Depois de impasses, escolhas

Um dos maiores êxitos do jogo de forças que resultou no Impeachment, que não está vindo à tona, é que a justificativa para remover a presidenta de seu cargo se fincava no racismo, machismo, homofobia, ode aos abusos corporativos jurídico-policiais e um extremo ódio social e aos políticos

Brasília - DF, 31/08/2016. Presidente Michel Temer durante sua posse no Senado Federal. Foto: Beto Barata/PR
Brasília - DF, 31/08/2016. Presidente Michel Temer durante sua posse no Senado Federal. Foto: Beto Barata/PR (Foto: Leopoldo Vieira)


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O Impeachment ou golpe foi consumado, numa votação em que a presidenta perdeu o mandato, mas não os direitos políticos.

O melhor resumo deste resultado é que os senadores a afastaram pelos impasses da condução política do governo e os resultados negativos da economia em relação ao impacto dela na popularidade da gestão.

Em outras palavras, houve uma solução política dos impasses segundo a perspectiva política da maioria dos senadores. Alguns dias depois, está claro que ninguém concorda que foi, exatamente, a melhor solução. Não exatamente pelo novo presidente, mas pelos traumas do processo.

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Seja como for, um dos maiores êxitos do jogo de forças que resultou no Impeachment, que não está vindo à tona, é que a justificativa para remover a presidenta de seu cargo se fincava no racismo, machismo, homofobia, ode aos abusos corporativos jurídico-policiais e um extremo ódio social e aos políticos que levou a Aécio Neves e Alexandre de Moraes a serem expulsos de manifestações, sem contar tentativas de invasão ao Palácio do Planalto.

Esta justificativa foi insulada e substituída por negação, dúvida ou afirmação sobre se a presidenta cometera ou não crime de responsabilidade e se possuía, efetivamente, condições políticas de reassumir o governo, além do reconhecimento de sua inspiradora biografia e desconfianças em relação ao próprios excessos das operações policiais e decisões judiciais.

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Esta tendência deve ser fortalecida. Discutir a democracia, as instituições, os rumos do País, as soluções para o impasse econômico, principalmente em relação ao emprego e condições de vida dos trabalhadores e mais pobres, e isolar a hidrofobia de extrema-direita foi e será um ganho civilizatório. Pelo menos para a centro-esquerda.

Um detalhe nisso é muito importante: a repressão às primeiras manifestações contra o Impeachment confirmado foi da Polícia Militar paulista, comandada pelo PSDB, o mesmo partido que tensionou Michel Temer e o PMDB com a decisão do Senado de preservar os direitos políticos da presidenta, com quem tem sinergia a velha mídia, e que declarou que o apoio ao novo governo é somente em virtude da agenda liberal apresentada em 2014.

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O "remake" do "revival" do namoro PMDB/PT, como o PSDB/DEM/PPS fizeram questão de denunciar a absolvição de Dilma em relação aos direitos políticos, foi o estopim do "spoiler" da crise na base do novo governo. E se sabiam do suposto acordo, denunciaram-no mal intencionados com Temer.

O partido crê ter Temer nas mãos com o voto de Mendes no Tribunal Superior Eleitoral sobre a cassação conjunta da chapa Dilma-Temer (além do apoio do mercado e o controle da grande mídia) apontado contra o PMDB.

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O PSDB foi o fiador do Impeachment com vistas não a empoderar Temer, mas para que ele cumpra o papel de bucha de canhão para o retorno tucano em 2018. Até o Impeachment, o PSDB disseminou muito bem na "sua" mídia o quanto o PMDB era, em sua narrativa, fisiológico, oportunista, regionalista, anacrônico, clientelista, assistencialista e corrupto.

A base tucana, onde se encontra os milhares das manifestações pró-Impeachment, seja por afinidades político-ideológicas, seja como chocadeira da extrema-direita, não gosta do PMDB. Faz vista grossa apenas porque foi quem representou a deposição pontual do PT.

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O PMDB é o partido que mais tem prefeituras no Brasil, sendo a maior parte de médios e pequenos municípios. Estes sobrevivem basicamente de repasses e investimentos da União e, após os 13 anos de governo do PT-PMDB, dos benefícios previdenciários e do Bolsa-Família.

Desta base advém a bancada parlamentar federal determinante, até hoje, para os governos nacionais. O PSDB sabe que terá de se esforçar muito para que o PMDB abra mão destas circunstâncias em favor de quem perdeu todas as presidenciais desde 2002.

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Assim, é essencial aumentar o percentual de entendimentos de centro-esquerda em relação aos entendimentos de centro-direita, pressionado pela extrema-direita das ruas. Melhor ainda se estes entendimentos de centro-esquerda se expandirem em níveis locais.

É a marginalização destes pólos sociais que permitirá que 2018 registre-se com todas as atuais forças e lideranças políticas, restabelecendo soluções jurídico-garantistas ao invés de soluções político-jurídicas.

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É importante apoiar a manutenção das políticas sociais e a urgência de medidas contra o desemprego. Para isso, o parlamento deve negociar os projetos do governo com vistas a isolar o DNA neoliberal tardio (pois até o Fundo Monetário Internacional recomenda rever as velhas cartilhas que encantam os tucanos), mediando alternativas para preservação das políticas sociais e direitos adquiridos, consultando a sociedade em cada caso acerca das propostas ofertadas.

Todo o processo do Impeachment também deixou explícito a necessidade da Reforma Política, uma bandeira que deve ser prioridade, e uma maneira distinta da do PSDB ao tratar as manifestações da sociedade. Não pode prevalecer a visão do PSDB de criminalizar os movimentos sociais.

No plano internacional, há reconhecimento do atual governo: Rússia e China, os mais fortes do BRICS, por exemplo. Uruguai e Chile, na América do Sul. Nem mesmo Cuba, Venezuela, Equador e Bolívia chegaram à ruptura das relações diplomáticas. Para não falar nos Estados Unidos e Argentina. Na União Européia, apenas um setor parlamentar, capitaneado pelo Podemos espanhol, levantou a questão de que a Europa não negocie o Tratado de Livre Comércio UE-Mercosul.

Mesmo com todas as versões lidas na imprensa internacional sobre a situação do Brasil, parece que os Estados-Nacionais convergiram na linha do discurso do senador Renan Calheiros, que disse, no dia do julgamento, algo assim: podemos estar errados, caberá ao povo e à história dar a palavra final. Por óbvio que a explicação pode ser bem outra: os países tendem a se estabilizar sobre seus interesses econômicos. Assim como o próprio Brasil, se houver as mediações entre os ajustes econômicos necessários e os benefícios sociais. À política, representação da sociedade e economia concentrada, cabe conduzir e fazer suas escolhas.

Mas, é certo que, ainda no plano internacional, sob a perspectiva de pensar a reconstrução de pontes entre a centro-esquerda e isolar a extrema-direita, precisa-se avançar as relações com a Internacional Socialista e o Partido Democrata americano. Este é um eixo, quando se faz governo, crucial para o Brasil enquanto Estado.

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