Dia do advogado – com Lava Jato o cenário é preocupante

Se a Lava Jato 'der certo', pelo seu lado de descoberta de bandidos, corruptos e ladrões do dinheiro público, talvez consiga criar a cultura de que 'coagir um pouquinho' o réu para obter confissões 'não teria tanto problema assim'

Se a Lava Jato 'der certo', pelo seu lado de descoberta de bandidos, corruptos e ladrões do dinheiro público, talvez consiga criar a cultura de que 'coagir um pouquinho' o réu para obter confissões 'não teria tanto problema assim'
Se a Lava Jato 'der certo', pelo seu lado de descoberta de bandidos, corruptos e ladrões do dinheiro público, talvez consiga criar a cultura de que 'coagir um pouquinho' o réu para obter confissões 'não teria tanto problema assim' (Foto: Jean Menezes de Aguiar)


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11 de agosto, dia do advogado. Talvez não seja motivo para grandes festas. Com a operação Lava Jato uma nova – e preocupante - sociologia está sendo implantada no Direito Processual Penal e talvez até no Direito Constitucional.

Como toda e qualquer norma legal precisa ser 'interpretada', está-se diante do seguinte dilema. Se a operação Lava Jato 'der certo', pelo seu lado de descoberta de bandidos, corruptos e ladrões do dinheiro público, talvez consiga criar a cultura de que 'coagir um pouquinho' o réu para obter confissões 'não teria tanto problema assim'.

Para um país extasiado com a corrupção estatal que se arrasta por praticamente toda sua história e jamais combateu eficazmente, o cansaço inercial deste 'hábito' demanda novas medidas para que ele seja, então, enfrentado. Daí, 'torturar um pouquinho' para se obter uma confissão ou uma delação premiada – é o mesmo-, para muitos utilitaristas vale.

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Não se ache que coagir e torturar é chicotear alguém num pátio de prisão. Nada disso. Há quebras e terrores psicológicos gravíssimos e infames, praticados historicamente nas prisões, sob a impunidade de ninguém de fora ficar sabendo. Afetações à saúde por demoras propositadas no atendimento que visam a minar a resistência do detendo. A 'tecnologia' da tortura é enorme.

Aí, a velha balança que já foi estudada por cientistas do direito no mundo todo. Vale 'coagir um pouquinho' para se conseguir uma confissão, atualmente, uma delação premiada? A resposta uníssona de toda a parte democrática do planeta foi um 'não' retumbante.

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Ditaduras e regimes políticos cruéis lançaram – e continuam a lançar- mão ordinariamente de modos coativos, físicos e psicológicos, para se obter confissões. Democracias também usam, só que escondido e jurando que jamais fariam isso. Como a palavra do detento não vale muito perante uma sociedade ávida e intolerante, o quadro se ordinariza, vira um hábito cruel.

O futuro próximo imediato do Direito Processual Penal, com esse cadeísmo, esse prendismo de investigados na Operação Lava Jato, que tanto felicita, alegra e vinga conservadores e socialmente incautos da sociedade, representa um cenário dos mais preocupantes para a ciência jurídica serena. A mesma ciência, confesse-se, que sabe que não (!) conseguiu dar respostas totalmente eficiente à mazela cultural da corrupção. Mas a ciência que já concluiu que nem uma ligeira coação vale para forçar uma confissão.

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Se há este cenário preocupante para o Direito, há aí um desafio para o advogado que atravessa este seu dia no ano de 2015 meio atônito com esses 'resultados' da Lava Jato.

Advogados seniores vêm se queixando, desde o processo judicial do Mensalão, que a participação da defesa vinha ficando cada vez mais minorada. Aqui está o tônus preocupante maior. Não é o advogado que fica 'menosprezado' com essa situação. É, no tripé de igualdade constitucional – acusação, julgamento, defesa- a defesa que sai esbugalhada.

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Muitos na história do mundo que já se sentiram 'vingados' com o menosprezo da defesa, em processos judiciais 'dos outros', pagaram preços altíssimos quando o revés os alcançou.

Novamente. O Brasil é um país de uma massa imensa e majoritária pobre, bolsões de necessitados, excluídos e discriminados. O menosprezo da defesa afetará muito menos os grandes larápios que, como num acordo tácito, jamais confessado, ficam presos pelos combinados 6, 8 meses e depois voltam para suas mansões em 'prisão domiciliar'.

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Já o dia a dia do Direito Processual Penal, por todos os cantos do país, talvez fique influenciado por um regime 'mais duro'. O que está longe de ser um ganho social. Os novos tempos podem não ser de avanços somente, mas de pílulas de retrocesso. E estas matam, ainda que em pequenas doses.

Não é o advogado que 'importa' na relação processual de um réu. Nem o juiz, nem o promotor. Mas um equilíbrio justo e, sobretudo, ético entre as três funções que, segundo a lei, não ostentam hierarquia ou subordinação. Introduzir a 'ética' no Direito Processual, uma ciência bastante não valorativa, ao contrário do Direito Civil, por exemplo, foi uma conquista relativamente recente.

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Advogados têm enfrentado uma cisma burocrática oficial, escancaradamente ilegal, de ter 'normatizado' que o investigado/réu preso só tem direito a visita de advogado uma vez por dia, como noticiou recentemente a imprensa.

A sociedade terá que fazer escolhas. Aceitar pequenas ilegalidades em nome de um pragmatismo de resultado a qualquer preço, ou pressionar para que não se viole a lei, nunca. Talvez todo este o cenário seja o lugar comum do advogado: o desafio.

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Do blog Observatório Geral

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