Depois do golpe, a guerra?

Um ridículo nos cobre, um país mestiço e pobre, com parcela reduzidíssima de ricos, mas igualmente mestiços – aí estão os Cardoso, pela própria boca, e, igualmente, os Marinho, os Neves e tantos outros destes dirigentes “com um pé na cozinha” – buscando macaquear europeus ou seus descendentes estadunidenses, conseguindo apenas a permanente desmoralização nacional, agora potencializada pela “quadrilha dirigente”

Um ridículo nos cobre, um país mestiço e pobre, com parcela reduzidíssima de ricos, mas igualmente mestiços – aí estão os Cardoso, pela própria boca, e, igualmente, os Marinho, os Neves e tantos outros destes dirigentes “com um pé na cozinha” – buscando macaquear europeus ou seus descendentes estadunidenses, conseguindo apenas a permanente desmoralização nacional, agora potencializada pela “quadrilha dirigente”
Um ridículo nos cobre, um país mestiço e pobre, com parcela reduzidíssima de ricos, mas igualmente mestiços – aí estão os Cardoso, pela própria boca, e, igualmente, os Marinho, os Neves e tantos outros destes dirigentes “com um pé na cozinha” – buscando macaquear europeus ou seus descendentes estadunidenses, conseguindo apenas a permanente desmoralização nacional, agora potencializada pela “quadrilha dirigente” (Foto: Pedro Augusto Pinho)


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Recebi alguns comentários a meus artigos que identificavam o momento político que vivemos ao da Alemanha dos anos 1920, quando o nazismo foi sendo construído e se empoderando.

A história é única; num momento civilizatório e em determinado lugar. Mas o apetite capitalista pelo lucro, pela expansão imperialista, pela apropriação de bens é permanente. O que podemos tirar, como “lição da história”, como reflexão sobre um acontecimento é a resultante do conjunto de forças, como vetores em diferentes direções, que acarretou tal desfecho.

Transcrevo, pela expressividade, rigor histórico e construção literária, na tradução da professora Isabel Loureiro, um trecho de “A crise da social-democracia”, de Rosa Luxemburg (in Gesammelte Werke, Dietz Verlag, Berlin, 1987):

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“A marcha de seis semanas sobre Paris transformou-se num drama mundial; o imenso massacre tornou-se um negócio quotidiano, de uma cansativa monotonia, sem qualquer solução à vista. A política burguesa está paralisada, presa na sua própria armadilha e já não pode exorcizar os espíritos que invocou.

A carne para canhão, embarcada em agosto e setembro repleta de patriotismo, apodrece agora na Bélgica, nos Vosges, na Masúria, em cemitérios onde o lucro cresce vigorosamente. Trata-se de guardar rapidamente a colheita. Sobre esse oceano, milhares de mãos se estendem, ávidas para arrancar a sua parte.

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Os negócios prosperam sobre ruínas. Cidades transformam-se em montes de escombros, aldeias em cemitérios, regiões inteiras em desertos, populações em tropas de mendigos, igrejas em estábulos” (escrito na prisão e publicado na Suíça em 1916).

Ouso acrescentar: toda esta desgraça da I Grande Guerra gerou enormes lucros, aumentou fortunas e fortaleceu o poder dos ricos. Os resultados da Krupp, Thyssen, Stinnes estão aí para comprovar.

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Avaliemos a situação e as forças da época.

A Alemanha Imperial, da unificação sob Bismarck, era o “Império Evangélico de Nação Alemã”. Guilherme I era não apenas um Imperador mas um “summus episcopus”. Como expõe Isabel Loureiro (A Revolução Alemã, Editora UNESP, SP. 1ª edição, 5ª reimpressão, 2017): “quando o edifício institucional da monarquia desmoronou no final de 1918, os protestantes (mas também a alta hierarquia da Igreja Católica) enveredaram por um caminho nacionalista e reacionário, em clara hostilidade à República”, de Weimar (1919/1933).

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Temos, então, um quadro do poder, conservador mas nacionalista, na cúpula governamental e na elite dirigente alemã. Muito longe do que vemos no Brasil de hoje. A única variável que poderíamos identificar é a participação religiosa neopentecostal, dos partidos das “Igrejas da Caixinha”, na irônica referência de Gregório Duvivier (Greg News, 28/07/2017).

Formamos um modelo do atraso generalizado e, na forma comum destes mais de 500 anos, colonizado. Se acreditássemos viver numa efetiva democracia, poderíamos dizer que a submissão colonial é o mais popular desejo dos brasileiros. Mas sabemos que as eleições são, na imensa maioria, fruto de manipulação midiática, do dinheiro nacional e estrangeiro, como dos IPES e IBADES de 1962, e similarmente repetidos em 2014.

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Poderíamos então, no modelo do império alemão, entender que estamos no argentário e fundamentalista sistema colonizado de hipocrisia republicana.

Agora que, com o auxílio da História, pudemos entender nosso presente, busquemos os objetivos.

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Na Alemanha, conforme o grande estudioso do processo civilizatório, Norbert Elias (Os Alemães, Zahar, RJ, 1997), encontrávamos uma sociedade “afinada com um forte governo de cima para baixo, com pouquíssima participação de todos os governados”. Além de inteiramente oposta a mudança, não admitia a mínima participação popular e feminina, como uma verdadeira sociedade estamental. Veja, assim, os juízes e representantes da sociedade, exercendo suas atividades sem remuneração, limitando a aplicação da justiça e a elaboração normativa ao arbítrio e interesse de classe, dos ricos, dos rentistas daquela Alemanha Imperial.

Um ridículo nos cobre, um país mestiço e pobre, com parcela reduzidíssima de ricos, mas igualmente mestiços – aí estão os Cardoso, pela própria boca, e, igualmente, os Marinho, os Neves e tantos outros destes dirigentes “com um pé na cozinha” – buscando macaquear europeus ou seus descendentes estadunidenses, conseguindo apenas a permanente desmoralização nacional, agora potencializada pela “quadrilha dirigente”.

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Fico pensando nestes adeptos dos bolsonaros, crivellas, dorias e seus similares; terão entendimento de sua ignorância, de sua autoflagelação, da fonte dos males que tanto reclamam? Não vêem que se prestam ao papel de massa de manobra dos interesses estrangeiros colonizadores e de serem seus capitães do mato locais?

Mais uma vez, vendo a escola pública – onde fiz meu primário nos anos 1949/1953, na Capital da República, e aprendi que “o Brasil era um país essencialmente agrícola”, que “no Império havia ordem e progresso”, o “grande inimigo do país, de homens católicos e ordeiros, era o comunismo ateu” e outras debilidades – hoje considerada modelo, pergunto, sem precisar discutir a didática colonizadora, a quantos servia aquela doutrinação? 10%, 15% da população?

E o que acontecia com a quase totalidade dos brasileiros? Formaria a massa contribuinte das caixinhas neopentecostais, dos patos bate panelas, dos que não conseguem se olhar no espelho sem ódio? E, assim, preparados para assassinarem seus irmãos?

Transcrevo de Isabel Loureiro, na obra citada:

“Não por acaso, os estudiosos da época (Alemanha Imperial) são unânimes ao apontar no alemão médio traços da submissão e servilismo em relação aos de cima, compensados pela agressividade com os de baixo. É com essa matéria-prima psíquica que será moldada mais tarde a massa amorfa dos “pequenos nazistas”.

Para o Brasil, no recente livro de nosso maior sociólogo, Jessé Souza (A Elite do Atraso - da escravidão à lava jato, Leya, RJ, 2017), ao tratar do golpe de 2016 e da ação de nossas classes sociais, lemos:

“a única classe consciente de seus interesses entre nós foi e é ainda a ínfima elite do dinheiro”. “O liberalismo conservador, baseado no falso moralismo da higiene moral da nação, vai ser a pedra de toque da arregimentação da classe média que se cria nessa quadra histórica pela elite do dinheiro”. “Toda a importância do lulismo recente reside aí. Foi com ele iniciado um esforço que, caso fosse levado adiante, redimiria essa classe condenada pelo ódio covarde devotado ao escravo no espaço de poucas gerações”.

Enfim, é a permanente crucificação das classes populares, cujo ódio lhe é votado especialmente pelas frações da classe média, que assumem ser o “capataz da elite do dinheiro de modo a subjugar a sociedade como um todo”.

Pelas redes sociais, por e-mails recebidos, vejo, com preocupação, que se desloca, de um possível acordo contra a efetiva luta de classes, a questão que se tem como premente. Sem pretensão da verdade, reflito:

a – a guerra é instrumento da elite, não conheci caso de guerra popular. Quando muito um engodo obtendo apoio mais amplo. Tanto que já lemos, neste artigo, o exemplo de quem, na Alemanha, ganhou com a I Grande Guerra. Populares são as Revoluções socialmente transformadoras; e muitas vezes, como da Bolívia neste século XXI, sem guerra. Também, se buscarmos os primeiros passos bolcheviques (um bom tema para as festividades dos 100 anos da Revolução) iremos encontrar as greves russas, em 1917/1918, pela paz, obtida, mesmo com perdas, pelo Tratado de Brest-Litovsk. Para os operários, para as massas populares, as guerras sempre representam mais miséria, mais privação, mais dor.

Posso estar vendo outras maldades, mas a violência urbana, que está diariamente, insistentemente, a todo momento ocupando as redes de televisão, os noticiários radiofônicos, as “análises de especialistas”, pode intencionalmente preparar as pessoas para uma violência ainda maior, travestida de salvadora. O Exército já é usado, todo tempo, como polícia; para a guerra civil nem se dará um passo.

b – as manifestações populares sempre possibilitam algum nível de consciência. Mesmo quando reprimidas e derrotadas. Exigir eleições em 2018, exatamente como previstas na legislação em vigor (que se tenta reinterpretar e desfigurar neste judiciário desacreditado) é um imperativo para a conscientização, muito mais do que para a improvável mudança de poder. Manter o povo nas ruas e votando, desde síndico de condomínio a Presidente da República, é dispor de um instrumento de reflexão, de debate, de entendimento, de consciência política, social e  existencial.

Por conseguinte, mesmo reconhecendo os riscos mostrados pela Alemanha dos anos 1920, mas consciente que a história nunca é a mesma, coloco como o objetivos dos que lutam por um Brasil Soberano e Democrático, pela construção do país justo e cidadão para todos, a urgência da defesa da paz e do calendário eleitoral. Vamos para a disputa nas urnas, sem mais fraudes.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado 

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