e eu só fui conhecer esse senhor no mestrado em comunicação - lançou em 1922 o seminal Opinião Pública e ali ele já mostrava as artimanhas da manipulação cognitiva.
A opinião publicada, a opinião dos donos dos jornais portanto, se convertia num passe de mágica na mítica opinião pública.
McCombs, nos anos 60, lacra esse pensamento demonstrando o poder de agendamento político, cultural, social e econômico que estava nas mãos dos poderosos donos do Quarto Poder.
Com a chegada da blogosferta, no Brasil, estamos a assistir o início de uma ruptura, onde jornalistas passam a criticar seus ex-patrões e seus métodos manipuladores.
Jornalistas passaram a critica o jornalismo.
Nem, todos é claro.
Convertidos em bonecos de ventríloquo, alguns jornalistas se converteram em animais domésticos.
Gratos por receber casa e comida, eles aceitam resignadamente que lhe ponham uma coleira e que, de vez em quando, lhes deem umas pancadas.
Atiram-lhes um osso e eles correm, abanado o rabinho.
Os Marinho criaram as Mari(nh)onetes, simulando uma polissemia. Por ouvir várias vozes em variados meios, a população acredita estar a ouvir vozes diversas por ouvir diversas vozes, mas são sempre as mesmas caras, sempre os mesmos caras.
Assim, ubíquos, os donos do Quarto Poder manipulam corações e mentes.
Mas as coisas têm mudado.
Na Web, livres dos grilhões empregatícios, jornalistas aproveitam a linguagem dialógica da blogosfera e desmascaram os colegas ventriloquados; o jornalismo cada vez pode menos.
Portanto, só os jornalistas podem nos livrar do Jornalismo.
Palavra da salvação.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popularAssine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247