Depois de vencer a eleição e tomar posse, Lula enfrenta a guerra

Brasileiros e brasileiras fizeram uma opção para reconstruir um país com economia destroçada e democracia em frangalhos. Essa decisão não pode ser questionada.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)


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As vésperas de completar 6 meses no Planalto, período que equivale a 1/8 do mandato de quatro anos conquistado em outubro de 2022, é possível reconhecer três sombras no horizonte do governo Lula:

1- Encontra-se em plena atividade uma conspiração golpista no país, que mobiliza parcelas expressivas da oficialidade militar, presente em postos de comando, cargos de confiança e posições estratégicas;

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2- Embora Bolsonaro tenha sido derrotado nos dois turnos da eleição, os militares golpistas mantiveram-se ativos para promover ataques terroristas em escala gigante, onde se destaca a invasão do palácio presidencial em 8 de janeiro, que incluiu cenas de baderna e desmoralização que marcam a derrocada de frequentes nos colapsos de governos constitucionais. A operação também feriu a autoridade do general Gonçalves Dias, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, demitido após ser flagrado em vídeos que demonstravam desorientação e impotência.

3 - Apoiado num amplo esquema de fraudes e intimidação de eleitores em regiões remotas do país, Bolsonaro ganhou 6,8 milhões de votos entre o primeiro e o segundo turno. Mas foi incapaz de superar a vantagem de Lula.

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O candidato do Partido dos Trabalhadores venceu o pleito por uma margem de 0,7% do eleitorado, uma das menores de nossa história republicana, mas suficiente para lhe garantir legitimidade presidencial conforme uma regra indiscutível aos olhos dos eleitores e também da Constituição -- vence uma eleição quem recebe maior número de votos.

Alvo de uma conspiração derrotada, Lula recolhe os louros da legitimidade democrática, valor que a maioria da sociedade brasileira aprendeu a afirmar sempre que julga necessário. Segundo o DataFolha, de lá para cá a provação de Lula subiu, enquanto a de Bolsonaro caiu.

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Considerando o tempo de mandato e a delicada tarefa de montar um governo em circunstâncias especialmente difíceis, o principal quesito que Lula possui nesta etapa de seu governo é uma imensa legitimidade. Indispensável para assumir as tarefas de governo mas insuficiente para um mandato à altura das aspirações da maioria de brasileiros e brasileiras.

Meio século atrás, em 1955, Juscelino Kubistchek tomou posse em situação comparável a de Lula. Naquele ano, JK venceu Juarez Távora por uma diferença de 466.949 votos num país com 9.097.014 eleitores, diferença que equivalia a pouco mais de 5% do eleitorado. Juscelino teve 35,6% dos votos disponíveis, contra 30,2% do adversário e ainda assim enfrentou uma articulação golpista contra sua posse, derrotada em circunstâncias dramáticas.

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Num conflito escancarado entre facções militares, o presidente constitucional recebeu apoio do marechal Henrique Lott, maior liderança militar da época, que mobilizou homens e tanques para derrotar pela força das armas um dos inúmeros golpes que marcam nossa difícil República, na qual correu o risco de iniciar uma guerra civil para preservar a democracia, iniciativa sempre delicada, com desfecho imprevisível.

Este apoio permitiu que, mesmo perseguido e ameaçado até o fim do mandato, JK fosse capaz de terminar seu governo. Num país condenado ao atraso pela coalização golpista que, dois anos antes, levara Vargas ao suicídio, o mandato de JK deu início a uma transformação gigantesca, que permitiu que um país de economia agrária se transformasse numa das maiores potências industriais do hemisfério sul.

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Juscelino utilizou a construção de Brasília como um projeto definitivo de desenvolvimento do interior brasileiro, acompanhado de investimentos que, em várias latitudes, deram origem a um parque industrial respeitável, que o empresariado local não tinha condições -- nem interesse -- de desenvolver. As semelhanças entre Lula e JK são até óbvias mas não podem ser exageradas.

No Brasil de 2023, a desagregação das instituições atingiu as próprias Forças Armadas, onde conspirações pelo twitter foram acompanhadas com espantosa naturalidade ao longo de anos, quando desde o início já deveriam ter sido investigadas como crime contra a Constituição, o Estado de Direito e a própria disciplina militar.

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A bandeira da legitimidade é um instrumento essencial para Lula em seu terceiro mandato. A experiência ensina, contudo, que está longe de ser suficiente para sustentar quatro anos de governo, com tantos inimigos à solta, dentes arreganhados para triturar qualquer impulso de mudanças que o país necessita desde sempre.

Nas urnas de 2023, brasileiros e brasileiras fizeram uma opção para reconstruir um país com a economia destroçada e a democracia em frangalhos.

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Eleito para ocupar a presidência da República depois da perseguição que incluiu 580 de prisão em Curitiba, Luiz Inácio Lula da Silva é o personagem qualificado para liderar este processo histórico, no qual o povo deve ser chamado a se mobilizar para defender um novo destino. Foi escolhido para isso e essa decisão não pode ser questionada.

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