Depois de impasses, escolhas
Um dos maiores êxitos do jogo de forças que resultou no Impeachment, que não está vindo à tona, é que a justificativa para remover a presidenta de seu cargo se fincava no racismo, machismo, homofobia, ode aos abusos corporativos jurídico-policiais e um extremo ódio social e aos políticos

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O Impeachment ou golpe foi consumado, numa votação em que a presidenta perdeu o mandato, mas não os direitos políticos.
O melhor resumo deste resultado é que os senadores a afastaram pelos impasses da condução política do governo e os resultados negativos da economia em relação ao impacto dela na popularidade da gestão.
Em outras palavras, houve uma solução política dos impasses segundo a perspectiva política da maioria dos senadores. Alguns dias depois, está claro que ninguém concorda que foi, exatamente, a melhor solução. Não exatamente pelo novo presidente, mas pelos traumas do processo.
Seja como for, um dos maiores êxitos do jogo de forças que resultou no Impeachment, que não está vindo à tona, é que a justificativa para remover a presidenta de seu cargo se fincava no racismo, machismo, homofobia, ode aos abusos corporativos jurídico-policiais e um extremo ódio social e aos políticos que levou a Aécio Neves e Alexandre de Moraes a serem expulsos de manifestações, sem contar tentativas de invasão ao Palácio do Planalto.
Esta justificativa foi insulada e substituída por negação, dúvida ou afirmação sobre se a presidenta cometera ou não crime de responsabilidade e se possuía, efetivamente, condições políticas de reassumir o governo, além do reconhecimento de sua inspiradora biografia e desconfianças em relação ao próprios excessos das operações policiais e decisões judiciais.
Esta tendência deve ser fortalecida. Discutir a democracia, as instituições, os rumos do País, as soluções para o impasse econômico, principalmente em relação ao emprego e condições de vida dos trabalhadores e mais pobres, e isolar a hidrofobia de extrema-direita foi e será um ganho civilizatório. Pelo menos para a centro-esquerda.
Um detalhe nisso é muito importante: a repressão às primeiras manifestações contra o Impeachment confirmado foi da Polícia Militar paulista, comandada pelo PSDB, o mesmo partido que tensionou Michel Temer e o PMDB com a decisão do Senado de preservar os direitos políticos da presidenta, com quem tem sinergia a velha mídia, e que declarou que o apoio ao novo governo é somente em virtude da agenda liberal apresentada em 2014.
O "remake" do "revival" do namoro PMDB/PT, como o PSDB/DEM/PPS fizeram questão de denunciar a absolvição de Dilma em relação aos direitos políticos, foi o estopim do "spoiler" da crise na base do novo governo. E se sabiam do suposto acordo, denunciaram-no mal intencionados com Temer.
O partido crê ter Temer nas mãos com o voto de Mendes no Tribunal Superior Eleitoral sobre a cassação conjunta da chapa Dilma-Temer (além do apoio do mercado e o controle da grande mídia) apontado contra o PMDB.
O PSDB foi o fiador do Impeachment com vistas não a empoderar Temer, mas para que ele cumpra o papel de bucha de canhão para o retorno tucano em 2018. Até o Impeachment, o PSDB disseminou muito bem na "sua" mídia o quanto o PMDB era, em sua narrativa, fisiológico, oportunista, regionalista, anacrônico, clientelista, assistencialista e corrupto.
A base tucana, onde se encontra os milhares das manifestações pró-Impeachment, seja por afinidades político-ideológicas, seja como chocadeira da extrema-direita, não gosta do PMDB. Faz vista grossa apenas porque foi quem representou a deposição pontual do PT.
O PMDB é o partido que mais tem prefeituras no Brasil, sendo a maior parte de médios e pequenos municípios. Estes sobrevivem basicamente de repasses e investimentos da União e, após os 13 anos de governo do PT-PMDB, dos benefícios previdenciários e do Bolsa-Família.
Desta base advém a bancada parlamentar federal determinante, até hoje, para os governos nacionais. O PSDB sabe que terá de se esforçar muito para que o PMDB abra mão destas circunstâncias em favor de quem perdeu todas as presidenciais desde 2002.
Assim, é essencial aumentar o percentual de entendimentos de centro-esquerda em relação aos entendimentos de centro-direita, pressionado pela extrema-direita das ruas. Melhor ainda se estes entendimentos de centro-esquerda se expandirem em níveis locais.
É a marginalização destes pólos sociais que permitirá que 2018 registre-se com todas as atuais forças e lideranças políticas, restabelecendo soluções jurídico-garantistas ao invés de soluções político-jurídicas.
É importante apoiar a manutenção das políticas sociais e a urgência de medidas contra o desemprego. Para isso, o parlamento deve negociar os projetos do governo com vistas a isolar o DNA neoliberal tardio (pois até o Fundo Monetário Internacional recomenda rever as velhas cartilhas que encantam os tucanos), mediando alternativas para preservação das políticas sociais e direitos adquiridos, consultando a sociedade em cada caso acerca das propostas ofertadas.
Todo o processo do Impeachment também deixou explícito a necessidade da Reforma Política, uma bandeira que deve ser prioridade, e uma maneira distinta da do PSDB ao tratar as manifestações da sociedade. Não pode prevalecer a visão do PSDB de criminalizar os movimentos sociais.
No plano internacional, há reconhecimento do atual governo: Rússia e China, os mais fortes do BRICS, por exemplo. Uruguai e Chile, na América do Sul. Nem mesmo Cuba, Venezuela, Equador e Bolívia chegaram à ruptura das relações diplomáticas. Para não falar nos Estados Unidos e Argentina. Na União Européia, apenas um setor parlamentar, capitaneado pelo Podemos espanhol, levantou a questão de que a Europa não negocie o Tratado de Livre Comércio UE-Mercosul.
Mesmo com todas as versões lidas na imprensa internacional sobre a situação do Brasil, parece que os Estados-Nacionais convergiram na linha do discurso do senador Renan Calheiros, que disse, no dia do julgamento, algo assim: podemos estar errados, caberá ao povo e à história dar a palavra final. Por óbvio que a explicação pode ser bem outra: os países tendem a se estabilizar sobre seus interesses econômicos. Assim como o próprio Brasil, se houver as mediações entre os ajustes econômicos necessários e os benefícios sociais. À política, representação da sociedade e economia concentrada, cabe conduzir e fazer suas escolhas.
Mas, é certo que, ainda no plano internacional, sob a perspectiva de pensar a reconstrução de pontes entre a centro-esquerda e isolar a extrema-direita, precisa-se avançar as relações com a Internacional Socialista e o Partido Democrata americano. Este é um eixo, quando se faz governo, crucial para o Brasil enquanto Estado.
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