Deu no jornal: “gripe espanhola” surgiu ao menos 18 anos antes de 1918
"Aquilo que a gente costuma ouvir e repetir – a influenza, ou “gripe espanhola” atacou em 1918 – não é verdade. Ela já matava muito antes, em 1900, na Europa e nas Américas e só assim se explica a quantidade de vítimas que se costuma atribuir à pandemia – 50 milhões", escreve Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia
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Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia
Eu tenho a mania – praticamente um vício – de ler jornais antigos. Sei lá por que. Talvez porque a essa altura da minha vida eu tenha um grande passado pela frente. Ou porque suas notícias não são tão ameaçadoras como as dos jornais de hoje, que nos falam de um sombrio amanhã.
O amanhã sombrio dos jornais antigos já passou,
Foi assim que, ontem à noite, decidi “folhear” alguns exemplares da coleção da Hemeroteca da Biblioteca Nacional, sem sair da minha caverna, é claro. Tudo pela internet.
Sempre prefiro escolher os jornais por período histórico. Não sei por que cargas d’água apontei para os anos 1900. Depois escolhi a cidade do Rio de Janeiro e finalmente acessei os nomes dos jornais.
Comecei a pesquisar por ordem alfabética. Depois de ler trechos de algumas publicações insossas, resolvi clicar em “A Imprensa”.
O nome do redator-chefe vem no cabeçalho: Ruy Barbosa. O original.
Sempre aleatoriamente, acessei a edição do dia 20 de janeiro de 1900, que traz na primeira coluna as seguintes notícias abaixo da manchete “Itália. 30.000 pessoas de influenza. Os teatros fechados”:
“Roma, 27 – Há nesta cidade 30.000 pessoas atacadas de influenza. Os teatros, em sua maioria, estão fechados. Há muitos artistas enfermos.
“Roma, 27 – O cardeal Jacobini continua gravemente enfermo. Não há esperanças de salvá-lo.
“Roma, 27 – O papa está enfermo, tendo se recolhido aos seus aposentos.
“A influenza na Hespanha” é a manchete seguinte:
“Barcelona, 27 – Nesta cidade e em Bilbao e Salamanca a influenza está grassando com grande intensidade, alarmando as populações”.
Consultei, a seguir, a edição de 9 de setembro de 1900.
“Santiago, 8 – O ministro da indústria foi acometido de forte ataque de influenza, que o detém no leito”.
Ou seja: aquilo que a gente costuma ouvir e repetir – a influenza, ou “gripe espanhola” atacou em 1918 – não é verdade. Ela já matava muito antes, em 1900, na Europa e nas Américas e só assim se explica a quantidade de vítimas que se costuma atribuir à pandemia – 50 milhões.
Seria impossível acontecer esse morticínio em apenas um ano.
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