Democracia e reconstrução

O ex-ministro Aloizio Mercadante ressalta que Lula e Alckmin "sabem dos riscos que a democracia está correndo. Este é o verdadeiro lastro da aliança"

Lula e Alckmin fecham acordo em São Paulo para compor chapa nas eleições de outubro.
Lula e Alckmin fecham acordo em São Paulo para compor chapa nas eleições de outubro. (Foto: REUTERS/Carla Carniel)


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Por Aloizio Mercadante

Não será só uma nova eleição. É muito mais. O país se aproxima de uma encruzilhada histórica entre a democracia e a reconstrução ou o retrocesso e o autoritarismo golpista.

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A consolidação das alianças entre PT, PCdoB, PV, PSOL, REDE, Solidariedade e PSB para as eleições presidenciais de 2022 pavimenta a construção de uma frente democrática. O que faz esses partidos, com lideranças e programas distintos, caminharem juntos são as mesmas razões que nos fizeram estar do mesmo lado na luta democrática de enfrentamento à ditadura militar.

Durante o regime de opressão, a oposição democrática, com todas as suas diferenças e divergências, se concentrava dentro do antigo MDB. E, ao longo da luta pela redemocratização, permaneceu unida no movimento das “Diretas Já” e na reconstrução do Estado Democrático de Direito.

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Nas eleições deste ano, Bolsonaro se apresenta novamente como o candidato do autoritarismo, do negacionismo, da violência, da milícia e dos valores anticivilizatórios. Está cercado por militares e por uma ala ideológica fundamentalista, que segue tensionando, testando e ameaçando a democracia.

Todos sabem que o levantamento de falsas suspeitas sobre a segurança das urnas eletrônicas, que o ataque ao Judiciário e ao Congresso Nacional, e as agressões contra a liberdade de imprensa, são parte de uma tentação golpista latente. Ele deverá aumentar a pressão para questionar o resultado das eleições.

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Nunca é demais lembrar que Bolsonaro mesmo deixou explícita essa estratégia com o desfile militar na votação da emenda que revogava as urnas eletrônicas. E, no último 7 de setembro, tentou mobilizar a tropa de choque, associada a uma tentativa explícita de paralisação dos caminhoneiros e estímulos a um levante das polícias militares. É uma manobra preparatória para uma provável derrota eleitoral e questionamento dos resultados.

Apesar de ter entregado o governo ao Centrão e ao fisiologismo, com o orçamento secreto, que é o verdadeiro fundo eleitoral de sua candidatura, Bolsonaro segue como animador de sua base social contra a democracia e contra as instituições do país. Resta evidente que o presidente segue o mesmo roteiro golpista da sua grande referência política, o ex-presidente Donald Trump, que pressionou a democracia norte-americana a ponto de culminar na invasão do Capitólio, em janeiro de 2021. Até hoje, uma parcela do eleitorado de Trump acredita que ele venceu Joe Biden.

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Essa escalada autoritária nos recoloca diante dos mesmos desafios que nos uniram no enfrentamento da ditadura. Estivemos juntos na luta contra a ditadura e precisamos voltar para uma grande frente democrática, como é o simbolismo do encontro entre Lula e Alckmin. Ambos têm desprendimento, espírito público e profunda convicção. Sabem dos riscos que a democracia está correndo. Este é o verdadeiro lastro da aliança.

Agora, precisamos avançar na construção em torno de um programa de governo, que tenha como ponto de partida o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil, com a definição de ideias-força e de propostas de impacto para a campanha.

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Reconstruir um país que está com a maior inflação dos últimos 28 anos, com a carestia e a fome se alastrando nas periferias, com recorde de endividamento e inadimplência, sem crescimento econômico e gigantesco desemprego e precarização do mundo do trabalho.  

O país vive um retrocesso sem precedente histórico no MEC e na educação. Profissionais do SUS têm que lutar contra o negacionismo e a sabotagem do governo. Ao mesmo tempo, há um esforço dos que acreditam na medicina para enfrentar a covid. Fora a cultura, completamente abandonada, e que vive agora sua maior crise. Sem falar no desmatamento e nas queimadas na Amazônia. Tudo isso gera uma onda de indignação, inclusive internacional.

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A retirada da candidatura de Sergio Moro, que representava a antipolítica, o lawfare e a perseguição judicial, facilita o distensionamento com a chamada terceira via, que segue sem perspectiva eleitoral, mas que, apesar das profundas divergências programáticas, pode ser importante em um eventual segundo turno das eleições.

A vinda de Geraldo Alckmin, que liderava as pesquisas para o governo de São Paulo, para a chapa de Lula é uma conquista importante e estratégica. Além de contribuir com a diminuição da rejeição, especialmente no interior de São Paulo, no Sul e no Sudeste, abre-se uma janela de oportunidades para mudar a correlação de forças com a eleição de Fernando Haddad, líder portador de futuro para o PT, em São Paulo.

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Todo esse esforço de construção deve ser acompanhado da organização da militância e dos comitês de luta em todo o país. Nossos militantes precisam estar orientados e preparados para os enormes desafios de uma campanha dura e polarizada. E, claro, para o enfrentamento político do bolsonarismo nas redes e nas ruas.

A democracia como valor universal é o que nos fez estar juntos no passado. E é o que nos faz voltar a caminhar novamente lado a lado. Liderados por Lula, seremos capazes de reconstruir o Brasil, enfrentar os desafios da fome, da desigualdade, do desemprego e da volta da miséria, recuperar um Estado que estimule o investimento privado e garantir o direito de todos a políticas públicas essenciais para o pleno exercício da cidadania.

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