Destruição do Brasil e da Argentina: um presente para Trump

"A reunião do G20 em Buenos Aires, no final de novembro, organizada pelo presidente argentino Mauricio Macri, pretende ser uma apresentação ao mundo da nova-velha cara do continente, espelhada na Argentina e no Brasil", avalia o sociólogo Emir Sader; "Trump deve vir, para controlar o grau de subserviência dos novos mandatários da região, assim como impor novas orientações a esses países"

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Destruição do Brasil e da Argentina: um presente para Trump


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Nunca a América Latina tinha estado tão unida e integrada como quando a Argentina e o Brasil deixaram de ser rivais para serem aliados, pelas mãos do Lula e do Nestor Kirchner. Com o fortalecimento e a ampliação do Mercosul com a fundação da Unasul e da Celac, nunca os EUA estiveram tão isolados no continente. Suas apostas fracassaram, uma depois a outra – México, Chile, Peru, Colômbia.

O retorno da direita aos governos na Argentina e no Brasil representou não apenas o final dessa etapa de integração, com a desarticulação do Mercosul, de Unasul e de Celac, com a destruição desses dois países, como economias em expansão, como governos com apoio popular, como nações com políticas externas soberanas. Na ha presente melhor para o Trump e sua política de retorno à guerra fria.

De economias que tinham recuperado sua capacidade de crescimento, de governos que tinham priorizado as políticas sociais de distribuição de renda de presidentes que haviam liderado os processos de integração regional, passamos a governos que privilegiam o ajuste fiscal, intensificando a recessão econômica, cortando recursos das politicas sociais e acentuando as dinâmicas de exclusão social, a governos que voltam a governar para poucos, a políticas externas de submissão absoluta aos interesses dos Estados Unidos.

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Agora se trata de bloquear a possibilidade de que os principais líderes políticos latino-americanos possam se candidatar e voltar a dirigir os seus países. A judicialização da política atinge diretamente a Lula, a Cristina Kirchner, a Rafael Correa e começa a ameaçar o principal líder da esquerda colombiana, Gustavo Petro.

Tudo como um presente para Trump, que consegue restabelecer pontes com o continente, na Argentina, no Brasil, no Equador, no Chile, enquanto perde laços carnais com o México. Vai se reduzindo a América Latina à intranscendência, da mesma forma que havia ocorrido nos anos 1990, quando nenhum presidente do continente importunava a Washington.

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Era também o momento de auge do neoliberalismo, no mundo e na América Latina. Todos os países – à exceção, claro, de Cuba – aderiam a esse modelo, como panaceia para todos os seus problemas. Os ajustes fiscais diminuíam o tamanho do Estado, processo em que as privatizações de patrimônios públicos faziam a festa para as grandes corporações econômicas internacionais.

Enquanto isso se acentuava a desigualdade no continente mais desigual do mundo, recessões econômicas se multiplicavam, vítimas dos ajustes, acompanhadas de taxas de desemprego recordes. Dirigentes dos nossos países disputavam a preferência na subserviência aos EUA, abandonando qualquer veleidade de soberania nacional ou de integração regional.

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O retorno àqueles anos se centra na destruição das economias do continente, prioritariamente nas da Argentina e do Brasil, que vão ficando reduzidas às suas expressões mínimas, completamente abertas aos capitais estrangeiros – prioritariamente ao capital financeiro -, concentradas em intensificar a superexploração dos trabalhadores e a privatização de empresas estatais.

A reunião do G20 em Buenos Aires, no final de novembro, organizada pelo presidente argentino Mauricio Macri, pretende ser uma apresentação ao mundo da nova-velha cara do continente, espelhada na Argentina e no Brasil. Trump deve vir, para controlar o grau de subserviência dos novos mandatários da região, assim como impor novas orientações a esses países.

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Porém, ele não poderá se apresentar como o chefe de um bloco coeso, que costumava responder às orientações de Washington. Trump acentuou as divergências com a Europa – além de com a China e a Rússia -, desde a guerra comercial até a retirada dos EUA dos acordos climáticos estabelecidos em Paris, chegando agora a divergências sobre a proposta europeia de construir uma forca militar própria, chocando-se com a da Otan.

Por aqui tampouco nem Argentina, nem Brasil, poderão apresentar resultados positivos da reinstauração dos modelos neoliberais. São duas economias em profunda recessão, com níveis altíssimos de desemprego, sem perspectiva de recuperação econômica. Nem os novos governos na Colômbia, no Peru e no Chile, podem ser citados como exemplos do caminho a seguir no continente.

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Provavelmente Trump nem agradecera os presentes que lhe são ofertados, com sua costumeira grosseria, passará em revista as tropas, dará ordens e se retirará, contente com a nova ordem que reina no continente, não importando a instabilidade, a miséria e a falta de esperança que predominam. Para tentar desviar a atenção da sua insignificante figura, Temer tentará levar o presidente eleito do Brasil e seu chanceler, para mostrar que temos ainda piores esperam o maior pais do continente, mais além da vergonha e do ridículo dos três.

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