Depois de Gentili, o próximo pode ser Duvivier. Entendeu?
"Num país onde qualquer criança sabe quem controla o Estado e a Justiça, quem aplaude a condenação de um humorista execrável como Danilo Gentili pode abrir caminho para que Gregório Duvivier seja o próximo atingido pela tutela do Judiciário contra a liberdade de expressão", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "É bom não confundir as coisas: prender uma pessoa em função de ideias e opiniões é uma medida grave, concebível apenas numa ditadura"
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Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia - Num país onde não se consegue garantir o respeito pelos direitos elementares de Lula, condenado sem um fiapo de prova a 24 anos de cadeia em regime fechado, é pura estupidez bater palmas diante da condenação de um sujeito inqualificável como Danilo Gentili a seis meses de prisão em regime aberto.
Os personagens são inteiramente distintos, pelo caráter, pelo papel social e expressão política.
Mesmo assim, é preciso fazer muita força para não enxergar este fato num contexto político maior, no qual a próxima vítima pode ser Gregório Duvivier, como o próprio registrou em seu twitter, depois que Jair Bolsonaro decidiu manifestar solidariedade a Gentili.
"O@jairbolsonaro é solidário com @DaniloGentili mas o MP move processo idêntico contra mim por ofensa a ele e Moro. aguardo solidariedade".
A ironia de Duvivier é compreensível. Ao defender Gentili, Bolsonaro agradecia a quem lhe prestou o serviço de bater de forma grotesca e mesmo obscena em Maria do Rosário (PT-RS), parlamentar de garra, que nunca lhe deu trégua.
É preciso entender a paisagem, porém. Depois de ignorar garantias elementares da Constituição, como a presunção da inocência, o trânsito em julgado e tantas outras, através da condenação de Gentili o esforço de tutela da sociedade brasileira pelo Judiciário chega a um terreno ainda mais grave e perigoso, da liberdade de expressão.
Mesmo quando o alvo de ofensas inaceitáveis é Maria do Rosário (PT-RS), cujo valor pude testemunhar durante a cobertura do Congresso brasileiro, e o condenado não passa de um personagem desprezível da mídia corporativa -- anos atrás chegou a fazer piadas escandalosas sobre o Holocausto -- é preciso não confundir as coisas.
Prender uma pessoa em função de ideias, opiniões e mesmo gestos repulsivos que não preciso repetir aqui, é uma medida inaceitável. Típica de uma ditadura.
Sustentar essa decisão, no Brasil de hoje, implica em reforçar os movimentos de um rolo compressor que, atingindo o Estado Democrático de Direito, cedo ou tarde chegará a toda população.
Qualquer criança sabe quem controla o Estado, a quem a Justiça serve, e assim pode silenciar vozes de valor, insubstituíveis, como Gregório Duvivier.
O ponto é esse. Por mais que Gentili seja incomparável a Duvivier em qualquer aspecto, estamos num debate de dimensão política óbvia, onde ninguém tem o direito de perder de vista o interesse geral da sociedade.
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