Derrota de Trump é também uma vitória de George Floyd
A derrota simbólica e prática significa, momentaneamente, o enfraquecimento da corrente política de extrema-direita neofascista e fundamentalista que se articula em torno de Trump
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A esquerda e as forças progressistas festejam em todo mundo, e com razão, a derrota de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas. A derrota simbólica e prática significa, momentaneamente, o enfraquecimento da corrente política de extrema-direita neofascista e fundamentalista que se articula em torno de Trump. Uma corrente que se expandiu agressivamente durante o seu mandato para o centro da Europa, o Leste Europeu e América Latina.
No Brasil, foi um fim de semana de comemorações em amplos setores da esquerda. Houve até quem exagerasse, o que faz parte de toda boa festa. O ex-presidente Lula expressou o seu juízo sobre o resultado eleitoral dos Estados Unidos com um minimalista: “Um alívio”. Além disso, nós brasileiros temos motivos de sobra para comemorar: A derrota de Trump abala, no primeiro momento, o sistema de alianças do governo Bolsonaro no plano internacional. O setor mais extremista e o clã Bolsonaro perdem um aliado político estratégico. Bolsonaro pode até fingir algum nível de resistência, mas logo vai se readequar ao comando do novo chefe imperialista.
A contenda eleitoral revelou a profunda crise institucional, econômica, social e sanitária que atravessa de ponta a ponta o país imperialista e principal potência militar do mundo. Uma crise que atinge as instituições do “estado permanente” e arrasta o conjunto da sociedade norte-americana. O país do Norte segue dividido e o rancor político é um sentimento amplamente consolidado em vastos setores da população – armadas ou não.
Apesar de derrotado eleitoralmente, a corrente de opinião trumpista segue com forte presença política nos Estados Unidos: Foram quase 70 milhões de votos, vitória em diversos estados, a conquista da maioria no Senado e o avanço em cadeiras na Câmara de Representantes (Câmara de Deputados). O “trumpismo” demonstrou ainda um forte enraizamento na velha classe trabalhadora branca e menos escolarizada e entre os trabalhadores de origem latina.
O futuro governo do democrata Joe Biden nasce em meio ao período do mais aberto confronto político e social das últimas décadas nos Estados Unidos e terá pela frente uma dupla pressão: pela direita, a força do trumpismo, e pela esquerda, o amplo leque de forças reunidos em torno da liderança de personagens como Bernie Sanders, Stacey Abraams e Alessandra Ocasio Cortez – e de um vigoroso movimento social da população negra, das mulheres, da juventude nos grandes centros urbanos e das bases sindicais da AFL-CIO. A vitória de Biden foi tributária também desse amplo conjunto de forças sociais. A eleição ocorreu no bojo de um incandescente processo de mobilização social.
A intensa jornada de protesto social, ainda em curso, foi um dos fatores políticos que favoreceu o desgaste continuado do governo e abriu o caminho para a derrota de Trump. Até o início do ano, Trump era apresentado como favorito para mais um mandato no comando da Casa Branca.
Os acenos de Biden para a esquerda do partido Democrata e ao movimento Black Lives Matter serão postos em prova nos próximos meses. Alguns tópicos do programa do democrata apresentam uma coloração levemente rooseveltiana: A promessa de uma política de elevação de salários, a contratação de cem mil pessoas para o combate ao coronavírus, a retomada de Obamacare, a reforma da polícia e medidas antirracistas, entre outras propostas anunciadas.
No plano externo, Biden promete a volta da colaboração dos Estados Unidos nos organismos internacionais, uma parceria maior com a União Europeia e há expectativas de uma nova abordagem em relação à guerra comercial travada contra a China e sobre as velhas pendências com a Rússia, Coreia do Norte, Cuba e Venezuela.
De toda forma, a esquerda e os movimentos sociais dos Estados Unidos têm o desafio de encontrar um caminho independente diante da armadilha do sistema eleitoral do bipartidismo, que sufoca e falsifica a verdadeira representação do povo norte-americano. Uma superestrutura política construída para assegurar a dominação imperial interna e externa.
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