Desmoralização do Judiciário explica esforço contra prisão de Lula

"Apenas num país onde a credibilidade do Judiciário  atingiu um nível impensável em qualquer nação civilizada exibe a cena que os brasileiros assistiram nesta tarde de sábado, quando algumas centenas de manifestantes tentaram impedir que Lula se apresentasse a Polícia Federal", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; para PML, "cabe estar preparado para novas lutas e mobilizações que serão necessárias, daqui para a frente, para defender os direitos de quem perdeu o maior deles, a liberdade" 

"Apenas num país onde a credibilidade do Judiciário  atingiu um nível impensável em qualquer nação civilizada exibe a cena que os brasileiros assistiram nesta tarde de sábado, quando algumas centenas de manifestantes tentaram impedir que Lula se apresentasse a Polícia Federal", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; para PML, "cabe estar preparado para novas lutas e mobilizações que serão necessárias, daqui para a frente, para defender os direitos de quem perdeu o maior deles, a liberdade" 
"Apenas num país onde a credibilidade do Judiciário  atingiu um nível impensável em qualquer nação civilizada exibe a cena que os brasileiros assistiram nesta tarde de sábado, quando algumas centenas de manifestantes tentaram impedir que Lula se apresentasse a Polícia Federal", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; para PML, "cabe estar preparado para novas lutas e mobilizações que serão necessárias, daqui para a frente, para defender os direitos de quem perdeu o maior deles, a liberdade"  (Foto: Paulo Moreira Leite)


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Apenas num país onde a credibilidade do Judiciário  atingiu um nível impensável em qualquer nação civilizada exibe a cena que os brasileiros assistiram nesta tarde de sábado, quando algumas centenas de manifestantes tentaram impedir que Lula se apresentasse a Polícia Federal.

Enquanto Lula fazia o possível para cumprir uma pena de 12 anos e um mês, algumas centenas de manifestantes decidiram barrar seu caminho e impedir que ele fosse conduzido à prisão.

Se a experiência humana ensina que a maioria dos condenados passa a existência fazendo planos para escapar da prisão, a situação de Lula era inversa:tentava cumprir a sentença que o TRF-4 lhe deu mas  não conseguia.

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A hesitação da Polícia Federal, a mesma que agiu com truculência inesquecível quando cumpriu a ordem de "coerção coercitiva", se explica por um cálculo político óbvio. O risco era acender uma faísca que poderia produzir uma labareda.

Afinal, o prestígio da Lava Jato já viveu momentos melhores, vamos combinar. Lula não é qualquer prisioneiro. Sua prisão foi "absurda", disse Gilmar Mendes, do STF. 

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O surrealismo dessa situação não é difícil de entender.

Embora Lula tenha todo direito de tomar uma decisão que envolve seu destino como indivíduo, uma parcela considerável de aliados e militantes de longo curso enxerga -se como parte daquilo que o próprio presidente costuma chamar corretamente de "ideia Lula". Essa situação ficou clara na missa e no discurso de Lula na manhã de sábado.

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Enquanto ele próprio, além de dom Angélico Sândalo Bernardino e demais lideranças religiosas fizeram pronunciamentos em tom favorável a apresentação de Lula, a massa reunida em frente ao carro de som berrava palavras-de-ordem como "Resistência" e "Não se entrega".

Mesmo no palanque, onde se reuniam convidados escolhidos por Lula, era possível fazer a leitura labial de bocas que diziam "Não se entrega, não se entrega".

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Pode-se dizer que aquelas milhares de pessoas presentes não expressam a voz de todos brasileiros. Não é preciso. Enquanto Lula é o líder de todas as pesquisas presidenciais, levantamentos de caráter  qualitativo, que apuram a sensibilidade menos aparente do eleitorado, demonstram a consciência de que o país vive um ambiente de perseguição.

Estamos falando de pessoas que sustentaram Lula nos momentos de glória e nas derrotas. Participaram das grandes vitórias, comemoraram  seus sucessos. Após o golpe que derrubou Dilma, quando o laço da Lava Jato se tornou cada vez mais sufocante e cruel,  foram eles e elas que engrossaram atos públicos que ameaçavam fracassar e passeatas que seriam desfiles de ninguém.

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A decisão de se entregar se baseia na convicção de que era preciso evitar o pior. Não há o que discutir. Sim, o arsenal de crueldades da Lava Jato, que, como instituição, o Supremo Tribunal Federal acompanha de camarote,  permite mais do que uma condenação sem provas. Autoriza Sérgio Moro a decretar uma "prisão preventiva,"  inferno penal contra o qual os recursos são complicadíssimos, já que sua base é altamente subjetiva. Não possui prazo de duração determinado em lei, devendo atender aos princípios da proporcionalidade e necessidade -- exigência vaga, que acaba sendo resolvida pelos valores e interpretações de um juiz. O sistema carcerário brasileiro guarda milhares de casos de presos provisórios encarcerados por anos e anos -- e nada. 

A questão é aceitar a ideia de que Lula fez uma escolha acertada ao se apresentar à Justiça que indiscutivelmente lhe dá um tratamento persecutório.

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Recapitulando mais uma vez. O Judiciário não respeitou seus direitos elementares na confecção de uma acusação. Formulou uma sentença leviana, revista de modo bisonho na segunda instância. Como se viu no 6 a 5 contra o habeas corpus, nem mesmo um debate constitucional claríssimo como um copo de água filtrada foi capaz de comover o STF.

Advertência para o futuro: já no forno, a Lava Jato prepara um pacote de novos processos contra Lula. Poderão ser atualizados sempre que houver necessidade. Alguém ousa ter alguma dúvida sobre seu resultado?

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Outra advertência. Como se aprendeu recentemente, vivemos num país onde um ministro do Supremo, Luiz Roberto Barroso, questiona a concessão de indultos como prerrogativa presidencial -- como diz a Constituição -- e nada acontece.  

Este é o universo de dúvidas e receios justificados que explicam as tensões do dia. Colocado contra a parede, desrespeitado em seus direitos, Lula fez uma escolha uma coerente com sua história pessoal e sua visão de mundo. Falou em revolução para referir-se ao processo histórico pelo qual, de forma negociada e sem rupturas, promoveu mudanças jamais ocorridas na sociedade brasileira. Em vários momentos, usou a expressão "Eu sonhei", que remete ao pastor Martin Luther King, principal liderança do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos da década de 1960, de postura firme e métodos reconhecidamente moderados de ação política.  

Lula não quer que a população tenha uma sombra de dúvida sobre sua honestidade e por essa razão sempre rejeitou sugestões que poderiam lhe garantir mais conforto e liberdade pessoal, como pedir asilo na embaixada de um país amigo.

Também faz questão -- mesmo em condições especialmente difíceis -- de defender seu lugar na campanha presidencial. Continua candidato do PT. 

Enquanto o cortejo de SUVs negras percorria as ruas de São Bernardo para São Paulo, sinalizando uma mudança que torna o país mais próximo da banalidade do mal permitida pela barbárie do Judiciário, só resta torcer para que a escolha de Lula traga os resultados esperados.    

Em qualquer caso, cabe preparar a mente para novas lutas e mobilizações que serão indispensáveis para proteger seus direitos numa situação ainda mais difícil, de quem perdeu a liberdade, o maior bem  após a vida. 

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