Depois do fundamentalismo neopentecostal, o talibã caminhoneiro

Da anunciada “reindependência”, emergiu um grupo de bestas, de selvagens, que não têm a mínima condição de integrar o corpo social. Tudo tem seu limite e a condescendência da sociedade, das pessoas normais, em relação à animália, ultrapassou o suportável

(Foto: Reprodução/TV Globo)


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Ninguém, em sã consciência, tem dúvidas de que o bolsonarismo é um verdadeiro buraco-negro que, de um lado, suga para seu interior toda a qualquer manifestação de equilíbrio, de moderação ou temperança. O desgoverno atual tem, realmente, um poder astrofísico inexpugnável que se manifesta por uma espécie de ascendência sobre o absurdo, sobre o irracional, capaz de convencer as pessoas mais ingênuas de paradoxos que contestam a mais acessível das ciências. Essa influência, esse domínio sobre o ilógico despertou das profundezas da sociedade uma horda de boçais, uma turba de aloucados, que agora ameaça a ordem institucional não pela força, não pelos bloqueios das estradas ou pela resistência armada, mas pelo desatino. São tantos os alucinados, os celerados, os doidos que saíram das tocas, que não há vagas manicomiais para resguardá-los – ou seja, mesmo que conseguíssemos reuni-los, não haveriam hospícios neste mundo que comportassem tanta gente. De modo que os cerca de 75% da população diagnosticados como normais se tornaram reféns de uma minoria delirante, formada por verdadeiros animais.

Estamos falando de uma parcela da sociedade que, durante décadas, permaneceu em silêncio, exilada de qualquer lugar de fala, proscrita pela própria alienação. Despertada pelo bolsonarismo, essa patuleia ignara emergiu do isolamento de forma totalmente desordenada, raivosa, anárquica, como saída de um filme de zumbis. Agora, liderados por escroques do quilate de um Zé Trovão, ocupam a Esplanada dos Ministérios e se espalham pelas estradas de todo o país como uma legião de mortos-vivos. O movimento, que se insurgiu como uma manifestação orgânica, sem um porta-voz ou dirigente capaz de responder pela classe, se tornou uma troça de bandoleiros – só em Brasília, já forma “protocolados” 13 movimentos independentes, que não dialogam entre si. Enquanto um reivindica o fim do “homossexualismo no Supremo Tribunal Federal (STF)”, outro exige o “voto impresso”, um assunto que foi ordinariamente debatido e rejeitado no próprio Congresso, há pouquíssimo tempo.

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São, infelizmente, pessoas que atuam como verdadeiras âncoras, quando se projeta o futuro nacional. Infortunada e miseravelmente, são uma escória, uma ralé, uma choldra que, se fosse atingida por um raio milagroso e extinta, não faria falta – pelo contrário, nos liberaria da imobilidade. Lastimavelmente, é um grupo de miseráveis, de bestas, de selvagens que não têm a mínima condição de integrar o corpo social. São um “anti-povo”, parte do fundamentalismo da inurbanidade, representantes do fanatismo da estupidez, uma falange de patetas que, enquanto não se comportavam com agressividade, eram até tolerados. Mas não há mais como conviver com esses grupos, na medida em que se tornaram violentos, agressivos, criminosos.

Hoje, dois dias após a prometida “reindependência”, a estupidez deste escorralho pode ser medida por dois fatos: o primeiro e mais significativo deles foi o tom de resignação do discurso do “excrementíssimo”, durante reunião remota com os líderes dos BRICS (bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Depois de relinchar impropérios do mais absurdos sobre a China, o galhudo pôs o rabinho entre as pernas e elogiou o país que, agora, é um parceiro “essencial”. O segundo fato foi a prisão do tal Zé Trovão, uma espécie de aiatolá bovino, que manipulava o gado caminhoneiro à distância, do México, de onde falava grosso até ser descoberto pela Polícia Federal.

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Por falar na PF, o bolsonarismo também deu com os burros n’água, porquanto fica cada vez mais evidente e manifesto que os policiais civis, militares e até mesmo federais que, em um rompante de desvario, embarcaram na canoa furada do “mito” estão, agora, tendo que colocar os caminhoneiros para correrem. É verdade que estes últimos são de uma ingenuidade que só encontra par na própria ignorância e que esta combinação os capacita a desculparem as balas de borracha e as bombas de gás, atribuindo à repressão por parte dos policiais uma força maior, uma causa divina, uma imposição das circunstâncias. São pessoas tão toscas, tapadas, que não apenas aceitam a coerção, no próprio lombo, como a justificam como um martírio patriótico. Note, que são esses elementos que dominam as estradas, espalhando o medo nas famílias que viajam em carros de passeio, já há algum tempo.

O Brasil não pode seguir refém dos caprichos ou, simplesmente, da loucura de uma Sara “Winter” Giromini da vida, uma “ex-garota de programa, que não pode viver em sociedade”, segundo as palavras do próprio irmão, Diego. Gente desta mesma estirpe não pode se interpor à vida, se entrepor à liberdade de milhões de brasileiros, meramente porque acredita nas bravatas, nas fanfarronices, nas cascatas e nas lorotas de um anormal que, momentaneamente, ocupa a Presidência da República. Aliás, o tal Zé Trovão descobrirá, nos próximos dias, que foi, apenas e tão somente, mais um dos mentecaptos usados pelo Mussolini de Rio das Pedras em benefício próprio. Se um deputado federal, como o ex-trocador de ônibus Daniel Silveira, não consegue se desenrolar do novelo de trâmites e procedimentos, da papelocracia do Judiciário, imagine um bobão cuja maior habilitação é uma carteira de motorista da categoria “D”.

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É mais fácil um neto do Lula vencer a eleição para a Presidência, em 2038, do que o Zé Trovão ter um habeas corpus analisado no STF, até lá. Quando conseguir sair da cadeia, a esposa já vai estar no quarto casamento.

O que falta aos beócios que compõem a claque do bolsonarismo é discernimento, é ponderação para enxergarem seu papel desprezível na fenomenologia política contemporânea. Se retirassem a viseira por alguns minutos, apenas para tomar banho, por exemplo, avistariam a realidade que os cerca, reparariam que não passam de massa de manobra, de buchas de canhão, de um pelotão de indigentes intelectuais pronto para ser sacrificado. O que falta a essa escumalha, a essa escória, é a consciência de seu próprio desvalor, a compreensão de sua indignidade, o senso de que não está mergulhada no esgoto, mas o tino de que é o próprio esgoto. Porque nós, os normais, sabemos disso há muito tempo e só não o dizemos todos os dias como forma de continência, por pena, por comiseração. Mas tudo tem seu limite e a condescendência da sociedade com os subumanos, com a animália, ultrapassou o suportável.

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Se ninguém se mexer, agora, o homo sapiens será dizimado pelos neandertais.

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